François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 111
Crianças com aids
também adolescem e clamam por inclusão!
Por Sonia Hoffmann
A presença da infecção
pelo HIV e o provável desenvolvimento para a AIDS é uma realidade brasileira a
ser considerada, por mais informações circulantes quanto a prevenção e aos
cuidados necessários.
Como alguém pode
permanecer assintomático durante anos desde a entrada do vírus HIV no
organismo, manifestando-se quando uma patologia se apresenta ou quando ocorre a
necessidade de exames específicos, muitas mulheres são somente diagnosticadas
na sua gravidez. Mesmo o bebê recebendo a medicação adequada no momento do
parto, e a mãe, com o vírus, sendo alertada para não proceder por ela o
aleitamento materno, atualmente o índice de infecção infantil ainda é
considerado bastante elevado.
Além das questões
orgânicas e dos paraefeitos da medicação, a criança precisa então conviver, ao
longo do seu desenvolvimento, com as mais diversas expressões de preconceito,
constrangimento, penalizações e discriminação velada ou ostensiva pelos
adultos.
Como se isso não
bastasse, outras crianças que com ela compartilham algum espaço aprendem com
estes adultos, inoculados com o vírus do medo e do desconhecimento, o vício de
dela afastarem-se ou não aprofundarem algum relacionamento com o menino ou a
menina infectados.
A evolução natural é,
para as crianças sindrômicas ou não, a passagem da infância para a puberdade e
adolescência. Todas crescem e, infelizmente, também os desentendimentos,
mágoas, desrespeito, possível revolta, abandono, distanciamentos e consequente
exclusão, seguem em frente em vertiginosa aceleração para aquela com o
comprometimento viral.
Enquanto para muitos,
os sonhos da adolescência são acolhidos com alegrias, para alguém infectado
esta etapa pode se tornar um verdadeiro pesadelo. Esta fase efervescente para
muitos, na qual o sentimento de pertencimento a um grupo social, a sexualidade,
o namoro, o encaminhamento acadêmico e profissional são cogitações, desafios e
acontecimentos marcantes, adquirem para o adolescente vivendo com HIV/AIDS um
peso exacerbado que pode conduzi-lo à marginalização, ao estado depressivo e
até mesmo ao suicídio, quando este jovem não obtém acolhimento, cooperação e
orientação adequados.
Joanna de Ângelis, em
seu livro “Encontro com a Paz e a Saúde”, assinala o quanto é inegável que a
sequela de enfermidades infectocontagiosas (como tuberculose, sífilis, AIDS,
sexualmente transmissíveis) podem levar alguém, de débil constituição
emocional, ao mergulho no pensamento esquizofrênico, decorrente do constante
sofrimento experimentado, da falta de esperança do surgimento da cura, da rejeição
social, da solidão e isolamento a que se entrega, refugiando-se então na
alienação.
Obviamente, como
menciona Joanna de Ângelis no livro “Dias Gloriosos”, páginas 58 e 59, "Graças
às quase infinitas possibilidades de penetração nas organizações moleculares
através dos microscópios eletrônicos e dos estudos acurados dos genes, os
cientistas empenham-se em bem definir as ocorrências da vida física e mental,
descobrindo como surgem os fenômenos biológicos, a aparência humana e os seus
detalhes, desde a sua configuração até a cor dos olhos, dos cabelos, examinando
as estruturas íntimas do DNA e estabelecendo normas para corrigir algumas das
anomalias que se apresentem." Como ela refere, o desconhecimento dos
mecanismos superiores da vida, por parte dos pesquisadores, "leva
alguns a sonhos fantásticos, pelo menos para o momento, tais o de evitar
futuras enfermidades degenerativas como o câncer, a AIDS, trabalhando nos
códigos genéticos que tragam deficiências propiciatórias ao surgimento ou à instalação
dessas doenças." E prossegue Joanna: "o corpo, sob qualquer
condição que se expresse, é resultado da conduta anterior do Espírito, que
programa as suas necessidades na forma, a fim de crescer e evoluir,
transformando conflitos em paz, débitos em créditos, mazelas em esperanças."
Como, porém,
desenvolver e conquistar a paz quando pessoas negam o acolhimento, o
esclarecimento, a orientação amorosa, segura e fraterna, deixando que estes
jovens lidem por si com seus conflitos existenciais sem a bússola da
evangelização, sentindo-se excluídos?
Neste sentido, é
importante (auto)avaliar-se quanto ao trabalhador do Centro Espírita estar
preparado para, desafetada e fraternalmente, acolher, consolar, apoiar esta
criança e o jovem, sem qualquer julgamento quanto à causa geradora desta
situação reencarnatória. Infelizmente, muitos deixam de frequentar a
instituição Espírita porque para alguns pais e familiares é lançada de forma
insensível e lacônica a célebre expressão "é uma expiação", quando na
verdade o mais sensato é dizer "é uma oportunidade de melhoramento
evolutivo para todos nós".
Parece algo
despropositado o destaque deste tema, entretanto, muitas atitudes decorrentes
do desconhecimento desencadearam melindres, imprudências, cobranças e
expectativas inconvenientes e até maldosas. Além disto, o evangelizador precisa
compreender e saber como proceder quando comportamentos, insinuações,
posicionamentos hostis, invasivos, negligentes, superprotetores ou vitimizantes
ocorram por via de outros companheiros e jovens.
Embora haja consciência
quanto à "fora da caridade não há salvação", e seja incentivado o
sede perfeitos e a formação do homem de bem, é sempre relevante ter em mente
que todos os Espíritos encarnados no planeta Terra e mesmo frequentadores de
locais onde o Espiritismo é divulgado e estudado, podem apresentar alguma
(re)ação desagradável, mesmo porque os participantes são oriundos de uma
sociedade não acostumada e nem sempre alinhada com a proposta filosófica e
cristã de inclusão.
Talvez alguém indague
qual a relação de uma criança/jovem, vivendo com HIV/AIDS, com o processo
inclusivo e as acessibilidades. Neste sentido, convém (re)lembrar a pertinência
da alusão, pois a legislação e este direito de ser incluído não se refere
somente a quem tenha uma deficiência: abrange todos vivenciando temporária ou
permanentemente alguma diferença, sentindo-se ou realmente estando excluídos.
Por esta razão,
enfatizamos a necessidade dos integrantes do Departamento de Infância e Juventude
das Instituições Espíritas pensarem que este tema deve ser discutido e
assimilado com instruções eficientes, possibilidades eficazes, estratégias
alternativas e includentes. Neste aspecto, o item 4 do capítulo XI de O
Evangelho Segundo O Espiritismo, "Amar o próximo como a si mesmo",
será constantemente guia imprescindível, pois esta é a expressão mais completa
da caridade e resume todos os deveres do homem para com o próximo.
Todos precisamos, com
urgência, repensar nosso comportamento, adotar atitudes mais respeitosas ao
sigilo, à privacidade ou à divulgação de adversidades e nos tornarmos mais
responsavelmente acolhedores e colaboradores, não só na teoria, mas
principalmente na prática de habilidades atitudinalmente includentes.