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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 59


Da escuridão às estrelas; onde estamos?


Edson Ramos de Siqueira

 

 

O capítulo III de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, tem por título: “Há muitas moradas na Casa do Pai”.

Mas, na prática, o que é a Casa do Pai?

É a imensidão infinita do Universo, com suas incontáveis Moradas; dentre elas a que habitamos agora, a Terra, um pequenino planeta que gira no próprio eixo a 1.675 km/hora e que demora 365 dias e 6 horas para dar uma volta ao redor do Sol, a uma velocidade de 107.000 km/hora; Sol este que é uma estrela relativamente pequena, mas cujo volume poderia abrigar 1.300.000 planetas com o tamanho do nosso.

 Este Sol, orbitado por 8 planetas, e 6 deles por um total de 207 satélites naturais, representam um sistema da nossa galáxia Via Láctea, a qual possui mais de 200 bilhões de estrelas, também orbitadas por planetas; sendo 17 bilhões deles semelhantes à Terra, conforme estudos da Universidade de Harvard.

A Via Láctea, com diâmetro de 100.000 anos-luz e altura de 30.000 anos-luz, é apenas uma das centenas de bilhões de galáxias da Casa do Pai (100.000 anos luz significa que, se nos deslocássemos numa espaçonave fictícia que voasse a 299.792,4 km/segundo [velocidade da luz], demoraríamos 100.000 anos terrenos para atravessar nossa galáxia).

O objetivo desta apresentação suscinta de alguns poucos números referentes às impressionantes e inimagináveis dimensões do Universo, é incentivar um processo introspectivo profundo para análise dos comportamentos pouco racionais da Humanidade, incompatíveis com a figura de filhos do Criador do Universo.  

Repetimos à exaustão a palavra Deus, sem a mínima consciência de seu significado e magnitude. Vivemos encapsulados pelas ilusões materialistas, envoltos pela escuridão das imperfeições morais e por deficiências intelectuais elementares.

A busca de um pouco de conhecimento sobre a grandiosidade da infinita Casa que alberga esta Morada transitória, é uma forma de trabalhar a conscientização sobre nossa atual pequenez decorrente da inércia espiritual. Levantar a cabeça, fitar o infinito e permitir que a luz das divinas estrelas tão distantes sensibilize nossas mentes, talvez possa facilitar o despertar da essência divina presente em cada Espírito em evolução.

Não somos pequenos; estamos pequenos por mera decisão de cada indivíduo, que usa o livre-arbítrio da forma que achar que deva; caso contrário não seria livre-arbítrio.

O alvorecer da consciência requer a sensibilização empreendida pelo método educacional holístico, ou seja, que envolva o Todo. O grande pensador francês, Léon Denis, um dos ícones do Espiritismo, escreveu:

“Dia virá, em que todos os pequenos sistemas, acanhados e envelhecidos, fundir-se-ão numa vasta síntese, abrangendo todos os reinos da ideia. Ciências, filosofias, religiões, divididas hoje, reunir-se-ão na luz e será então a vida, o esplendor do Espírito, o reinado do Conhecimento”.

Transcrevi a seguir, um trecho do capítulo IV (As Harmonias do Espaço) do livro “O Grande Enigma”, autoria do mestre Léon Denis. Os leitores observarão tratar-se de uma obra de arte literária, ao mesmo tempo poética e com profundo significado pedagógico espiritual.

“O Universo é um poema sublime do qual começamos apenas a soletrar o primeiro canto. Dele aprendemos apenas algumas notas, alguns murmúrios longínquos e enfraquecidos, e já essas primeiras letras do maravilhoso alfabeto musical nos enche de entusiasmo. O que será quando, tornados mais dignos de interpretar a divina linguagem, percebermos, compreendermos as grandes harmonias do Espaço, o acorde infinito na variedade infinita, o cântico cantado por esses milhões de astros que, na diversidade prodigiosa de seus volumes e de seus movimentos, afinam suas vibrações para uma sinfonia eterna?

