François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 53
Vaidade: um dos entraves da evolução
Edson Ramos de Siqueira
Como é difícil evoluir espiritualmente!!!
A maior causa da dificuldade recai sobre a displicência
em nos aprofundarmos na compreensão da realidade da Vida Espiritual, quer
estejamos encarnados ou não.
A matéria densa, que caracteriza o Plano em que nos
encontramos agora, entorpece o sexto sentido e nos mantem com elevado grau de
ilusões, cuja consequência é a recorrente imobilidade evolutiva.
Por
outro lado, as informações espirituais ora disponíveis são suficientes para que
houvesse, por parte da Humanidade, uma visão mais realística do significado e
objetivos da Vida do Espírito (afinal, somos Espíritos, e não corpos físicos).
Maria
Modesto Cravo (1899 – 1964), pioneira do Espiritismo em Uberaba, e fundadora do
Sanatório Espírita desta cidade, afirmou:
“Apesar
da luz dos conhecimentos espíritas, o tesouro espiritual das informações não
tem sido suficiente para despertar muitos adeptos para uma nova ordem de
atitudes e ideias, em face dos desafios da hora presente...”.
Em
face do desconhecimento generalizado a respeito das fases de nossa existência
eterna, ou seja, renascemos na carne e, após um período, voltamos à nossa
condição real no Plano Espiritual, somos remetidos a uma das maiores ilusões da
sociedade humana, que é a morte. A incompreensão dos princípios deste processo
inexorável tem por consequência o mais profundo sofrimento experimentado pelos
humanos. Para a maioria, a morte representa o fim. Mas não é!!! Se não
entendemos isso, como traçar objetivos e ações evolutivas espirituais que,
obvia e necessariamente, não se restringem ao período de Vida do Espírito
enquanto em estágio num corpo físico?
“Não
existe nascimento e nem morte; esses conceitos foram criados e são mantidos
pelas Religiões que não lidam com a Reencarnação. Esses aparentes limites
existem para a ilusão da nossa Personalidade Inferior; enquanto que para a
nossa Essência é apenas a chegada e a saída daqui.
A
chegada, plena de esperanças, planos e projetos, e a saída, frequentemente,
repleta de frustrações e fracassos. A não crença na Reencarnação é um dos
principais fatores a dificultar a evolução do ser humano, no sentido de sua
libertação do imediatismo, do egoísmo, do materialismo; frutos da consequente
tendência de viver apenas o hoje, essa vida, sem uma visão histórica do antes e
do depois, sem uma perspectiva mais ampla” (Mauro Kwitko,
psicoterapeuta reencarnacionista e escritor).
Portanto,
conhecer os mecanismos da Vida é, sem dúvida, o grande estímulo para
trabalharmos com mais afinco o aperfeiçoamento moral.
O
título deste artigo tem a vaidade como palavra-chave, flagelo moral com elevada
prevalência no meio Humano. A reversão mais acelerada de nossa ignorância
espiritual requer que, além do estudo, conheçamos as experiências de Espíritos
que já vivenciaram a realidade moral deste Plano material, e que, através do
processo mediúnico, nos privilegiam com a transmissão de suas sensações após a
desencarnação e volta ao Plano Espiritual.
Um
testemunho bastante elucidativo sobre nossa ilusão acerca da vaidade, está
inserido no capítulo II de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan
Kardec, carinhosamente transmitido pela via mediúnica, no ano de 1863, em
Havre, França, por um Espírito que fora Rainha em sua última encarnação.
“Quem melhor do que eu pode compreender a verdade
destas palavras de Nosso Senhor: “O meu reino não é deste mundo”? O orgulho me
perdeu sobre a Terra. Quem, pois, compreenderia o nenhum valor dos reinos da
Terra, se eu o não compreendia? Que trouxe eu comigo da minha realeza terrena?
Nada, absolutamente nada. E, como para tornar a lição mais terrível, ela nem
sequer me acompanhou até o túmulo! Rainha eu fui entre os homens, como rainha
julguei que penetrasse no reino dos céus! Que desilusão! Que humilhação,
quando, em vez de ser recebida como soberana, tive de ver acima de mim, mas
muito acima, homens que eu julgava insignificantes e aos quais desprezava, por
não terem sangue nobre! Oh! só então compreendi a esterilidade das honras e
grandezas que com tanta avidez buscamos na Terra!
Para se preparar um lugar neste reino, são
necessárias a abnegação, a humildade, a caridade em toda a sua celeste prática,
a benevolência para com todos. Não se vos pergunta o que fostes, nem que
posição ocupastes, mas o bem que fizestes, quantas lágrimas enxugastes.
Oh, Jesus! Disseste que teu reino não era deste
mundo, porque é preciso sofrer para chegar ao céu, e os degraus de um trono não
levam até lá. São os caminhos mais penosos da vida os que conduzem a ele.
Procurai, pois, o caminho, através dos espinhos e abrolhos (formações rochosas na superfície da água, que
dificultam a navegação), não por entre as flores!
Correm os homens por alcançar os bens terrenos,
como se os pudessem guardar para sempre. Mas aqui não há ilusões, e logo se
apercebem eles de que conquistaram apenas sombras, desprezando os únicos bens
reais e duradouros, os únicos que aproveitariam na morada celeste e que lhes
poderiam abrir as portas dessa morada.
Compadecei-vos dos que não ganharam o reino dos
céus; ajudai-os com as vossas preces, porque a prece aproxima o homem do Altíssimo;
é o traço de união entre o céu e a Terra. Não o esqueçais!”
Creio que todos nós achamos maravilhoso este sincero
depoimento de uma ex-rainha da França. Mas, não basta admirar a beleza das
palavras ou a profundidade das experiências. É preciso que trabalhemos
mentalmente o aprimoramento moral, pois senão, quando voltarmos ao Plano
Espiritual, talvez sejamos nós a transmitir aos encarnados sensações
semelhantes às desta rainha, independentemente da posição social que tenhamos
ocupado enquanto encarnados. Ou seja, temos acesso aos conhecimentos, mas,
dificilmente interiorizamos.