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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 127

 

 

O ESPÍRITA DEVE SER...

 

 

    Sonia Hoffmann

 

 

"Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam." (Paulo, o apóstolo, Paris, 1860; O Evangelho Segundo o Espiritismo, c. XV).

 

Quem se qualifica como espírita, verdadeiro e sincero, precisa desenvolver atributos fundamentais, pela conquista de adiantamentos morais principalmente, e de habilidades intelectuais capazes dele realizar discernimentos, reflexões e escolhas solidificadas na fé raciocinada. A materialidade tem menos importância

do que a espiritualidade, pois não somente acredita ocasionalmente nos princípios norteadores do Espiritismo: sua crença é inabalável e se sustenta consciente diante das mais variadas circunstâncias, por ter uma percepção mais nítida e esclarecida da representação do seu passado, presente e futuro.

 

Os ensinamentos cristãos e espíritas repercutem em si, fazendo vibrar no seu âmago sentimentos e pensamentos fraternos amistosos e solidários que, para muitas outras pessoas que não se dedicam para o desenvolvimento de um olhar para além das aparências e do momento, nem sempre causam tal efeito e que, muitas vezes, até mesmo se mantêm inertes diante de acontecimentos os mais variados.

 

O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu capítulo XVII, registra: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. Enquanto um se contenta com o seu horizonte limitado, outro, que apreende alguma coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele e sempre o consegue, se tem firme a vontade". (p. 235)

 

Muitos entendem por "inclinações más" infrações como roubar, matar e outras passíveis até mesmo de serem julgadas e reparadas pela intervenção legislativa da humanidade. No entanto, estas inclinações abrangem também toda e qualquer transgressão das Leis Divinas e, muitas vezes, consistem em causas para reparações a fim de promoção de ajustes necessários ao incremento de virtudes. Assim, podemos considerar também como péssimas inclinações a permissividade irrefletida, a maledicência, a preguiça, o hábito de procrastinação, por exemplo.

 

Emmanuel, na mensagem 7 do livro Opinião Espírita, agrega algumas condutas apropriadas para quem almeja se tornar um bom espírita. A pessoa deve ser verdadeira, mas não agressiva, sem manejar a verdade como um tacape contra os outros. A prática da bondade não deve ser confundida com displicência, por favorecer a força do mal com o pretexto de cultivar a ternura. A generosidade deve ser exercida, mas sem tornar-se perdulário por abraçar a prodigalidade excessiva, a ponto de sufocar em alguém suas possibilidades de trabalho. A medida de sua docilidade deve possibilitar tomar decisões e ações firmes quando necessário. Em nome da justiça, evitar de ser implacável, embora procure agir de modo justo, para não impedir a recuperação e reparação dos que caem e sofrem. Clareza e franqueza não significam insolência ou atitude violenta, então seja impecável sem agredir ou dar a ideia de se considerar fiscal da consciência alheia. Adoção de comportamento calmo e tolerante precisa sempre ser sua opção, mas jamais irresponsável e negligente, justificando gentileza ou chegando ao ponto de se tornar indiferente, pois pode parecer que aplauda o erro deliberado em favor da sombra. A calma é muito diferente de preguiça, por isto, o verdadeiro espírita precisa buscar o sossego confiante, sem afogar-se no fanatismo e na incapacidade de discernimento. Persistência não combina com teimosia ou rebeldia viciada. Nada de destruir a si próprio, que pode ser causado pela precipitação: logo, eleger ser cuidadoso e zeloso é sempre aconselhável.

 

A filosofia e os Amigos Espirituais sinalizam para procurarmos o autoconhecimento. Para esta viagem ao nosso interior, é necessário escolher atitude e posição de equilíbrio, quer seja na emotividade quanto no pensamento,

na palavra, na atitude ou na ação.

 

Na mesma obra, Emmanuel indica vinte modos pelos quais os espíritas podem perturbar a marcha do Espiritismo. Estes apontamentos são importantes e válidos, pois sugerem o que é preciso repensar em nossos hábitos conscientes ou inconscientes. Esquecimento da reforma íntima é o primeiro. Após, o desprezo pelos deveres profissionais, ausência das obras de caridade, negação do estudo, falta injustificada do cumprimento de compromissos, pedido de privilégios, afastamento deliberado dos sofredores a fim de não prestar a eles pequenos serviços, colocação dos princípios espíritas à disposição de fachadas sociais, especulação com a Doutrina em matéria política, sacrifício da família pelos trabalhos da fé, aceitação de muitas obrigações com a recusa de distribuir a tarefa entre os demais companheiros ou, então, escolher não aceitar incumbência alguma, isolando-se na preguiça.

 

Outras atitudes também devem ser evitadas para não criar obstáculos: aflição pela conquista de aplausos, julgamento de ser indispensável, fuga ao exame imparcial e sereno das questões relativas à clareza do Espiritismo, colocando os interesses particulares, ou dos outros, acima, renúncia do raciocínio, deixando-se manobrar por movimentos ou pessoas que tentam sutilmente ofuscar o esclarecimento espírita com preconceitos e ilusões; negação de prestar ajuda aos outros com palavras equilibradas no momento preciso; conservação de melindres; esquecimento do encargo natural de cooperação; respeito com os dirigentes das instituições doutrinárias; elogio demasiado aos médiuns e tarefeiros da causa espírita e, finalmente, transferência para os outros, de responsabilidades que competem a nós mesmos.

 

Para além destes vinte alertas servirem para muitas pessoas repensarem suas condutas, podemos perceber que eles também contêm inclinações as quais precisam ser modificadas.

 

Assim, são amplas e profundas a concepção e o delineamento do perfil de alguém como verdadeiro espírita, pois o Espiritismo, bem compreendido e bem sentido, oferece orientações, esclarecimentos e aprendizagens importantes para o seu desenvolvimento como bom cristão e bom espírita (ambos são o mesmo), pois a Doutrina não estabelece nenhuma nova moral: apenas facilita aos homens a inteligência e sinaliza a prática da moral trazida por Jesus.