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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 20

 

O Espiritismo e a cólera                                                                                  

                                                                            Edson Ramos de Siqueira

 

            A Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos (Revue Spirite – Journal d’ Études Psychologiques, título original francês), foi fundada por Allan Kardec, em Paris, no ano de 1858, e dirigida por ele até março de 1869, quando desencarnou. 

            Trata-se de uma preciosíssima coletânea de matérias, muito adequadas àqueles que desejam se aprofundar no estudo da Doutrina Espírita.

            Em tempos de mais uma pandemia, achei oportuno transcrever um trecho do artigo intitulado: “O Espiritismo e a Cólera”, publicado por Kardec na Revista Espírita de novembro de 1865.

            Sim; mais uma pandemia, dentre tantas outras pelas quais a Humanidade já passou ao longo de sua História, consequência das Leis Biológicas que regem essa e outras Moradas similares da Casa do Pai, com maior ou menor influência exercida por nós, enquanto Espíritos aqui reencarnados.

            Iniciarei por uma parte da carta recebida por Kardec, de um advogado de Constantinopla, na Turquia (hoje Istambul, desde 1930):

            “... Os jornais vos informaram do rigor com que o terrível flagelo acaba de assolar nossa cidade e seus arredores, posto atenuasse seus efeitos desastrosos. Algumas pessoas, que se dizem bem informadas, elevam o número de coléricos mortos a setenta mil, e outras a cerca de cem mil. A verdade é que fomos rudemente provados, e podeis imaginar as dores e o luto geral de nossas populações. É, principalmente, nestes tristes momentos dessa horrenda epidemia que a fé e a crença espíritas dão coragem; acabamos de dar a mais verídica das provas. Quem sabe se não devemos a essa calma da alma, a essa persuasão da imortalidade, a essa certeza das existências sucessivas, em que os seres são recompensados segundo seu mérito e seu grau de adiantamento; quem sabe, digo eu, se não é por essas crenças, bases de nossa bela doutrina, que nós todos, espíritas de Constantinopla que, como sabeis, somos bastante numerosos, devemos ter sido preservados do flagelo que se espalhou e ainda se espalha à nossa volta? Digo isso tanto mais quanto foi constatado, aqui e alhures, que o medo é o prenuncio mais perigoso da cólera, como a ignorância infelizmente se torna uma fonte de contágio...”    

            Assim respondeu Allan Kardec:

            Certamente seria absurdo acreditar que a fé espírita fosse um diploma de garantia contra a cólera. Mas, como está cientificamente reconhecido, o medo, ao mesmo tempo enfraquecendo o moral e o físico, torna as pessoas mais impressionáveis e mais susceptíveis de serem acometidas pelas doenças infecciosas; evidente, assim, que toda causa tendente a fortalecer o moral é um preservativo. Isto hoje é tão bem compreendido que se evita, tanto quanto possível, quer nos relatórios, quer nas disposições materiais, aquilo que possa ferir a imaginação por seu aspecto lúgubre (sinistro).

            Sem dúvida, os espíritas podem morrer de cólera, como todo o mundo, porque seu corpo não é mais imortal que o dos outros e porque, quando chegar a hora, é preciso partir, seja por esta ou por outra causa. A cólera é uma das causas que não tem como particularidade senão levar maior número de pessoas ao mesmo tempo, o que produz mais sensação. Parte-se em massa, em vez de individualmente – eis toda a diferença. Mas, a certeza que tem do futuro e, sobretudo, o conhecimento desse futuro, que corresponde a todas as aspirações e satisfaz a razão, fazem que absolutamente não lamentem a Terra, onde se consideram em exílio passageiro. Enquanto em presença da morte o incrédulo só vê o nada, ou pergunta o que vai ser de si, o espírita sabe que, se morrer, apenas será despojado de um invólucro material sujeito aos sofrimentos e às vicissitudes da vida; mas será sempre ele, com um corpo etéreo, inacessível à dor; que gozará de percepções novas e de maiores faculdades; que vai encontrar aqueles a quem amou e que o esperam no limiar da verdadeira vida, da vida imperecível. Quanto aos bens materiais, sabe que deles não mais necessitará, e que os prazeres que proporcionam serão substituídos por outros mais puros e mais invejáveis, que não deixam em seu rasto nem amarguras nem pesares. Assim, abandona-os sem dificuldade e com alegria, lamentando os que, ficando na Terra, ainda precisarão deles. É como aquele que, tornando-se rico, abandona seus trajes velhos aos infelizes. Por isso, ao deixar os amigos, lhes diz: não me lastimeis; não choreis minha morte; antes me felicitai, por estar livre das preocupações da vida e por entrar num mundo radioso, de onde vos esperarei.

