GABRIEL DELANNE

Semana 256

  Conforme Allan Kardec, “somente a Educação, mais do que a instrução, poderá transformar a Humanidade”. Ao observar, imparcialmente e sem julgamento, o comportamento dos seres humanos, verifica-se profundas deficiências ético-morais. Repleta de líderes negativos, massas da sociedade planetária, nos mais diversos campos, são alienadas pelos métodos de fascinação coletiva, cada vez mais eficazes em face do uso criminoso e indiscriminado das maravilhosas ferramentas da tecnologia da informação. Caminha-se, de maneira geral, na contramão dos ensinamentos superiores, cuja essência é o Amor. A aceleração dos avanços tecnológicos não é acompanhada pela evolução moral, desde os mais remotos tempos. 

Os problemas do mundo? Deus resolverá! 

Tudo aquilo que couber a nós executarmos, Ele não solucionará; o nosso livre-arbítrio é soberano; o que cabe a Ele, já está resolvido. Precisamos nos desfazer das ilusões que nos mantêm estagnados há muitas encarnações. O despertar da consciência é o grande desafio para todos os humanos. 

Entretanto, como não existem milagres, o único instrumento da evolução espiritual é a Educação Integral, não apenas a instrução que obtemos nas escolas clássicas, tradicionais. Como quereríamos que a Humanidade soubesse aquilo que não nos é ensinado?

Para ilustrar, de forma simples e prática, os efeitos positivos da Educação Integral sobre a transformação dos Espíritos, segue a transcrição de um episódio ocorrido com Allan Kardec, citado na obra: “Allan Kardec em revista”, autoria de Maroísa Baio. Trata-se do testemunho de um presidiário a Kardec. Enquanto na prisão, conheceu o Espiritismo por intermédio de um senhor que o visitava frequentemente. A seguir, o conteúdo da carta enviada pelo presidiário ao organizador da Doutrina Espírita:

“Senhor, tive a felicidade de ler, de estudar algumas de vossas excelentes obras tratando do Espiritismo; e o efeito desta leitura foi tal sobre o meu ser, que julgo dever com isso tomar-vos a atenção; mas, para que possais bem compreender, penso necessário vos dar a conhecer as circunstâncias em que me acho. Tenho a infelicidade de ter sido condenado a seis anos de reclusão, justa consequência de minha conduta passada. [...] Há apenas um mês eu me julgava perdido. Por que hoje penso ao contrário e por que a esperança brilha em meu coração? Não será porque o Espiritismo, desvendando-me a sublimidade de suas máximas, fez me compreender que os bens terrenos nada são? Que a felicidade só existe realmente para os que praticam as virtudes ensinadas por Jesus Cristo, virtudes que nos aproximam de Deus, nosso pai comum? [...] Porque posso esperar renascer de alguma sorte, e, deste ponto de vista, preparar minha alma para uma vida melhor pela prática das virtudes e do meu amor a Deus e ao próximo? Não sei se são bem estas as verdadeiras causas da mudança que em mim se operou; o que sei é que em todo o meu ser se passa algo que não posso definir... E a quem deverei render graças por esta feliz metamorfose que de um homem mau terá feito um amante da virtude? Inicialmente a Deus... Assim, senhor, permiti que vo-lo diga: esta carta tem por objetivo assinalar toda a minha gratidão”.

Conforme Maroísa Baio, esse depoimento e outros similares causaram grande emoção em Allan Kardec. Em vista disso, ele se dirigiu aos espíritas com essas palavras:

“Eis desses milagres de que vos deveis orgulhar, que todos podeis operar e pelos quais não necessitais de nenhuma faculdade excepcional, porque basta o desejo de fazer o bem. Se o Espiritismo tem tal poder sobre as almas manchadas, o que não se deve esperar para a regeneração da Humanidade quando ele se tiver convertido em crença comum e cada um o empregar na sua esfera de ação? Vós todos que atirais a pedra contra o Espiritismo e dizeis que ele enche as casas de alienados, dai, pois, em seu lugar, algo que produza mais do que ele. Pelo fruto se conhece a árvore e tratai de os produzir melhores. Então, sereis seguidos. Ainda alguns anos e vereis muitos outros prodígios: não sinais no céu, para ferir os olhos, como pediam os fariseus, mas prodígios nos corações dos seres humanos, dos quais o maior será fechar a boca dos detratores e abrir os olhos aos cegos, pois é preciso que se realizem as predições do Cristo, e elas todas realizar-se-ão”.

Em última análise, o objetivo central do processo educacional holístico (integral) é despertar as consciências, espiritualmente adormecidas, para uma questão essencial: priorizar o “ser” ao “ter”; aspecto que vem ao encontro de uma afirmação chave de Allan Kardec: “O Espiritismo não veio, senão, destruir o materialismo”, que se coaduna perfeitamente com o pensamento do padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881 – 1955): “Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual; somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”. 

O relato do presidiário a respeito do significativo efeito dos conhecimentos espíritas em seu despertar consciencial, confirma o poder imensurável da Educação Integral na evolução do Espírito. Somente ela poderá transformar a humanidade, já que os milagres fazem parte do conjunto de ilusões que nos caracterizam como Espíritos em provas e expiações e retarda a ascensão aos patamares superiores da escala evolutiva.