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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 139

 

 

ATITUDE INCLUSIVA

 

Sonia Hoffmann

 

 

Muitas pessoas pensam ser o processo de inclusão e de acessibilidades algo extremamente trabalhoso, especialmente oneroso. Tal concepção possa talvez derivar do entendimento de que ser inclusivo necessita uma especialização e que acessibilidades se restringem a organizações estruturais e arquitetônicas, como a colocação de rampas, barras, elevadores e portas de fácil manuseio.

 

Sim, provavelmente, em muitas situações estas alterações são imprescindíveis para o acesso de alguém se tornar facilitado. Porém, isto não dá a garantia para aquela pessoa continuar frequentando a instituição, sentindo-se acolhida e pertencente à relação por não ter acontecido o primordial: a atitude includente, empática, fraterna, livre de julgamento ou juízo de valor, sem uma fundamentação lógica e amadurecida.

 

O próprio significado de inclusão ainda não está, para a grande maioria das pessoas, bastante nítido, quanto mais sua proposta filosófica e mesmo doutrinária. Com frequência, circula o pensamento do ato inclusivo contemplar apenas pessoas com alguma deficiência, quando, na verdade, inclusão diz respeito a toda e qualquer pessoa que se sente ou está excluída, com deficiência, síndrome ou não. Filosoficamente, deficiência e diferença são valores indissociáveis, pois todos possuímos uma série de atributos e ninguém está reduzido a olhos que não enxergam, ouvidos que não ouvem, pernas que não possibilitam o deslocamento com autonomia e assim por diante. Esta pessoa é muito mais do que isto, porque traz todo um conjunto de  características externas e internas, sociais e financeiras, circunstanciais ou permanentes que as diferem e as igualam a tantas outras pessoas nas mais diversas situações e etapas da vida. As diferenças e as semelhanças podem se expressar nas aptidões, nas vulnerabilidades, nos interesses, nas potencialidades, nas crenças...

 

Alguém com deficiência pode sentir-se acolhida e participativa, enquanto alguém que não possua comprometimentos visuais, motores, intelectuais ou outro transtorno possa sentir-se marginalizada, estigmatizada e desacreditada por ser obesa, estrangeira, retraída ou por apresentar diferenças raciais, de gênero, de estatura, de idade, por exemplo.

 

Quanto a acessibilidades, este é um conjunto de estratégias, algo plurimodal, multifacetado que pode ser resumido como os caminhos que conduzem à conquista da inclusão. Este o motivo pelo qual vem sendo assinalada no plural, pois muitas das estratégias se entrelaçam, complementam, potencializam. Ações acessíveis podem estar relacionadas à metodologia, comunicação, tecnologia e mesmo serem mudanças arquitetônicas, ambientais, pictográficas e outras mais, porém, na base de todas elas está a atitude que nos impulsiona para um acolhimento e interação respeitosa, segura, solidária. Assim, a principal de todas as acessibilidades é de ordem atitudinal associada ao esclarecimento quanto ao comportamento, ao sentimento, à concepção sobre deficiências e diferenças.

 

Joanna de Ângelis, no livro O ser consciente, menciona que "Os grandes vitoriosos do mundo lutaram com tenacidade para romper os limites, os problemas, as enfermidades, os desafios. Não nasceram fortes; tornaram-se vigorosos no fragor das batalhas travadas. Não se detiveram na lamentação, porque investiram na ação todo o tempo disponível."

 

Quando uma interação se estabelece, a qualidade da atitude circulante entre as pessoas, com  reciprocidade no respeito, consideração justa, flexibilidade sem adoção de (auto)compaixões improcedentes, tratamento amistoso, valorização ponderada traz, para a relação uma leveza, serenidade, clareza de propósitos e o desenvolvimento da vontade de permanência e aprofundamento da confiança quanto às reais possibilidades e fraquezas, sem que haja o receio da perversidade do julgamento, do abandono, do descrédito. Canais de intercâmbios e reciprocidades afetivas, informativas e construtivas fluem e são abertos espaços para a mobilidade social e intelectual ser constituída com sentimento de liberdade, independência, autonomia e tranquilidade.

 

André Luiz, na obra Agenda Cristã, traz um alerta bem interessante que pode ser fundamental para o estabelecimento da atitude inclusiva: "guarde valor em suas atitudes. Recorde, entretanto, que o valor não consiste em vencer, de qualquer modo, mas em conquistar o adversário no trabalho pacífico." Ou seja, é importante não assumir postura competitiva, de superioridade e de tratamento do próximo como um adversário, mas como alguém que também se encontra em processo de aprendizagem, de evolução, um parceiro pedagógico nas lições da vida. Para tal, a administração de alguma relação precisa tomar como referência a generosidade e a corresponsabilidade, mesmo quando decisões ou práticas estiverem investidas de firmeza e disciplina.

 

Jesus nos esclarece quanto ao nosso sim ser sim e nosso não ser não. Isto, no entanto, não implica rudeza, indiferença ou rispidez, mas algo intencionalmente libertador e cordial.