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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 122

 

O PODER DA PRECE

 

Laurete Godoy

 

           

            No dia 21 de janeiro de 2013, Cidinha foi a palestrante da reunião realizada no Grupo Espírita Batuíra da Rua Caiubi, em São Paulo.

            Além das considerações doutrinárias, ela presenteou-nos com um fato emocionante, que vivenciou havia vários anos. Vi muitas pessoas enxugando lágrimas. Eu, inclusive. Por ter sido uma linda história, bem a ver com o tema do dia, decidi registrá-la por escrito. Hoje, após nove anos, peço licença para compartilhar o lindo presente que nos foi oferecido naquela memorável tarde de segunda-feira.

            Cidinha viveu muitos anos no interior de São Paulo, sempre ligada à Educação. Suas raízes estavam fincadas em Andradina, onde foi professora, diretora de escola, coordenadora pedagógica e, durante quarenta e cinco anos, dividiu tudo isso com permanente trabalho no Centro Espírita “Fé e Caridade”. Era uma das dirigentes da creche “Irmã Joaninha”, que abrigava cento e vinte crianças.

            Residia na cidade um rico fazendeiro, que sempre oferecia alimentos para a instituição. Com frequência, chegava à creche um caminhãozinho de melancia, de laranja, verduras, ovos e outros produtos alimentícios. Ele era, reconhecidamente, homem bom, educado, generoso e caridoso. Porém, como ateu convicto, não havia pregação que o fizesse acreditar em Deus ou o levasse a abraçar qualquer religião ou doutrina. Era categórico: cético de nascença, perseverante ao extremo na convicção, materialista irredutível, não acreditava em nada e nem queria acreditar. Porém, jamais esquecia de presentear a creche, diminuindo as necessidades materiais do grupo.

            Esse carinho estendeu-se por vários anos.

            Certo dia ligou para Cidinha. Estava ansioso e disse que precisava conversar com certa urgência. Acontecera um fato que o impressionara muito, gostaria de dividir a experiência e pedir uma orientação. No encontro, ele iniciou a narrativa:

            “– Sabe, dona Cidinha, há mais de vinte anos faço o mesmo trajeto. Sigo por um caminho que sai da minha fazenda e desemboca na estrada que me leva para o centro da cidade. Nesse percurso existe uma casinha pobre e, durante esses vinte anos, jamais senti vontade e nem sequer tive curiosidade de procurar saber quem morava ali. Passava, via a casa e, simplesmente, seguia adiante.

            Ontem, porém, aconteceu um fato que me impressionou demais. Por isso decidi procurar a senhora. Quando passei por ali, senti um desejo imprevisível e incontrolável de saber quem residia naquela casinha de beira de estrada. Foi uma sensação tão forte, que não consegui me conter. Parei o carro e, como vi uma janela aberta, fui até lá para falar com alguém. Olhei pela janela e, surpreso, vi na pequena sala uma menina que deveria ter uns nove anos de idade. Ela estava ajoelhada, olhos fechados e mãos postas, em oração. Chamei-a e perguntei o que ela estava fazendo. Ao que respondeu:

            –Meu pai morreu, minha mãe está doente, meus irmãos estão chorando de fome e não temos comida em casa. Eu estava rezando para Deus nos ajudar.

            Dona Cidinha, por incrível que pareça, eu nunca levo dinheiro comigo. Pois naquele dia eu estava com dinheiro no bolso. Peguei-o e dei para a menina, mandando-a ir comprar comida. Ainda impressionado com tudo aquilo, saí e percebi que a menina continuava lá dentro. Voltei e encontrei-a na mesma posição de antes: ajoelhada, mãos postas e olhos fechados. Indaguei:

            – Menina, por que você ainda não foi comprar a comida?

            Ao que ela respondeu:

            – Porque estou agradecendo a Deus, por ter atendido à minha prece, enviando o senhor para nos ajudar.

            – Dona Cidinha, sempre fui ateu. Sou um descrente convicto por natureza. Agora tenho certeza: Quem me fez parar naquela casinha foi Deus, que atendeu à prece daquela criança. E foi Ele também que me fez estar com dinheiro no bolso, para ajudar aquela família no momento da maior necessidade. Veja só! Passei a vida inteira lutando contra tudo isso de religião e ontem descobri que Deus realmente existe e atende às preces que, com fé, a Ele são dirigidas. Diante da maneira como tudo isso tocou meu coração, desejo abraçar uma religião. Como tenho visto a caridade que é feita nesta Casa, a partir de hoje abraçarei a Doutrina Espírita.”

            E, com alegria, toda noite de quarta-feira, Cidinha via que o primeiro a chegar ao Centro Espírita “Fé e Caridade” e a ocupar uma cadeira da primeira fileira da sala era aquele homem que, completamente descrente durante 60 anos, recebeu de uma criança de nove anos de idade a maior lição de toda a sua vida: Deus realmente existe e atende às preces feitas com fé.

            E, com essa linda história, que a muitos emocionou, foi encerrada a excelente palestra da Cidinha, sobre o tema

 

PEDE E RECEBERÁS...

 

UMA CIDINHA QUE É MARIA:    Para identificar a personagem central dos fatos geradores da crônica O Poder da Prece, entrei em contato com a filha da Cidinha. Perguntei o nome completo da mãe e pedi autorização para divulgá-lo. Luciana concordou prontamente e informou: Maria Arruda Cavalli. Fiquei surpresa! Mas por que sua mãe é chamada de Cidinha, e não Mariazinha? Veio a explicação: “Quando o vô Alexandre foi registrar minha mãe, disse que o nome dela era Maria Aparecida Arruda. Assim que recebeu a certidão de nascimento, guardou-a, sem conferir. Familiares e amigos da família só chamavam minha mãe de Cidinha. Aos seis anos de idade, quando foi matriculada no curso primário, precisou apresentar a certidão de nascimento. Só então a verdade foi revelada. O nome dela era Maria, mas como o apelido já estava perpetuado, minha mãe continuou sendo chamada por todos de Cidinha”.

E agora, concluindo, pela linda e comovente história que nos contou, em uma distante segunda-feira do ano de 2013, manifesto minha gratidão à Cidinha... Que é apenas Maria porque, na certidão de nascimento, o cartorário de Andradina desapareceu com o “Aparecida”. Porém, apesar do sumiço do nome gerador do apelido, ela continua sendo a nossa querida, sempre lembrada e aplaudida CIDINHA!