François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 285
Observação: para melhor compreensão deste artigo, leia as publicações 278 e 281.
A resposta à questão 597, de O Livro dos Espíritos, foi objetiva quanto à existência, nos outros animais, de um princípio independente da matéria; cujo significado é que eles são Espíritos também. Na questão 606 da mesma obra, Allan Kardec perguntou aos Espíritos da Codificação:
“Onde os animais tomam o princípio inteligente que constitui a espécie particular de alma de que são dotados?”
Eis a resposta: “No elemento inteligente universal”.
Elemento inteligente universal é Deus. Deduz-se, então, que todos nós, integrantes do Reino Animal, somos irmãos, pois tivemos a mesma origem. As diferenças entre todas as espécies animais e entre indivíduos dentro de cada espécie, dizem respeito ao grau de evolução espiritual. A origem de um espírito seria uma ínfima centelha do Princípio Inteligente Universal a individualizar-se. Metaforicamente, é a semente de Deus pronta para germinar e iniciar sua trajetória evolutiva ao longo de muitos milhões de anos, rumo à perfeição.
Quando refletimos sobre esse tema é importante que não levemos em consideração as formas dos corpos físicos das distintas espécies animais, pois são compostos pela matéria efêmera. Foquemos os Espíritos eternos que temporariamente animam estes corpos.
Em estudos etológicos (comportamentais) observa-se que a linha mestra do comportamento animal é a mesma para todas as espécies, realidade que vem ao encontro dos conceitos anteriormente comentados. O que muda entre espécies e entre indivíduos dentro de cada uma delas é o grau de elaboração de cada evento comportamental que, obviamente, se aperfeiçoa à medida que o ser se eleva na escala evolutiva espiritual.
Para ilustrar essa questão, transcrevi um trecho da obra A Reencarnação, escrita por Gabriel Delanne.
“Os numerosos estudos consagrados às faculdades animais estabelecem que neles se nota, “sob o ponto de vista intelectual”: a atenção, o julgamento, a memória, a imaginação, a abstração, o raciocínio; uma linguagem de ação e uma linguagem vocal.
Os “sentimentos passionais” se afirmam pelo amor conjugal, pelo amor materno, por vezes, pelo amor ao próximo, a simpatia, o ódio, o desejo de vingança.
Os “sentimentos morais”, muito pouco desenvolvidos, podem ser observados nas manifestações do justo e do injusto, e pelo remorso.
Enfim, os “sentimentos sociais” se verificam entre os que vivem em grupos, por efeito de serviços mútuos, de solidariedade e mesmo de verdadeira fraternidade”.
Na sequência dessas palavras, Gabriel Delanne escreveu um trecho de uma obra do religioso Agassiz, cujo conteúdo complementa suas considerações.
“Quando os animais se batem, quando se associam para um fim comum; quando se advertem do perigo; quando vão em socorro um do outro; quando mostram tristeza e alegria, manifestam movimentos da mesma natureza daqueles que se inscrevem entre os atributos morais do ser humano. A graduação das faculdades morais nos animais superiores e no homem é de tal forma imperceptível que, para negar aos animais certo senso de responsabilidade e de consciência, é preciso exagerar desmesuradamente a diferença que há entre o homem e eles”.
O eminente cientista inglês, Charles Darwin (1809 – 1882), assim se manifestou a respeito dos outros animais: “Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais, nas suas faculdades mentais. Os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento. Portanto, a compaixão para com eles é a das mais belas virtudes do homem”.
Essa afirmação de Darwin foi corroborada por Irvênia Prada, Professora aposentada da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo, escritora e palestrante espírita: “Eles pensam, raciocinam para resolver seus problemas, sabem montar estratégias de comportamento; o que nos leva a crer que são seres sencientes. Cai a subjugação, entram a cooperação, o entendimento, o respeito a tudo e a todos. Portanto, os animais são nossos irmãos”.
O italiano Ernesto Bozzano (1862 – 1943), espírita, professor de Filosofia da Ciência da Universidade de Turim e um dos ícones do Espiritismo científico questionou: “Há alguma coisa de anticientífico em se supor que a evolução biológica das espécies, ilustrada pela Ciência, seja regulada por uma evolução correspondente e paralela do espírito? Insisto neste ponto: que a escala infinita dos seres vivos só pode ser a expressão da alma nas suas etapas progressivas de elevação espiritual”.
Em 2012, o neurocientista canadense, Philip Low, pesquisador da Universidade de Stanford e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), anunciou os resultados de um projeto de pesquisa de elevada relevância. Uma das conclusões desse estudo vem ao encontro da essência deste artigo: “Sabemos que todos os mamíferos, todos os pássaros e muitas outras criaturas, possuem as estruturas nervosas que produzem a consciência. Agora, temos um grupo de neurocientistas respeitados que estudam o fenômeno da consciência, o comportamento dos animais, a rede neural, a anatomia e a genética do cérebro. Não é mais possível dizer que não sabíamos”.
Observe que desde a publicação de O Livro dos Espíritos por Allan Kardec, em 1857, até os resultados obtidos por Philip Low e equipe, em pesquisa sobre o sistema nervoso de várias espécies animais, 155 anos se passaram. No que tanja às questões espirituais de todos os animais, não se verificou divergências entre os autores citados neste artigo.
Diante disso, pode-se concluir que a trajetória evolutiva do Espírito, desde sua origem até a perfeição, abarca o reino Animal na íntegra.
Conforme Cairbar Schutel, “todas as almas têm a mesma origem. O homem atravessou a escala zoológica para chegar a ser homem”.