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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 58

 

 

REVISTA ESPÍRITA E REFLEXÕES SOBRE O MUTISMO

 

   

Por Sonia Hoffmann

 

 

               Muitas situações, em nosso dia a dia, nem sempre apresentam uma explicação convincente ou diagnosticada pela Medicina, Fonoaudiologia ou outra área da ciência da saúde ou educação. O Espiritismo, no entanto, com suas considerações doutrinárias, oferece a todos plenas possibilidades para o esclarecimento acerca das mais diferentes ocorrências. Também, por este motivo, a grande necessidade de não apenas ler as obras da Codificação e demais subsídios, mas igualmente proceder a um estudo atento e sistemático. Deste modo, avanços intelectuais e morais libertadores nos irão afastar cada vez mais da ignorância, crendices e das conclusões frágeis e superficiais sobre a causa deste ou daquele acontecimento.

 

               Como ilustração destas ponderações, um artigo publicado na Revista Espírita, editada por Allan Kardec em fevereiro de 1865, narra um episódio de mutismo infantil bastante interessante e que esclareceu para muitas pessoas um fato de origem até então desconhecida. Uma criança francesa de três anos, somente pronunciando 'papá' e 'mamã', fazia uso durante o dia apenas de uma linguagem de sons debilmente articulados e incompreensíveis.

 

               A mãe, depois de muitas tentativas infrutíferas para o filho melhorar sua comunicação e falar palavras mais usuais, foi despertada em uma noite pela voz da criança. Ele dormia e articulava distintamente, em voz alta e repetidamente como em exercício vocal, as letras A, B, C, D jamais ditas em suas interações. Quando despertado, o menino não conseguia dizer ou repetir estas letras, somente durante o seu sono.

 

               Kardec lança então a hipótese deste Espírito, não tendo aprendido em vigília e naquela vida o que dizia durante o sono, forçoso é que tenha aprendido em outra existência e, ainda, em uma reencarnação na qual falava francês porque sua pronúncia era neste idioma.

 

               Um Amigo Espiritual oferece, mediunicamente, como explicação para este caso a seguinte justificativa: a criança tem uma inteligência que poderá ainda ficar oculta por algum tempo devido seu sofrimento material da reencarnação, para a qual o Espírito teve muita dificuldade em se submeter e momentaneamente anulou suas faculdades. Com terna solicitude, durante seu sono do corpo físico, o guia protetor auxilia a sair desse estado pelos conselhos, encorajamento e lições, as quais não serão perdidas e se acharão vivazes quando a fase de embotamento houver passado. O Amigo Espiritual também esclarece quanto ao término deste torpor, informando que ele terá seu fim determinado por um choque violento, uma extrema emoção vivenciada pela criança.

 

               Com tal episódio, percebe-se um ensinamento bastante relevante: a possibilidade de um Espírito desencarnado dar a primeira educação para um Espírito encarnado. Evidentemente, a articulação das letras durante o sono do garoto era um efeito mediúnico, pois resultava do exercício indicado por seu Protetor. Há quem possa questionar sobre ser uma atividade mediúnica, pois esta condição significa a mediação e era a criança a usufruir desta ajuda. No entanto, não podemos esquecer o quanto a mãe ter presenciado o filho exercitando-se enquanto dormia e por ajuda de outro Espírito estava justamente demonstrando para ela a possibilidade e certeza da preocupação e colaboração prestada pela Espiritualidade nos mais diversos momentos da vida.

 

               Uma carta de dezembro de 1864, nesta mesma Revista Espírita, narra ter o menino vivenciado posteriormente um choque violento quando sua avó caiu e quase esmagou a criança. Desde esse trauma, o menino surpreende a todos e nas mais diversas situações com a pronúncia, em vigília, de frases inteiras compreensíveis.

 

               Outros esclarecimentos foram trazidos, em sessão da Sociedade Espírita Parisiense na época, confirmando e desenvolvendo o princípio desse gênero de mediunidade infantil. Após ter sido preparado pelo anjo da guarda, os laços que o unem ao corpo a fim de manifestar a sua ação terrestre começam a se estabelecerem no Espírito a reencarnar e passar novas provações para o seu melhoramento. O papel e a disposição do Espírito sobre a matéria, durante o período da infância no berço, são pouco sensíveis. Assim, os guias espirituais se desvelam em aproveitar esses instantes, quando o corpo físico não obriga a participação inteligente do Espírito, com o propósito de o preparar e o encorajar em suas boas resoluções, as quais impregnam sua alma. Nos momentos de desprendimento, o Espírito compreende e se lembra dos compromissos contraídos para o seu adiantamento moral. É então que os Espíritos protetores prestam assistência e ajudam ao reconhecimento. Adormecida, a criança sorri para aqueles que o cercam e guiam; acordada, ela ora olha fixamente, parecendo reconhecer seres amigos, ora balbucia palavras e seus gestos alegres parecem se dirigir a rostos amados. Mais tarde, esses mesmos Espíritos, durante o sono, darão para ela boas e salutares instruções e, em estado de vigília, as instruções podem acontecer por inspiração.

 

               Por esta narração, fica evidenciado o quanto, ao menos em germe, todos os homens possuem o dom da mediunidade e a infância, propriamente dita, traz uma longa série de efeitos mediúnicos.

 

               Também é possível constatar o quanto, nesta fase infantil, o sentido filosófico de inclusão e das acessibilidades acontece no constante intercâmbio de comunicações, instruções, orientações e inspirações entre Espíritos encarnados e desencarnados. Tais interações inclusivas são significativas e apropriadas às necessidades de cada um, desde que haja sinceridade nos propósitos e desejo de melhoramento. Este acontecimento afirma, igualmente, a transcendência e a grande importância do estudo sério de abordagens inclusivas nas diversas estruturas do Movimento Espírita. Por isto, precisamos agilizar cada vez mais e aprofundar o incentivo de práticas includentes e acessíveis para cada instância da instituição doutrinária em todas as atividades, seja para pessoas com ou sem deficiência. Todos temos as nossas diferenças e elas precisam ser percebidas não como defeitos, mas como possibilidades de aprendizagem e realização por vias alternativas.