François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 123
Liberdade, Igualdade e Fraternidade
Martha
Triandafelides Capelotto
Considera-se a Revolução Francesa de 1789 o acontecimento político e
social mais espetacular e significativo da história contemporânea. Foi o maior
levante de massas até então conhecido que fez por encerrar a sociedade feudal,
abrindo caminho para a modernidade.
Liberté, Egalité, Fraternité, universalizou-se, tornando-se no
transcorrer do século seguinte, uma bandeira da humanidade inteira.
Passados mais de duzentos anos, essas três palavras ainda ressoam por
toda parte como um anseio que dormita em todos os corações, distante de estarem
implantadas e vivenciadas. E quais seriam as razões?
Inicialmente, teríamos que buscar a definição para cada uma dessas palavras.
No livro “Obras Póstumas”, de Allan Kardec, no capítulo que leva o título dessa
nossa pequena escrita, ele, com seu pensamento sempre lúcido, nos diz que “essas
três palavras constituem, por si sós, o programa de toda uma ordem social que
realizaria o mais absoluto progresso da Humanidade, se os princípios que elas
exprimem pudessem receber integral aplicação.” Porém, ressalta que vários
obstáculos se opõem e, ao lado do mal, existem remédios.
Trazendo para os dias atuais, os mesmos obstáculos sentidos por ele
naqueles tempos são os mesmos que ainda vivenciamos, corroborando a ideia de
que nossa evolução não se dá aos saltos e que precisamos de tempo para nos
modificarmos e toda uma conjectura social.
A fraternidade, na rigorosa acepção do termo, resume todos os deveres do
homem, uns para com os outros, significando devotamento, abnegação, tolerância,
benevolência, indulgência, ou, resumindo, proceder para com os outros, como
quereríamos que os outros procedessem para conosco. Desse modo, já percebemos
que para a realização da felicidade social, a fraternidade está na primeira
linha: é a base. Sem ela, não coexistem a igualdade, tampouco a liberdade
séria. A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade é consequência das
duas outras.
Sim, se hipoteticamente vivêssemos uma sociedade de homens bastante
desinteressados, bastante bons e benévolos para viverem fraternamente, sem
haver entre eles privilégios, sem direitos excepcionais, despojados do
sentimento de orgulho, que faz crer o homem ter primazias e incitar ao domínio,
a igualdade seria sentida, senão de forma absoluta, já que isso é utópico, mas,
no sentido real, de nos tratarmos como irmãos verdadeiros, os mais adiantados
ajudando os retardatários.
A liberdade, decorrente das duas condições acima, a fraternidade e a
igualdade, será sentida quando não mais temermos uns aos outros, já que,
vivendo como irmãos, ninguém pensará em abusar dela em prejuízo de seus
semelhantes. Mais uma vez podemos afirmar que o egoísmo e o orgulho são os
inimigos de sempre. A liberdade pressupõe confiança mútua. Se nos mantemos
sempre em guarda uns contra os outros, onde estará a nossa liberdade? No medo,
na desconfiança?
Embora pareça desanimador, a ideia não foi demonstrar pessimismo, pelo
contrário, podemos modificar o comportamento de toda a humanidade, começando
por nós mesmos, nos colocando nas primeiras fiadas, trabalhando incessantemente
para extirpar dos nossos próprios corações o vírus do orgulho e do egoísmo,
pois neles residem a causa de todo o mal.
A Lei do Progresso acompanha-nos e nos acompanhará por toda a eternidade.
Já fomos piores e seremos muito melhores.
O que podemos fazer hoje é buscarmos valores superiores que envolvem a
ética, a moralidade e a espiritualização e, em assim agindo, estaremos contribuindo
para uma humanidade mais fraterna, mais igual e mais livre.