François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 115
O Espiritismo e a Ciência – parte VI
Edson Ramos de Siqueira
Diante das
grandes catástrofes que assolam nosso Planeta, como terremotos, tsunamis,
secas, inundações, epidemias, pandemias, etc, uma importante fração dos seres
humanos tem a tendência de as atribuir, simplesmente, ao castigo ou à vontade
de Deus. Esta crença é, sobretudo, proveniente das interpretações dogmáticas oriundas
das religiões tradicionais.
Em função
dessa nossa característica de geradores de crenças sem embasamento racional, continuamos
a desconhecer os princípios mais elementares da realidade da Vida dos Espíritos,
nesta infinita Casa do Pai denominada Universo; mesmo passados 200.000 anos desde
o surgimento de nossa espécie (Homo sapiens) na África Ocidental.
Para que
tenhamos uma referência facilitadora desta reflexão, vejamos três momentos de
início de importantes transições na História da Humanidade: revolução
cognitiva, há 70.000 anos; revolução agrícola, há 12.000 anos e revolução
científica, há apenas 500 anos.
Conforme
Yuval Noah Harari, em sua obra “Uma breve história da Humanidade”, a revolução
cognitiva caracterizou-se pelo surgimento da linguagem ficcional, pelo começo
da História e pela disseminação do Homo sapiens a partir da África.
Consequentemente, teve início, a partir de então, com intenso uso da imaginação,
o processo de gênese das crenças transcendentais, que estão além do
conhecimento concreto; fato que ocorre até os dias atuais.
Muitos
paradigmas da esfera religiosa somente serão mudados com os resultados oriundos
da pesquisa científica. Vários já o foram ao longo do tempo, como o
geocentrismo, por exemplo, imposto pela Igreja Católica do passado.
O Espiritismo surgiu com um objetivo central
muito claro: juntar num corpo de doutrina os preceitos morais (Evangelho),
científicos e filosóficos, única forma de conhecermos as verdades
holisticamente e acelerarmos a evolução espiritual; única razão de estarmos
reencarnados nesta Morada do Pai.
Na Revista
Espírita de outubro de 1868, Allan Kardec escreveu um artigo intitulado:
“Influência dos planetas nas perturbações do globo terrestre”, no qual ressalta
que todos os acontecimentos observados no Universo, desde o marco zero, são
regidos por Leis Naturais criadas por Deus; portanto imutáveis.
Na
ocasião, Kardec recebera uma carta do médico colombiano Ignácio Pereira,
espírita, pela qual relatara que em seu país observava-se importantes
alterações climáticas, concomitantemente a um significativo aumento da
incidência de doenças em plantas, epidemias, epizootias, inundações, furacões,
terremotos, etc. Soubera ele, que a aproximação de cometas poderia causar estes
tipos de alterações em nosso planeta.
Resolveu
então perguntar ao Espírito de seu irmão, Jenaro Pereira, que limitou-se a
responder que não é um cometa que age, mas sim o planeta Júpiter que, de 40 em
40 anos, está à distância mais próxima da Terra. O dr. Ignácio fez uma pesquisa
na literatura de 40 anos antes e constatou que realmente houvera as mesmas
alterações climáticas e elevação do número de catástrofes.
Preocupado,
o médico resolveu enviar uma carta à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas,
na expectativa de receber informações que pudessem confirmar a hipótese.
Allan Kardec
levou a questão à reunião mediúnica da Sociedade, e obteve uma longa resposta
do Espírito Dominique François Jean Arago, da qual transcreverei alguns trechos.
Enquanto encarnado na França, Arago fora físico, matemático e astrônomo.
“Na
Natureza não há um fenômeno, por pouco importante que seja, que não seja
regulado pelo exercício das Leis Universais que regem a Criação... .
Não
há um fenômeno que não esteja submetido a uma lei de periodicidade, ou de
série, que provoca o seu retorno em certas épocas, nas mesmas condições, ou
seguindo uma lei de progressão geométrica crescente ou decrescente, mas
contínua... .
Cada
corpo celeste, além das leis simples que presidem a divisão dos dias e das
noites, das estações, etc., sofrem revoluções que demandam milhares de séculos
para a sua perfeita realização... .
Lembrai-vos
do que disse Galileu Galilei, em seus estudos uranográficos (astronômicos),
que tivestes a feliz ideia de intercalar no vosso “A Gênese”, sobre o tempo,
o espaço e a sucessão indefinida dos mundos, e compreendereis que a vida de uma
ou de várias gerações, em relação ao conjunto, é como uma gota d’água no
oceano. Não vos admireis, pois, de não poder perceber a harmonia das leis
gerais que regem o Universo; o que quer que façais, não podeis ver mais que
um pequeno canto do quadro, razão por que tantas coisas vos parecem anomalias.
