François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 64
Mediunidade em pessoas com deficiência
Por Sonia Hoffmann
Os
diversos aspectos da mediunidade são esclarecidos ao longo da Codificação
Espírita através de instruções quanto ao perfil, atribuições, consequências e
implicações envolventes no mediunato, independentemente de questão racial,
social, religiosa, cultural, ordem moral e a pessoa possuir ou não deficiência
de qualquer natureza.
A
Revista Espírita, publicada em março de 1864 e editada por Allan Kardec,
apresenta artigo com o título “Um Médium Pintor Cego” e é bastante
interessante, tratando sobre assunto digno de ocupação pelos estudiosos do
Espiritismo por trazer referência sobre a atividade mediúnica ser possível em
alguém com deficiência sensorial. O escrito traz uma narrativa a respeito de
jovem religiosa cega, vivendo em um convento, que desenhava e pintava aquarelas
de grande qualidade.
Com a
revelação prévia sobre a existência do perispírito, registrada em diversas
obras espíritas, há plenas condições de entendimento deste fenômeno, e de
tantos outros, sem necessidade de alguém atribuir a isto qualificação como
sobrenatural ou bizarro.
O
Livro dos Espíritos, comentário de Kardec para a questão 93, apresenta o
perispírito como uma substância que serve de envoltório ao Espírito
propriamente dito. É esclarecido, na questão 94 desta obra, que o Espírito tira
a substância para este invólucro semimaterial do fluido universal de cada
globo, razão pela qual não é idêntico em todos os mundos.
A
Gênese, outra obra organizada por Allan Kardec, apresenta a formação e algumas
propriedades deste invólucro ou corpo fluídico dos Espíritos como um dos mais
importantes produtos do fluido cósmico: é a condensação desse fluido em torno
do foco de inteligência ou alma. O envoltório perispirítico se modifica com o
progresso moral realizado pelo Espírito em cada encarnação, embora encarnando
no mesmo meio.
O
Espírito atua sobre os fluidos espirituais empregando o pensamento e a vontade.
Pelo pensamento, ele imprime aos fluídos a direção desejada, os aglomerando,
combinando ou dispersando-os e organizando com eles conjuntos com aparência,
forma ou coloração determinadas, bem como mudam-lhes as propriedades e
combinando-os segundo certas leis.
O
Espírito encarnado conserva o seu perispírito, o qual, não fica circunscrito
pelo corpo, mas se irradia ao seu derredor e o envolve como em uma atmosfera
fluídica com uma união íntima com o corpo, desempenhando preponderante papel no
organismo. Pela sua expansão, coloca o Espírito encarnado em relação mais
direta com os demais Espíritos. É nas propriedades e nas irradiações do fluido
perispirítico que devemos procurar a causa da vista espiritual ou vista
psíquica, da qual muitas pessoas são dotadas. Como órgão sensitivo do Espírito,
o perispírito possibilita a percepção de coisas espirituais que escapam aos
sentidos corpóreos. Os órgãos físicos como a visão, a audição e as diversas
sensações são localizadas e limitadas à percepção das coisas materiais, mas
pelo sentido espiritual ou psíquico, elas se generalizam e o Espírito vê, ouve
e sente por todo o seu ser tudo o que se encontra na esfera de irradiação do
seu fluido perispirítico. Pelo sentido psíquico, ele não vê com os olhos do
corpo, embora por hábito muitas vezes dirija o olhar para o ponto que lhe chama
a atenção. Assim. Vê com os olhos da alma, vendo perfeitamente bem com os olhos
fechados e o que está muito além do alcance do raio visual.
Deste
modo, como está descrito no artigo da Revista Espírita, a jovem cega via pela
alma e não pelos olhos do corpo físico:
"É
pelo perispírito que a alma age, percebe e transmite. Desprendida do envoltório
corporal, a alma ou Espírito ainda é um ser complexo. Ensina-nos a teoria, de
acordo com a experiência, que a visão da alma, assim como todas as outras
percepções, é um atributo do ser inteiro. No corpo é circunscrita ao órgão da
visão, sendo-lhe preciso o concurso da luz; tudo quanto se acha no trajeto do
raio luminoso o intercepta. Não é assim com o Espírito, para o qual não há
obscuridade nem corpos opacos." (KARDEC,1864, p.104)
Com
referência à psicografia, para Luiz Antônio Millecco Filho, é uma das
faculdades mais difíceis de ser exercida pela pessoa cega congênita (embora
seja possível), pois a grande maioria daquelas que reencarnam cegas não
aprendem ou não estão habituadas à escrita com o uso do lápis ou da caneta,
desconhecendo inclusive os movimentos necessários para o registro ou desenho da
letra. Assim, é compreensível que os Espíritos comunicantes busquem outro
médium com tal facilidade e não apresente determinados condicionamentos
impressos em suas células cerebrais. No entanto, com o avanço tecnológico,
temos o conhecimento de recentemente médiuns com cegueira relatarem o exercício
em psicografia com o uso de computador portátil com aplicativo de voz,
falando-se então em psicodigitação.
Informações
mais detalhadas são obtidas quando Hilário, no livro Nos Domínios da
Mediunidade, pergunta ao instrutor Aulus se a clarividência e a clariaudiência estão localizadas
exclusivamente nos olhos e nos ouvidos da criatura reencarnada. A resposta é
esclarecedora: "Os olhos e os ouvidos materiais estão para a vidência e
para a audição como os óculos estão para os olhos e o ampliador de sons para os
ouvidos - simples aparelhos de complementação. Toda percepção é mental. Surdos
e cegos, na experiência física, convenientemente educados, podem ouvir e ver,
através de recursos diferentes daqueles que são vulgarmente utilizados. A onda
hertziana e os raios X vão ensinando aos homens que há som e luz muito além das
acanhadas fronteiras vibratórias em que eles se agitam, e o médium é sempre
alguém dotado de possibilidades neuropsíquicas especiais que lhe estendem o
horizonte dos sentidos." (ANDRÉ LUIZ, 1955, p. 101).
Ou
seja, embora alguém use os ouvidos e os olhos, vemos e ouvimos com o cérebro.
Apesar do cérebro utilizar as células do córtex para selecionar os sons e
imprimir as imagens, na realidade quem vê e ouve é a mente. Todos os sentidos
na instância fisiológica pertencem à alma, os fixando no corpo carnal de acordo
com os princípios estabelecidos para a evolução dos Espíritos que reencarnam na
Terra.
Logo,
não é possível vetar ou não considerar como possível a participação de alguém
com deficiência na atividade mediúnica. Preciso é sempre o estudo e a
viabilização de condições favoráveis ao desenvolvimento dos devidos talentos e
habilidades trazidas pelo Espírito, o qual encontra-se nas mais variadas
condições, pois os recursos e as possibilidades ultrapassam certos
conhecimentos momentâneos e todos estamos reencarnados para nossa evolução
moral e intelectual.