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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 144 

 

TOM, MÚSICO CEGO NATURAL

 

Sonia Hoffmann



A Revista Espírita de fevereiro de 1867 narra um fato de imensa reflexão para todos que ficam perplexos com a habilidade natural de muitas pessoas para tocarem um instrumento sem alguma aprendizagem prévia. Tal episódio aconteceu em relação a Tom! Agregadas a esta possibilidade, mais outras circunstâncias se associaram: ele era um menino escravo, negro, cego e iletrado. 

 

O artigo registra que um dia Tom fica surpreso ao ouvir uma melodia tocada no piano da casa de seu senhor. Sem qualquer cerimônia, ele corre até o instrumento e reproduz corretamente a música, rindo e alegre diante da sua descoberta. 

 

A partir daí, novas repetições ocorreram. Porém, se isto já não fosse suficiente para algumas pessoas ficarem surpreendidas, um fato significativo e interessante foi testemunhado: "Um dia uma obra de Haendel foi tocada. Imediatamente Tom a repetiu corretamente e, ao terminar, esfregou as mãos com uma expressão de indefinível alegria, exclamando: 'Eu o vejo; é um velho com uma grande peruca; ele tocou primeiro e eu depois.' (p.79). 

 

Com estas informações, era incontestável e evidente para todos que Tom realmente tinha visto e ouvido Haendel tocar. 

 

A celebridade de Tom se expandiu da América do Norte para a Inglaterra, pois ele se apresentou em várias oportunidades para o público. Sua maneira de executar os trechos mais difíceis das melodias, a repetição sem falhas e de memória quase faziam as pessoas esquecerem das suas condições. Tom tocava no piano desde sonatas clássicas antigas até peças modernas. 

 

Muitas pessoas poderiam, e algumas ainda o fazem, dizer que seu talento era resultado de ser um gênio, embora desprovido de instrução e cego, enquanto outros nada conseguem tocar mesmo com estudos preliminares. Entretanto, somente o Espiritismo pode explicar de modo compreensível, racional e lógico tal fenômeno musical. 

 

Como Kardec comenta neste artigo, Tom deve ter sido em alguma outra encarnação um grande músico, trazendo em si tais conhecimentos que por dado motivo, ou por prova ou expiação, ficaram adormecidos até o surgimento de um estímulo. Bastou a ele ter ouvido para tais recordações ressurgirem habilmente. O Codificador ainda acrescenta ao seu comentário que a tríplice condição apresentada por Tom quanto a ser cego, negro e escravo não serviram de obstáculo para o ressurgimento e manifestação da cultura de suas aptidões nativas na primeira ocasião favorável, tal como um grão germinando aos raios do sol. 

 

Interessante também Kardec ter abordado o quanto o fato de Tom ser escravo negro ter colaborado para o descrédito de muitos se dissolverem, pois naquela época e naquele contexto escravocrata persistia uma espécie de desconfiança quanto à possibilidade deles se expressarem artisticamente. Assim, Tom trouxe grande contribuição efetiva para o rompimento desta desconfiança, promovendo a valorização de todos como cidadãos partícipes da sociedade como Espíritos imortais, seres da mais completa possibilidade. 

 

Como Kardec refere, Tom demonstra claramente o quanto a condição racial ou de deficiência não serve de impeditivo para o desenvolvimento de habilidades, assinalando ainda: "a lei da pluralidade das existências e da reencarnação vem a isto acrescentar a irrefutável sanção de uma lei da Natureza, que consagra a fraternidade de todos os homens. Tom, o escravo, nascido e aclamado na América, é um protesto vivo contra os preconceitos ainda reinantes nesse país" (p.80). 

 

Léon Denis menciona ser a arte, em seu livro O Espiritismo na arte, meio de sentir a grandeza de Deus (p.71). Na obra, encontramos ainda ser a música uma lei moral, oferecendo alma ao Universo, asas ao pensamento, impulso à imaginação, encanto à tristeza, a alegria e a vida a todas as coisas. 

 

O autor diz ainda ser o estudo do Espiritismo nas suas relações com a arte fonte de esclarecimento e orientação sobre os mais vastos problemas do pensamento e da vida, mostra a ascensão do ser através da escalada das existências e dos mundos. Nessa ascensão, a inteligência cresce gradativamente; os germes do bem e do belo se desenvolvem, ao mesmo tempo que a compreensão da lei de eterna beleza se amplia. O caminho da vida celeste está aberto, o qual pode ser percorrido por todos, por seus esforços e seus méritos, obtendo a posse dos bens imperecíveis que a bondade Divina nos reserva.