François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 119
Considerações sobre o Umbral
No meio espírita, o termo Umbral é muito conhecido e
expressa um estado de consciência pelo qual passam, transitoriamente, os
espíritos que sofrem com o resultado de sua própria construção mental. De
acordo com a sintonia vibratória, os espíritos se congregam, se reúnem e se
atraem para regiões, planos ou mundos espirituais.
Esse
termo, vamos encontrar com muita frequência nas obras de André Luiz, começando
por “Nosso Lar”. Allan Kardec não utilizou essa palavra, mas trata com
profundidade do assunto, quando dedica vários capítulos de sua obra “Céu e
Inferno”, na análise do inferno e do purgatório católicos, que, aliás, guarda
profundas diferenças com o entendimento espírita. Também outros autores tratam
do assunto, inclusive classificando esses níveis vibracionais, como, por
exemplo, o respeitado Comandante Edgard Armond, autor de mais de trinta obras
de conteúdo dos mais sérios, que falou a respeito, na obra “Desenvolvimento
Mediúnico – Mediunidade Prática”, assim como Heigorina Cunha, que, em
desdobramento de seu corpo físico, é levada para conhecer essas dimensões.
Após
sucessivas visitas a esses locais temporários de sofrimentos, com a ajuda do
espírito Lucius, publica a obra “Imagens do Além”, com desenhos de como seriam
essas regiões. Retroagindo no tempo, mais especificamente, chegando ao século
14, em Florença, na Itália, vamos encontrar um grande sensitivo, um verdadeiro
projetor astral, chamado Dante Alighieri, que, do mesmo modo que Heigorina, é
transportado para essas regiões, tanto as abissais quanto as esferas mais
elevadas que o inspiram na elaboração da famosa obra “A Comédia” que acabou,
mais tarde, se tornando “A Divina Comédia”. Claro, vivendo no período mais
intenso da inquisição e temendo ser queimado em suas fogueiras, trata do
assunto que lhe foi revelado como mera ficção do que seria o céu, inferno e o purgatório.
Como bem destaca Allan Kardec na
obra supramencionada, o Evangelho não faz nenhuma menção ao purgatório, que foi
admitido pela Igreja no ano de 593 DC, e, seguramente como ele diz, é um dogma
mais racional e mais conforme à justiça Divina do que o do inferno, não fosse
também equivocado quanto à forma de sair dessa região. Na visão espírita, no
Umbral permanecemos temporariamente e de lá saímos por nosso próprio
merecimento, quando, extenuados com os sofrimentos, erguemos a fronte para o
alto e manifestamos real arrependimento que nos levará, etapa seguinte, à
reparação.
Como
felizmente tudo se move rapidamente, destruindo dogmas e reciclando a própria
ciência, nada resistirá à verdade ou à realidade.
A morte não é o fim, há vida com toda a intensidade
que sentimos enquanto encarnados, diferindo apenas a matéria, que pode ser
moldada, também, conforme nosso estado consciencial. Daí a razão por que todos
que falam sobre o assunto, inclusive Dante, mencionam figuras disformes,
horrendas, animalizadas que se encontram nas regiões mais baixas do Umbral, mas
que, certamente recuperarão a luz que fizeram apagar pelas próprias incúrias.
No Umbral já vivemos, porque um
planeta como a Terra, de Expiações e Provas, onde o mal ainda impera, dá abrigo
a todos nós que ainda guardamos imperfeições que, somente as sucessivas
reencarnações conseguirão transformar o feio, no belo; o orgulhoso, no humilde;
o corrupto, no honesto; o egoísta, no solidário e, assim sucessivamente, com
todas as fealdades de nossa alma.
Isso não quer dizer que todos iremos
estagiar, do mesmo modo, nas mesmas regiões. A cada um, segundo as suas obras.
Por isso, os vários níveis vibracionais.
Desse modo, na condição hoje de
espíritos encarnados, tratemos de moldar e projetar aquilo que desejaremos para
nós na vida depois da morte, porque, acreditando ou não na reencarnação,
iludindo-se ou não com o céu ocioso e o arrependimento de última hora sem a
devida reparação, barganhando com Deus as nossas faltas, ainda assim, cada um de
nós receberá a justa devolução dos atos praticados.
Umbral,
Purgatório, Inferno e Céu, estados de alma que cultivamos desde já para
repercutir no amanhã. Como menciona Emmanuel, no livro “O Consolador”.
“Desencarnar é mudar de plano. Como se alguém que se transferisse de uma aldeia
para uma metrópole. Se não se encontrar preparado sofrerá muito.”