            Quem quer que tenha lido e meditado nossa obra “O Céu e o Inferno segundo o Espiritismo” e, sobretudo, o capítulo sobre o temor da morte, compreenderá a força moral que os espíritas haurem em sua crença, diante do flagelo que dizima as populações.

            Segue-se daí que devam negligenciar as precauções necessárias em casos semelhantes e baixar a cabeça ante o perigo? De modo algum: tomarão todas as cautelas exigidas pela prudência e uma higiene racional, porque não são fatalistas e porque, se não temem a morte, sabem que não devem procurá-la. Ora, não levar em conta as medidas sanitárias que os podem preservar seria verdadeiro suicídio, cujas consequências conhecem muito bem para a elas se exporem. Consideram como um dever velar pela saúde do corpo, porque a saúde é necessária para a realização dos deveres sociais. Se buscam prolongar a vida corporal, não é por apego à Terra, mas para ter mais tempo para progredir, melhorar-se, depurar-se, despojar-se do velho homem e adquirir mais soma de méritos para a vida espiritual. Mas, se a despeito de todos os cuidados, devem sucumbir, tomam o seu partido sem queixa, sabendo que todo progresso traz os seus frutos, que nada do que se adquire em moralidade e em inteligência fica perdido”....

            A leitura desse pequeno trecho, do qual constam uma carta enviada a Kardec por espíritas turcos, seguida pelos comentários do organizador da Doutrina Espírita, nos leva a concluir que o Espiritismo encara com naturalidade as ações empreendidas pelas Leis Divinas que regem o Universo. A ação de qualquer agente patogênico, como o vírus que ora enfrentamos, segue as Leis Biológicas; nada há de extraordinário nisso. Se Deus criou o Universo, todas as Leis Naturais que o permeiam são Divinas.

Portanto, nos cabe aceitar, ao mesmo tempo que empreendemos todas as ações possíveis para a mitigação do mal. A responsabilidade pelos nossos destinos é exclusivamente nossa!!!

Somos Espíritos em evolução, e só se evolui através de um processo educacional holístico (integral). Este processo encerra todas as ferramentas pedagógicas, teóricas e práticas, disponíveis na Escola do Pai. Ao enfrentarmos qualquer tipo de dificuldade exercitamos a inteligência e os princípios morais. É muito simples! Por que complicamos tanto? Por que continuamos a criar tantas fantasias? Só a verdade consola!!! Procuremos estudar com mais afinco o conjunto indissociável: Ciência, Filosofia e Preceitos Morais Evangélicos, conhecido como Espiritismo; independentemente da religião que sigamos, ou mesmo que não a tenhamos.

Enquanto não compreendermos a realidade da Vida Eterna do Espírito que somos, sofreremos desnecessariamente. Mas, não nos iludamos; é muito difícil e demorada essa conscientização. Portanto, não tardemos em começar.

Essa é a nossa maneira de entender a Vida. Você tem o livre-arbítrio para tirar suas próprias conclusões. Afinal, o Espiritismo é a Doutrina do livre pensamento.