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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 137


O Espiritismo e a Ciência – Parte XII


Edson Ramos de Siqueira

 

 

            Na parte XI (semana 133) do tema título deste artigo, apresentei um trecho das comunicações mediúnicas do ator italiano Rodolfo Valentino (1895 – 1926), publicadas por sua esposa Natacha em 1927, no livro “Rudy”.

            Essas comunicações fizeram parte do estudo elaborado pelo cientista espírita italiano Ernesto Bozzano, e constam de sua obra “A Crise da Morte”.

            Na parte XI, transcrevi as sensações de Valentino durante o processo de seu desprendimento do corpo físico. A seguir, já desencarnado, ele relatou a experiência decorrente da resistência que o meio terrestre impunha à sua libertação desta dimensão, em função da forte emoção que a morte de seu corpo físico causara à população que o admirava pela excelência de sua arte.

            “Era o dia em que transportaram meu corpo para sua última morada. Comecei a perceber um afrouxamento do interesse público pela minha pessoa, interesse tão vivo, que penso haver contribuído para reter o meu Espírito no meio terreno. Quando, porém, meu corpo foi depositado no túmulo, e os jornais começaram a esquecer-me, experimentei uma sensação de solidão desoladora... Revoltei-me contra o destino, que me arrancara a vida no apogeu da minha glória. Receio ter então feito uma apreciação excessivamente elevada a meu respeito, pois me parecia que a arte cinematográfica, sem mim, não mais poderia caminhar. Agora, rio-me de mim mesmo. Mas, naquele momento, julgava seriamente que minha morte era uma perda irreparável para a arte.

            Encontrava-me de novo no meio terrestre e estava só. Passeava ao longo da Broadway. Essa rua me parecia tão real, como se estivesse a percorrê-la vivo. Entretanto, ninguém me prestava atenção. Sentia certa dificuldade em me convencer de que ninguém me percebia. Via-me tão real e tão reais via os vivos, que não chegava a fixar ideia sobre a grande mudança que se havia operado. Acabei por me aborrecer de deambular (andar à toa) daquela maneira, por entre uma multidão de transeuntes apressados, que todos pareciam decididos a esbarrar em mim. Certa vez, dei mesmo um encontrão em cheio em uma mulher. Ela empalideceu e se aconchegou ao cavalheiro que a acompanhava, exclamando: “Meu Deus! Donde veio este sopro gelado que senti!”. Esta exclamação me pôs furioso. Então a morte me havia mudado num sopro frio? Isso de modo algum me era lisonjeiro. Dirigi-me para um grupo de artistas de teatro, que estacionavam à esquerda da Quadragésima sétima rua. Tomei um deles pelo braço e lhe gritei forte: “Eu sou Rodolfo Valentino!”. Mas o homem não se apercebeu de coisa alguma e continuou a rir e a conversar.

Que ressentimento contra todo mundo se apoderou de mim, naquele canto de rua! Chorei de dor e de raiva. Porém, era vã toda a revolta.

            Súbito, dirigi-te o meu pensamento; lembrei-me do telegrama que me passaste, quando me achava em estado grave, assim como dos telegramas de Muzzie e do tio Dick. Enquanto pensava nisso, senti que me tocavam no braço. Voltei-me e vi ao meu lado uma mulher com aspecto de matrona, de olhar inteligente e generoso. Jamais esquecerei o tom doce e tranquilizador de sua voz, se bem haja pronunciado as primeiras frases com impetuosa veemência. Exclamou: “Danação e um inferno de chamas foi o que predisse a Igreja e é o que agora te faz tão desditoso (infeliz)! Vem comigo! Nada há de verdadeiro no que ao teu Espírito inculcaram (incutiram) os representantes dos credos ditos cristãos: são pobres cegos todos eles. Precisas neste momento de um guia; aqui estou. Fui em vida H. P. Blavatski...”. (Helena Petrovna Blavatsky [1831 – 1891], enquanto encarnada, foi uma famosa escritora russa. Sistematizou a moderna Teosofia e participou da fundação da Sociedade Teosófica).

            Isso dito, acrescentou, a sorrir: “Vem”. Perdi os sentidos. Quando voltei a mim, achei-me no salão da vivenda do tio Dick. Era noite; as escadarias estavam iluminadas. Meu guia lá se achava à entrada e me fez sinal para que entrasse. Atravessamos juntos muitos aposentos, que eu conhecia bastante, e chegamos ao quarto de Muzzie. Tu estavas com ela; diante de vocês estava Jorge Wehner, profundamente adormecido, numa poltrona.

            Disse-me a Sra. Blavatski: “Ele está imerso em sono mediúnico. Podes, pois, conversar com os teus”.

            Tal foi, minha querida Natacha, o começo das minhas comunicações contigo. Devo-o ao meu generoso guia”.

            Este depoimento, de Rodolfo Valentino desencarnado, é bastante claro, elucidativo e nos demonstra, objetivamente, a realidade da Vida do Espírito na transição do plano material à dimensão espiritual. Quanto mais estudarmos essa questão, de importância inimaginável aos encarnados desprevenidos, mais facilidade de adaptação à nova realidade teremos; menor será o período de perturbação pós desencarnação, caracterizado por incertezas alienantes.   

 

Observação: a continuação deste artigo será publicada no dia 27/8.