François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 191
A lei de evolução
Edson Ramos de Siqueira
Nós, seres
humanos, não somos doentes; mas, estamos doentes. Embriagados pelo materialismo
exacerbado, nosso vazio existencial tende a se expandir e,
consequentemente, sobretudo diante das dores atrozes, sempre formulamos a
clássica pergunta: qual é o sentido da vida? Por que e para que
existimos?
A resposta
demanda um aprofundamento nas questões inerentes ao Espírito eterno,
fato que facilitará nossa libertação, de forma lenta e gradativa, do
materialismo que nos aprisiona.
A
literatura espírita representa importante ferramenta facilitadora das transformações
interiores tão necessárias.
Léon
Denis, um dos autores clássicos de obras tão esclarecedoras, lançou, em 1908,
“O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, onde abordou, esplendidamente, como
lhe é peculiar, a questão que intitula este artigo.
A seguir,
transcrevi um trecho dos pensamentos do grande filósofo espírita, escrito há
mais de um século.
“Um tempo se acaba; novos
tempos se anunciam. A hora em que estamos é uma hora de transição e de parto
doloroso. As formas esgotadas do passado empalidecem-se e se desfazem para dar
lugar a outras, a princípio vagas e confusas, mas que se precisam cada vez
mais. Nelas se esboça o pensamento crescente da Humanidade.
O Espírito humano está em
trabalho, por toda parte, sob a aparente decomposição das ideias e dos
princípios; por toda parte, na Ciência, na Arte, na Filosofia e até no seio das
religiões, o observador atento pode verificar que uma lenta e laboriosa
gestação se produz. A Ciência, essa sobretudo, lança em profusão sementes de
ricas promessas. O século que começa será o das potentes eclosões.
As formas e as concepções do
passado, dizíamos, já não são suficientes. Por mais respeitável que pareça essa
herança, compreende-se que esse ensinamento não foi suficiente para dissipar o
mistério sufocante do porquê da vida.
Pode-se, entretanto, em nossa
época, viver e agir com mais intensidade do que nunca; mas, pode-se viver e
agir plenamente, sem se ter consciência do fim a atingir? O estado d’alma
contemporâneo pede, reclama uma ciência, uma arte, uma religião de luz e de liberdade,
que venham dissipar-lhe as dúvidas, libertá-lo das velhas servidões e das
misérias do pensamento, guiá-lo para horizontes radiosos a que se sente levado
pela própria natureza e pelo impulso de forças irresistíveis.
Fala-se muito de progresso;
mas que se entende por progresso? É uma palavra vazia e sonora na boca de
oradores, pela maior parte materialistas, ou tem um sentido determinado? Vinte
civilizações têm passado pela Terra, iluminando com seus alvores (claridade)
a marcha da Humanidade. Seus grandes focos brilharam nas noites dos séculos;
depois extinguiram-se. E o homem não discerne ainda, atrás dos horizontes
limitados de seu pensamento, o além sem limites aonde o leva o destino. Impotente
para dissipar o mistério que o cerca, estraga suas forças nas obras da Terra e foge
aos esplendores de sua tarefa espiritual, tarefa que fará sua verdadeira
grandeza.
A fé no progresso não caminha
sem a fé no futuro, no futuro de cada um e de todos. Os homens não progridem e
não se adiantam, senão crendo no futuro e marchando com confiança, com certeza
para o ideal entrevisto (previsto, enxergado).
O progresso não consiste
somente nas obras materiais, na criação de máquinas poderosas e de toda a
ferramenta industrial; do mesmo modo, não consiste em descobrir processos novos
de Arte, de Literatura, ou formas de eloquência. Seu mais alto objetivo é
empolgar, atingir a ideia primordial, a ideia-mãe que há de fecundar toda a
vida humana, a fonte elevada e pura de onde hão de dimanar conjuntamente as verdades,
os princípios e os sentimentos que inspirarão as obras de peso e as nobres
ações.
É
tempo de o compreender: a civilização não se pode engrandecer, a sociedade não
pode subir, se um pensamento cada vez mais elevado, se uma luz mais viva
não vierem inspirar, esclarecer os Espíritos e tocar os corações,
renovando-os. Somente a ideia é mãe da ação. Somente a vontade de realizar a
plenitude do ser, cada vez melhor, cada vez maior, nos pode conduzir aos
cimos longínquos em que a Ciência, a Arte, toda a obra humana, numa palavra,
achará sua expansão, sua regeneração.
Tudo
no-lo diz: o Universo é regido pela lei de evolução; é isso o que
entendemos pela palavra progresso. E nós, em nosso princípio de vida, em
nossa alma, em nossa consciência, estamos para sempre submetidos a essa lei.
Não se pode desconhecer, hoje, essa força, essa lei soberana; ela conduz a alma
e suas obras, através do infinito do tempo e do espaço, a um fim cada vez mais
elevado; mas, essa lei não é realizável senão por nossos esforços.
Para
fazer obra útil, para cooperar na evolução geral e recolher todos os
seus frutos, é preciso, antes de tudo, aprender a discernir, a reconhecer a
razão, a causa e o fim dessa evolução, saber aonde ela conduz, a fim de
participar, na plenitude das forças e das faculdades que dormitam em nós,
dessa ascensão grandiosa.
Nosso
dever é traçar a trajetória à Humanidade futura, de que fazemos ainda parte
integrante, como no-lo ensinam a comunhão das almas, a revelação dos
grandes Instrutores invisíveis e como a Natureza o ensina também
por suas milhares de vozes, pelo renovamento perpétuo de todas as coisas,
àqueles que a sabem estudar e compreender.
Vamos,
pois, para o futuro, para a vida sempre renascente, pela via imensa que nos
abre um Espiritualismo regenerado!
Fé
do passado, ciências, filosofias, religiões, iluminai-vos com uma chama nova;
sacudi vossos velhos sudários e as cinzas que o cobrem. Escutai as vozes
reveladoras do Plano Espiritual; elas nos trazem uma renovação do pensamento
com os segredos do Além, que o homem tem necessidade de conhecer para melhor
viver, melhor agir e melhor morrer!