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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 248



O BRINCAR INCLUSIVO - IMPORTÂNCIA E NECESSIDADE



 Sonia Hoffmann



O brincar é a linguagem e a atividade mais espontaneamente inclusiva da criança, ultrapassando diferenças, culturas, crenças e condição social, antes dela se tornar contaminada pelos preconceitos e barreiras nela incutidos, muitas vezes, pelos adultos, ou de nela se aflorarem deturpações que permaneceram de outras encarnações.


A introdução de brincadeiras é algo extremamente importante e necessário nas diferentes etapas infantis. Apesar de muitas pessoas conceberem a brincadeira, o brincar, o jogo, como algo destituído da concepção de trabalho, é nesta ação lúdica (livre ou dirigida, individual ou coletiva) que o ser trabalha suas potencialidades, na identificação da dinâmica e funcionamento do seu mundo interno e externo. Portanto, a diversidade de formas da ludicidade tornam-se estratégias pedagógicas e psicológicas de imenso valor e contributo para a constituição da cidadania e qualificação do ser com mais leveza, segurança, interatividade, socialização, autonomia, independência e entendimento dos próprios limites a partir do (re)conhecimento de suas aptidões e habilidades motoras, intelectuais, emocionais e mesmo morais.


Quando a criança, em qualquer idade, brinca, ela tem a oportunidade de "tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si, aos outros e o mundo, de repetir ações prazerosas, de partilhar, expressar sua individualidade e identidade por meio de diferentes linguagens, de usar o corpo, os sentidos, os movimentos, de solucionar problemas e criar. Ao brincar, a criança experimenta o poder de explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura, para compreendê-lo e expressá-lo por meio de variadas linguagens" (Kishimoto, 2010).


Entretanto, a escolha, o incentivo ou a proposta do brincar deve respeitar princípios fundamentais como: a possibilidade do ser, o significado construtivo, a utilidade formativa e informativa, os aspectos afetivamente saudáveis e, fundamentalmente, priorizar ações e brinquedos inclusivos.


Sua importância inclusiva apresenta forte conexão com a cultura da infância e a própria constituição da personalidade, por ser a brincadeira uma significativa ferramenta para a criança se expressar, aprender e se desenvolver, respeitando as diferenças de qualquer natureza.


Quando damos um brinquedo, isto significa dizer para a criança que acreditamos ser ela capaz de o explorar e dar a ele o uso mais adequado possível. Ou seja, “é atestado de confiança na sua capacidade. Equivocamo-nos quando desejamos que nosso filho brinque do jeito que se espera. Afinal, a sua criatividade é que determinará a melhor maneira de utilizar o que lhe estamos oferecendo”. [...] “Na mesma linha de pensamento, interpretar com leviandade a brincadeira dos pequenos é desconsiderar lhe a importância” (Brincar..., 2024).


Conforme Camargo e Marinho (2015), não há uma 'receita' para o brincar ser inclusivo e sim existem premissas: “Respeitar o tempo de cada um; Respeitar o conhecimento de cada pessoa; Combinar com os participantes a melhor forma de tornar a brincadeira inclusiva” (p.7). 


A instituição espírita, especialmente na Evangelização de bebês e infantil, pode associar os preceitos cristãos e aqueles trazidos pelo Espiritismo às atividades lúdicas inclusivas, não somente para quem apresenta alguma deficiência/diferença, mas para que outras crianças comecem a entender a possibilidade existente no brincar inclusivo e, de alguma maneira auxiliar a si próprios, muitos familiares ou colegas de escola a tornarem o convívio pela brincadeira mais enriquecido, fraterno e solidário.


André Luiz (1988), no livro Conduta Espírita, assinala orientações bastante importantes perante a criança, como: ver no coração infantil o esboço da geração próxima, procurando ampará-lo em todas as direções; melhorar métodos e ampliar tarefas; colaborar decididamente na recuperação das crianças desajustadas e enfermas; eximir-se de oferecer à criança presentes capazes de incentivar lhe qualquer atitude agressiva ou belicosa, tanto em brinquedos quanto em publicações.


Algumas sugestões de um brincar inclusivo são: oferecer brincadeiras que rompam preconceitos e barreiras; não permitir manifestações discriminatórias de qualquer natureza; mostrar possibilidades existentes na deficiência/diferença, oportunizando brincadeiras com diferentes ritmos, posturas, manuseios, regras e dinâmicas; propor a cada participante identificar suas próprias diferenças, facilidades e dificuldades; possibilitar o conhecimento de outras formas de comunicação (como Libras, Sistema Braille, pranchas de comunicação, mímicas...); impulsionar atividades cooperativas; diversificar brincadeiras sensoriais e expressões artísticas; oportunizar o (auto)conhecimento das habilidades e dificuldades na identificação e expressão de sentimentos; explorar, em conjunto, as múltiplas inteligências contidas no grupo e na sociedade; incentivar a vivência de diferentes jogos e maneiras de deslocamento.


Um universo de possibilidades de brincadeiras inclusivas existem, basta usar a criatividade, pesquisar fontes informativas responsáveis, desenvolver percepção atenta sobre diferenças no próprio grupo e na sociedade, buscar amparo na Tecnologia Assistiva e, especialmente, colocar em prática a recomendação de Camargo e Marinho (2015), ampliando a consideração oferecida para todas as crianças: “Se você quer que seu filho cresça um adulto que compreenda e respeite as diferenças dos outros, deixe-o brincar livremente com crianças que não sejam iguais a ele. Juntas, elas conseguirão adaptar as brincadeiras para a realidade e possibilidade de cada um” (p.9).


Salienta-se, entretanto, que o brincar e o brinquedo não diz respeito somente à criança. Todos, em qualquer idade, gostam e necessitam do momento lúdico para sua diversão, reduzir o estresse, estimular a interação, propor uma nova maneira de conduzir os momentos de confraternização, entre outros motivos.


Referências


BRINQUEDO é coisa séria. Momento Espírita, Curitiba. v. 11, 2024. Disponível em: https://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1565&let=&stat=0#:~:text=Dar%20um%20brinquedo%20significa%20dizer,do%20jeito%20que%20se%20espera. Acesso em: 18 ago. 2024. 


CAMARGO Patrícia; MARINHO Patrícia. Tempo junto: 100 ideias de brincadeiras em qualquer situação. 2015. E-book.


KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Brinquedos e brincadeiras na educação infantil. In: SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO - PERSPECTIVAS ATUAIS, 1., 2010, Belo Horizonte. Anais [...]. Belo Horizonte, 2010.


LUIZ, André (Espírito). Conduta espírita. Psicografado por Francisco C. Xavier e Waldo Vieira. Rio de Janeiro: FEB, 1988. Cap. 21 Perante a criança.