François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 66
A Visão Espírita do Aborto
Martha Triandafelides
Capelotto
A questão da legalização do aborto, que tanto tem preenchido os espaços
na mídia, assim como discutida em vários segmentos da sociedade, merece que
façamos algumas considerações, para mais uma vez, demonstrar o posicionamento da
Doutrina Espírita em relação ao tema.
Primeiramente, importa dizer que as leis humanas, assim como boa parte do
pensamento de nossa humanidade, não obedecem aos imperativos de ordem espiritual,
faltando, ainda muito, para que tenhamos um comportamento mais adequado e
responsável uns diante dos outros.
Ignorar os preceitos espirituais ou taxá-los à conta de assuntos sem
relevância diante das necessidades do mundo, é ignorar por completo que não
somos apenas matéria. Assim, vista a questão sob a ótica material e espiritual,
as coisas tomam outra conotação.
Em o Livro dos Espíritos, na questão 344, quando Kardec indaga aos
Espíritos Superiores em que momento a alma se une ao corpo, eles respondem que
a união começa na concepção, mas não se completa senão no momento do
nascimento. Essa ideia não é diferente de muitos profissionais da área médica,
que também afirmam ser o momento da concepção o início da vida. Assim, se já
temos aí um princípio de vida, mesmo que ainda em formação, inconcebível a
prática do aborto.
De outro modo, uma única exceção na qual admite-se seja praticado o
aborto, recai na hipótese de a mãe correr perigo de vida. Nesse caso,
prefere-se a mãe em detrimento do feto ou da criança, posição coincidente com a
legislação penal. Nem mesmo quando a gravidez for decorrente de estupro é
aceita a justificativa para o ato abortivo. Sabemos que não há “acasos”,
tampouco “injustiças” em nossas vidas. Tudo o que passamos, mesmo nos parecendo
cruel e terrível, é sempre efeito da lei de ação e reação, por isso, importante o
entendimento e aceitação da lei da reencarnação, única capaz de explicar tudo o
que nos parece absurdo ou injusto.
Então, o que poderíamos
fazer para evitar que essa prática, tão contrária às Leis Divinas tenha o seu
curso alastrado? Penso que uma educação pautada em princípios espirituais,
iniciando-se no lar a conscientização de valores que vão além dos materiais,
mais o conhecimento das consequências espirituais que ocorrerão com aquela que
aborta e todos os que induzem ou auxiliam na prática abortiva. Para a Justiça
Divina todos os envolvidos no ato criminoso sofrerão as suas consequências
sombrias, imediatas ou a longo prazo, de acordo com o seu grau de
culpabilidade.
Os espíritos abortados
são almas vinculadas aos nossos compromissos cármicos, muitos deles, antigos
companheiros de aventuras infelizes e que no mundo espiritual prometem socorro,
reedificando a esperança de elevação e resgate, burilamento e melhoria. Porém,
se anestesiamos a consciência, já instalados na Terra e os descartamos de nossa
companhia, não poderemos prever as reações negativas.
Sejam quais forem as
justificativas para a prática do aborto que vão desde o recuo dos pais
terrestres diante das sagradas obrigações assumidas, excessos de leviandade,
inconsciência criminosa das mães menos preparadas, motivos egoísticos que podem
ser diversos, tais como problemas financeiros, vaidade etc., as consequências
advirão.
O assunto é complexo,
principalmente porque, para discutí-lo adequadamente sob a visão espírita,
seria necessário abordar outros temas e princípios inseridos na Doutrina. De
toda sorte, que fique registrado que, qualquer que seja o método utilizado para
provocar o aborto, sempre as consequências serão as piores, tanto físicas como
espirituais. Dentre elas, podemos citar as predisposições a alterações
significativas do centro genésico, em seu perispírito, com consequências atuais
e posteriores que poderão desencadear o aborto espontâneo, a prenhez tubária,
deslocamento prematuro da placenta, a esterilidade, a impotência etc., sem
contar as consequências espirituais, tais como as obsessões, lesões no campo
perispiritual, depressões que podem, dependendo do grau de culpa, levar à
loucura.
Recentemente aprovado o
aborto na Argentina, causou espanto saber que a autoridade máxima do
catolicismo se quedou inerte, sem nenhum pronunciamento. O que será que temos
por trás disso? Muito triste saber que até no meio religioso o combate ao
aborto tem sido ineficaz.
Em assim sendo, não nos
esqueçamos de que hoje estamos plantando o que colheremos no futuro, numa
próxima reencarnação. Quando houver choro e ranger de dentes, não culpem Deus
pelas mazelas que estiverem enfrentando.