François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 245
FALANDO DE OBSESSÃO – (Parte 8)
Alfredo Zavatte
O ser humano é aquilo que ele pensa e o que permite que
pensem por ele.
Apesar da heroica atitude da Princesa Izabel, que,
através da Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888, declarou extinta a
escravidão no Brasil, ainda viça entre os homens a ganância e o desejo do poder,
que mantêm muitos irmãos ainda presos pelas amarras da escravidão.
A liberdade humana sempre foi uma constante preocupação, em
virtude da imposição do trabalho indigno, do enriquecimento ilícito,
da exploração, principalmente, dos que vivem à margem da sociedade.
Essa tendência de subjugar os socialmente vulneráveis
pode acontecer em todos os setores da humanidade planetária. A vulnerabilidade
social decorre de um conjunto de fatores que afeta negativamente o bem-estar
das pessoas e as expõe ao risco. Ou seja, a escravidão ainda não foi
completamente extinta, mesmo que velada e imperceptível aos olhos dos incautos:
A escravidão da exploração do trabalho dos menos
favorecidos.
A escravidão do “voto de cabresto”.
A escravidão de tantos que se tornam dependentes e
subjugados pela crueldade de indivíduos e/ou sistemas perversos.
A escravidão do medo.
A escravidão dos excessos de euforia.
A escravidão da alienação.
A escravidão dos vícios.
A escravidão do sexo.
A escravidão do dinheiro.
A escravidão da máquina.
A escravidão das preocupações.
A escravidão das próprias emoções.
A escravidão das prisões sem grades, de quem se encontra no
leito de dor.
A escravidão das mentes enfermiças que enclausuram os seres
humanos a pensamentos nocivos, levando-os a doenças das mais variadas. E tantas
outras formas de escravidão....
A mente humana é, ao mesmo tempo, brilhante e condenatória:
ora bem utilizada por grandes gênios que usam seus conhecimentos para o bem da humanidade,
ora mal utilizada pelos que preferem o ócio ao trabalho edificante, que não conseguem
perceber as necessidades dos semelhantes. Outros ainda se mantêm
enclausurados, por força de suas próprias desarmonias mentais.
Frases que fazem com que a mente humana fixe a necessidade
da liberdade: “Liberté, égalité, fraternité (liberdade,
igualdade, fraternidade)”, que foi o lema da Revolução Francesa.
Ou como o sonho dos inconfidentes para marcar a bandeira da
República que idealizaram, na Capitania de Minas Gerais – “Libertas quae
sera tamen (Liberdade ainda que tardia)”.
Dentre o turbilhão das incertezas, uma pergunta que não
quer calar:
Haveria no homem alguma coisa que escape a todo
constrangimento e pela qual goze ele de absoluta liberdade?
Quando pensamos em Napoleão Bonaparte, por exemplo, a
guerra nos vem à mente, e ela sempre esteve aliada ao poder e ao domínio sobre
os mais fracos.
Quando analisamos o ideal dos Inconfidentes, a palavra que
nos vem à mente é confronto de ideias...
Em verdade, cada ser humano trava a sua guerra interior;
mas devemos, com muita vontade, vencê-la, se quisermos nos tornar um ser
humano melhor.
Somos especialistas em construir o auto confronto íntimo,
psíquico, sem que percebamos; deixando, consequentemente, de trabalhar mentalmente
pela superação.
São as guerras disfarçadas pelos sorrisos
dissimulados, as imagens mentais perturbadoras, angustiantes, que tornam as
pessoas desgostosas da vida; que não vivem, sobrevivem. Mantêm-se assombradas
pelos próprios pensamentos, numa completa alienação, envoltas por nuvens
tempestuosas. Não raciocinam, mas deixam-se influenciar por pensamentos alheios,
mesmo que desprovidos de coerência e da própria verdade. É dessa forma que
a obsessão vai, aos poucos, tomando conta de cada ser. Da obsessão simples,
à grave fascinação; desta, à gravíssima subjugação. É a guerra sutil
desencadeada pelo psiquismo humano.
Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec nos ensina: “É
no pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites, porque não conhece
entraves. Pode-se deter-lhe o voo, mas não aniquilá-lo” (1).
Sob a ótica espiritual, se analisarmos tantas situações
indesejáveis pelas quais os seres humanos passam, encontraremos respaldo
nessa frase de Kardec, escrita em O Evangelho segundo o Espiritismo: “O
Espírito anseia pela liberdade, porém, jungido ao corpo que lhe serve de
prisão, cai no desânimo; inerte pelos seus próprios grilhões psíquicos, tem seu
voo frustrado, cai na decepção” (2). É dessa forma que damos
aval às interferências espirituais negativas efetuadas por inimigos do passado,
e as sombras da obsessão passam a fazer morada nas mentes enfermiças.
É ela, a obsessão, a escravização temporária ou
não dos pensamentos, imantados àqueles com os quais tivemos graves conflitos em
encarnações pretéritas.
Allan Kardec perguntou aos Espíritos da codificação: “Poderá
dar-se que o Espírito protetor abandone seu protegido, por se lhe mostrar
rebelde aos conselhos?”
Resposta: “Afasta-se quando vê que seus conselhos são
inúteis e que mais forte é, no seu protegido, a decisão de submeter-se à
influência dos Espíritos inferiores. Mas, não o abandona completamente e sempre
se faz ouvir. É então, o homem quem tapa os ouvidos. O protetor volta, desde
que este o chame” ....( 3)
Pelo pensamento nos libertamos ou nos escravizamos. De
maneira geral, nessa fase evolutiva espiritual em que a humanidade de encontra,
ainda não sabemos usar o potencial inimaginável do pensamento. Urge que
voltemos as atenções para o real aprendizado do amor. É ele, o único e
infalível remédio para todos os males que acometem os seres humanos. O despertar
da consciência é o caminho para a redenção.
A própria Ciência já concluiu que somos exatamente aquilo que pensamos.
A evolução não dá saltos, e somente com o passar do
tempo o raciocínio humano nos permitirá compreender as mais altas finalidades
do Espírito eterno que somos. Habituados a manipular os próprios pensamentos
para fazê-los servir nossos interesses egóicos, distorcemos, há milênios, as
mensagens purificadoras do modelo de perfeição - Jesus.
A passos lentos, a criatura humana vem descobrindo suas
ilimitadas potencialidades, onde cada ser é um universo expansível pelos
pensamentos e pelos sentimentos, atributos esses que vieram dos tempos remotos
e que caminharão com ele pela eternidade.
O Espiritismo trouxe, de certa forma, ensinamentos
fundamentais para a libertação do pensamento e a consequente expansão da consciência,
que até então eram desconhecidos.
Afirmamos que, na realidade, a obsessão é a escravização
temporária da mente, que é o voo do pensamento desregrado pelos vícios. O
homem dos tempos modernos, que se orgulha de suas conquistas, arranja mil
desculpas para tornar-se escravo e prisioneiro de si mesmo, e também de outros
seres que ainda ignoram os benefícios do amor, estejam eles encarnados ou
desencarnados.
Busquemos nos ensinamentos do Peregrino da Galileia a
fórmula para a libertação espiritual: “Eu sou o caminho, a verdade e
a vida, ninguém irá ao Pai, senão por mim”. (4)
Paz ao seu Espírito.
REFERÊNCIAS
1- Kardec, Allan. O Livro dos
Espíritos. Editora FEB- Edição 45ª - Questão 833.
2- Kardec, Allan. O Evangelho
Segundo o Espiritismo- Editora FEB- Edição 1974- Cap V:25.
3- Kardec, Allan. O Livro dos
Espíritos. Editora Feb- Edição 45ª – Questão 495.
4- João. 14:6.