Mas, perguntar-se-á, essa música celeste, essa voz dos céus profundos, o que ela diz?

Essa linguagem ritmada é o Verbo por excelência, aquele pelo qual todos os mundos e os seres superiores se comunicam entre si, chamando-se através das distâncias; pelo qual nos comunicaremos um dia com as outras famílias humanas que povoam o Espaço estrelado.

É, no próprio princípio das vibrações que servem para traduzir o pensamento, a telegrafia universal, veículo da ideia em todas as regiões do Universo, através do qual as almas elevadas procedem a perpétuos intercâmbios, a efusões de Ciência, de sabedoria, e de amor, entretendo-se de um astro a outro com suas obras comuns, com objetivos a atingir, com progressos a realizar.

É ainda o hino que os mundos cantam a Deus, cada qual na sua vez, canto de alegria, adoração, lamento, prece; é a grande voz das esferas, a suprema harmonia dos seres e das coisas, o grito de amor que eternamente sobe em direção à Inteligência ordenadora dos universos.

Quando, pois, saberemos desligar nossos pensamentos das banalidades quotidianas e elevá-los em direção aos cumes? Quando saberemos penetrar nesses mistérios do céu e compreender que cada descoberta realizada, cada conquista perseguida nesse caminho de luz e de beleza, contribui para enobrecer nosso espírito, para engrandecer nossa vida moral, e nos proporciona alegrias superiores a todas aquelas da matéria?

Quando, pois, compreenderemos que é lá, nesse Universo Esplêndido, que nosso próprio destino se desenrola, e que estudá-lo é estudar o próprio meio onde somos chamados a reviver, a evoluir sem cessar, penetrando-nos cada vez mais com as harmonias que o preenchem? Que por toda a parte a vida se desabrocha em florações de almas? Que o Espaço está povoado de sociedades sem conta às quais o ser humano está ligado através das leis de sua natureza e de seu futuro?

Ah! Como são lamentáveis aqueles que desviam seus olhares desses espetáculos e seu espírito desses problemas! Pois não há estudo mais impressionante, mais emocionante, não há revelação mais elevada de Ciência e de Arte, não há lição mais sublime.

Não, o segredo de nossa felicidade, de nosso poder, de nosso futuro não está nas coisas passageiras desse mundo; está nos ensinamentos do Alto e do Além. E os educadores da humanidade são bem inconscientes ou bem culpados, que não pensam em elevar as almas para os cimos onde resplandece a verdadeira luz.

Se a dúvida e a incerteza nos sitiam, se a vida nos parece pesada, se tateamos na noite à procura do objetivo, se o pessimismo e a tristeza nos invadem, não acusemos senão a nós mesmos, pois o grande livro infinito lá está, aberto sob nossos olhos, com suas páginas magníficas no qual cada palavra é um grupo de astros, cada letra um sol, o grande livro em que devemos aprender a ler o ensinamento sublime. A verdade lá está, escrita em letras de ouro e de flama; ela chama, ela solicita nosso olhar, verdade, realidade mais bela que todas as lendas e todas as ficções.

É ela que nos fala da vida imperecível da alma, suas vidas renascentes na espiral dos mundos, as etapas inumeráveis na estrada radiosa, a perseguição do eterno bem na duração infinita, a escalada dos céus na conquista da consciência plena, a alegria de viver sempre, para sempre amar, para se elevar sempre, adquirir sempre novas potencialidades, virtudes mais elevadas, percepções mais vastas. E acima de tudo, a visão, a compreensão, a posse da Eterna Beleza, a felicidade de penetrar-lhes as leis, de associar-se mais estreitamente à obra divina e à evolução das humanidades”....

Em verdade, a Natureza é nossa grande Mestra. Porém, nesta fase evolutiva de provas e expiações a Humanidade tende a desconectar-se dela e se perde no cipoal das veredas escurecidas pelas mentes iludidas com o entorno material efêmero.

Tenhamos coragem e determinação para reagirmos e mudarmos nossas trajetórias na direção dos patamares evolutivos superiores.