François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 71
O grande Pensador Léon Denis (parte II)
Edson Ramos de Siqueira
De 6 a 13 de setembro de 1925, realizou-se em Paris o 3º
Congresso Espírita Mundial, que reuniu representantes de 24 países, tendo recebido
cobertura jornalística de 60 Jornais.
Convidado
a ser seu presidente, Léon Denis, próximo aos 80 anos de idade e com a saúde
bastante debilitada, resistiu em aceitar.
Seu profundo conhecimento, aliado à experiência acumulada
ao longo dos anos, o credenciavam sobremaneira. Conforme seu biógrafo Gaston
Luce, era Presidente de Honra da União Espírita Francesa e da Federação
Espírita do Brasil, Membro Honorário da Federação Espírita Internacional e da
União Espírita da Catalunha, ex-Presidente de Honra da Sociedade Francesa de
Estudos Psíquicos, Presidente efetivo dos Congressos anteriores, autor muitíssimo
reconhecido por suas obras magníficas e orador de elevadíssima reputação.
Aconselhado mediunicamente por seu mentor Jerônimo de
Praga, e pelo próprio Allan Kardec, ele finalmente aceitou. Sua participação
neste grande evento foi oportuna e providencial, diante de tantos
questionamentos e discussões calorosas a respeito dos mais variados conceitos
espíritas.
Em citação de Claire Baumard, na sessão do dia 11 de
setembro, o Dr. Viguier argumentou que o fato da Doutrina Espírita conter o
princípio da crença em Deus, representaria um obstáculo a se conseguir
seguidores dentre os materialistas. Assim se manifestou:
“Sou
de opinião que nossa filosofia não tem nenhuma relação com a crença; o que é
preciso é interessar as multidões pelo Espiritismo. Eu julgo que os princípios
da nossa filosofia não devem alegar nem negação nem afirmação com referência à Divindade;
isto é do domínio da fé, e é preciso deixar sobre esse ponto, a cada um dos
nossos partidários, a mais completa liberdade de crença”.
Resposta de Léon Denis:
“Nós
encaramos a questão de Deus sob um ponto de vista exclusivamente científico; a
ideia de Deus é absolutamente necessária para nossas manifestações. Existem
na França duas escolas psíquicas. Eu gostaria de dar detalhes sobre a forma de
proceder dessas duas escolas. Há os kardecistas e os metapsiquistas. Os
kardecistas creem na existência dos espíritos, da qual têm provas múltiplas,
infalíveis e sempre mais numerosas.
Por
experimentação, eles sabem que, acima desse mundo de espíritos, existe um foco
superior – não lhe dou nome – um foco de onde emanam e se propagam pelo
Infinito, correntes de forças, e é nesse foco eterno, que une todos os seres,
que os elevados espíritos obtêm as forças necessárias para se manifestarem e
produzirem fenômenos convincentes, em uma solidariedade profunda, em virtude de
leis universais. É essa autoridade benévola e protetora quem
dirige nossas sessões experimentais”.
No
encerramento do Congresso, Léon Denis foi fervorosamente aplaudido por suas
palavras finais:
“Vamos
nos separar e talvez não nos vejamos mais neste mundo, mas certamente nos
veremos no outro, e nele trabalharemos ainda para servir à causa da verdade e
para propagar, cada vez que pudermos, os raios do Sol nascente que se chama
Espiritismo.
Terminando,
invoco sobre vós as radiações da força divina a fim de que elas vos penetrem,
venham fecundar vossas almas e façam persistir em vós o devotamento, a coragem
e a abnegação que vos ajudarão a enfrentar as dificuldades da vida, a vencer o
ceticismo, o materialismo, para que propagueis a convicção que está em vossos
corações”.
Reforço
novamente a importância de conhecermos os pensamentos de Léon Denis; profundos
e, ao mesmo tempo, envoltos por praticidade e objetividade impressionantes.
Como o Espiritismo muito bem ensina, através do próprio exemplo comportamental
de Allan Kardec, Denis também tem uma mente aberta, totalmente desprovida de
preconceitos e de paradigmas ultrapassados.
Seus
pensamentos sobre as Religiões, resumidamente descritos a seguir, confirmam a
magnanimidade deste grande Mestre, ainda pouco conhecido por grande parte dos
espíritas da atualidade.
“Em
realidade, no seu princípio, no seu elevado objetivo, todas as crenças são
irmãs, elas convergem para um único centro. Da mesma maneira
que a fonte límpida e o regato murmurante vão finalmente se juntar no vasto
mar, o Bramanismo, o Budismo, o Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo, e seus
derivados, sob suas formas as mais nobres e as mais puras, poderiam se juntar
em uma ampla síntese, e suas preces, se unindo às harmonias dos mundos, se
transformariam em um hino universal de adoração e de amor!
Foi,
inspirando - me nesses sentimentos de ecletismo espiritualista, que me
aconteceu, muitas vezes, associar-me às preces de meus irmãos de diferentes
religiões. Assim, sem me ligar às fórmulas em uso nesses meios, eu pude orar
com fervor, tanto nas majestosas catedrais góticas, quanto nos templos
protestantes, nas sinagogas e mesmo nas mesquitas.
No
entanto, minha prece adquire ainda mais alcance e ardor à beira do mar, quando
ela é acalentada pelo ritmo das ondas, sobre os altos cumes, perante o panorama
das planícies e dos montes, sob a cúpula das florestas e a abóbada constelada
das noites. O templo da Natureza é o único verdadeiramente digno do Eterno”.
Observação: a parte I deste artigo
encontra-se na publicação da semana 68.