Num
mesmo sistema planetário, todos os corpos que dele dependem reagem uns sobre os
outros; todas as influências físicas aí são solidárias, e não há um só dos
efeitos, que designais sob o nome de grandes perturbações, que não seja a
consequência da componente das influências de todo esse sistema. Júpiter tem
suas revoluções periódicas, como todos os outros planetas, e essas
revoluções não deixam de ter influência sobre as modificações das condições
físicas terrestres; mas seria erro considerá-las como a causa única ou
preponderante dessas modificações. Elas intervêm por uma parte, como as de
todos os planetas do sistema, como os próprios movimentos terrestres intervêm
para contribuir com as modificações dos mundos circunvizinhos. Vou mais longe:
digo que os sistemas reagem uns sobre os outros, em razão da aproximação ou do
afastamento que resulta de seu movimento de translação através das miríades (da
infinidade) de sistemas que compõem nossa galáxia. Vou mais longe ainda:
digo que nossa galáxia, que é como um arquipélago na imensidade, tendo também o
seu movimento de translação através de miríades de galáxias, sofre a influência
daquelas de que se aproxima. Assim, as galáxias reagem sobre as galáxias, os
sistemas reagem sobre os sistemas (o solar é um exemplo de sistema),
como os planetas reagem uns sobre os outros, e assim gradualmente (sucessivamente),
até o átomo. Daí, em cada mundo, as revoluções locais ou gerais, que só parecem
perturbações porque a brevidade da vida não permite ver senão os seus efeitos
parciais.
A
matéria orgânica não poderia escapar a essas influências; as perturbações que
ela sofre podem, então, alterar o estado físico dos seres vivos e determinar
algumas doenças que atacam de maneira geral as plantas, os animais e os homens.
Como todos os flagelos, essas doenças são para a inteligência humana um
estimulante que as impele, por necessidade, à procura dos meios de as combater,
e à descoberta das Leis da Natureza.
Mas,
por sua vez, a matéria orgânica reage sobre o espírito; este, por seu contato e
sua ligação intima com os elementos materiais, também sofre influências que modificam
suas disposições, sem, contudo, lhe tirar o livre-arbítrio, superexcitam ou
retardam a sua atividade e, por isto mesmo, contribuem para o seu
desenvolvimento. A efervescência, que por vezes se manifesta em toda uma
população, entre os homens de uma mesma raça, não é uma coisa fortuita, nem o
resultado de um capricho; tem sua causa nas Leis da Natureza. Essa
efervescência, a princípio inconsciente, que não passa de um vago desejo, uma
aspiração indefinida por algo de melhor, uma necessidade de mudança, traduz-se
por uma agitação surda, depois por atos que levam às revoluções morais, as
quais, crede-o bem, também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas,
porque tudo se encadeia. Se a visão espiritual não fosse circunscrita pelo
véu material, veríeis essas correntes fluídicas que, semelhantes a milhares de
fios condutores, ligam as coisas do mundo espiritual e do mundo material.
Direi,
em particular ao sr. Ignácio Pereira: estamos longe de vos aconselhar a
renúncia dos estudos que fazem parte de vossa futura bagagem intelectual; mas
compreendeis, sem dúvida, que esses conhecimentos devem ser, como todos os
outros, o fruto de vossos trabalhos, e não o de nossas revelações (este
trabalho cabe à Ciência). Podemos dizer-vos: Estais perdidos, mas vós mesmos
podeis eleger o verdadeiro caminho, cabendo a vós a iniciativa de levantar os
véus em que ainda estão envolvidas as manifestações naturais que, até aqui,
escaparam às vossas investigações, e descobrir as leis pela observação dos
fatos. Observai, analisai, classificai, comparai, e da correlação dos fatos
fazei as vossas deduções, mas não vos apresseis em concluir de modo absoluto.
Terminarei
dizendo-vos: Em todas as vossas pesquisas tomai exemplo nas Leis Naturais,
pois elas são todas solidárias entre si; e é esta solidariedade de ações que
produz a imponente harmonia de seus efeitos. Homens, sede solidários, e avançareis
harmonicamente para o conhecimento da felicidade e da verdade”.
Se
considerarmos o momento atual da Humanidade, dentre tantas dificuldades que ela
enfrenta, destaquemos a pandemia do coronavírus.
Pelas palavras de Arago, podemos inferir que sua causa
reside nas Leis Naturais do Universo, e não numa determinação Divina
como castigo às nossas fragilidades morais.
Dentro
deste contexto, encontra-se na obra “A Ciência do Espírito”, autoria de Francisco
Rodrigues, um artigo intitulado: “O secreto porquê das epidemias”. Nele, o
autor relatou algumas pesquisas científicas que levaram à conclusão de que o
ritmo reprodutivo de microrganismos, como bactérias e vírus, sofre
significativo efeito dos campos magnéticos gerados pela atividade solar. Ou
seja, quanto mais intensas as tempestades magnéticas solares, maior a
capacidade de proliferação dos microrganismos capazes de causar doenças; constatação
que vem ao encontro das explicações de Arago, relatadas por Allan Kardec.
O artigo
de Francisco Rodrigues foi assim finalizado: “Parece, em suma, que vírus e
micróbios sejam dotados de uma forma de memória orgânica que lhes permite
adaptar-se às mutáveis condições do microcosmo em que vivem. Isto explica por
que as epidemias e as pandemias de gripe tenham a mesma natureza cíclica da
atividade solar”.
A Ciência
é de natureza Divina, consequentemente é infinita. Qualquer evidência de cunho
científico é estudada à exaustão, propiciando o constante aprimoramento do
conhecimento da Humanidade e as mudanças de paradigmas ultrapassados.
Observações:
1) Os
grifos são meus.
2) As partes I, II, III, IV e V deste artigo encontram-se nas semanas 102, 103, 106, 109 e 112, respectivamente.