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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 145


O Espiritismo e a Ciência – parte XIV


Edson Ramos de Siqueira

 

 

            Em face da importância de estudarmos e compreendermos os mecanismos da desencarnação, darei sequência aos relatos constantes dos estudos do italiano Ernesto Bozzano (1862 – 1943), professor de Filosofia da Ciência na Universidade de Turim e um dos mais renomados pesquisadores dos fenômenos espíritas.

            Estou a relatar, de seu livro A Crise da Morte, alguns pontos que entendo essenciais para a elucidação das principais dúvidas que todos têm acerca da passagem à outra dimensão (para melhor compreensão da linha de raciocínio adotada, acesse os artigos das semanas 125, 128, 133, 137 e 141).

            Uma questão muito importante a ser considerada no processo da desencarnação é o comportamento dos entes queridos do Espírito que parte. Trata-se, obviamente, de um momento extremamente difícil! Entretanto, compreender e interiorizar as verdades que permeiam a morte do corpo físico pode contribuir com a transformação do desespero profundo e, muitas vezes, da revolta, em tristeza momentânea e saudade, envoltas por serenidade, se possível.

            Conforme Ernesto Bozzano, “a dor exagerada dos encarnados, junto dos leitos mortuários de pessoas que lhes eram caras, constitui obstáculo intransponível, que impede o desencarnado de entrar em relações psíquicas com os seus, acrescentando que, por outro lado, o estado d’alma dos encarnados exerce influência deplorável sobre as condições espirituais em que se encontra o Espírito recém desencarnado. Estas afirmações adquirem importância pelo fato de que muitos outros Espíritos têm afirmado exatamente a mesma coisa. Somos, desse modo, levados a refletir seriamente sobre a advertência que nos chega do Além – Túmulo, sobretudo se consideramos que as afirmações desses Espíritos são perfeitamente acordes com as conclusões dos sábios, segundo as quais tudo o que existe e se manifesta no universo físico e psíquico pode reduzir-se, em última análise, a um fenômeno de vibrações. Sendo assim, ter-se-á que convir que é muito verossímel, inevitável mesmo, que as vibrações inerentes a um estado d’alma de grande dor sejam penosas para um Espírito que há pouco se libertou do corpo carnal e o impeçam de entrar em relação psíquica com os seus, retendo-o no meio terrestre, enquanto essas vibrações persistirem.

            Para ilustrar essa questão, acompanhem a seguir um trecho de comunicação mediúnica citada por Bozzano, em que o Espírito desencarnado transmite suas sensações em relação a isso.

            “...Sentia-me de mais em mais revigorado por uma vitalidade nova, como se todas as minhas faculdades entrassem num período de grande atividade, após o prolongado torpor em que me achara... Era a sensação de uma beatitude (estado permanente de perfeita satisfação e plenitude somente alcançado pelo sábio) difícil de descrever – se... Afigurava-se que me tornara parte integrante do meio que me rodeava. Minha mulher me tomou então pelas mãos e, assim unidos, nos elevamos por meio do teto do quarto, subindo para o alto, sempre mais alto, pelo espaço em fora. Entretanto, se bem já me houvesse afastado muito do meio terrestre, continuava a ter conhecimento do que ocorria em minha casa. Via minha filha acabrunhada de dor. Esse estado d’alma parecia deslizar como uma nuvem escura, entre ela e eu; insinuava-se no meu ser, produzindo nele um sentimento penoso de torpor (sentimento de mal-estar caracterizado pela diminuição da sensibilidade, prostração).

            Desejo saibam que as crises excessivas de dor, junto dos leitos mortuários, constituem imensa barreira interposta entre os encarnados, que delas se deixam tomar, e do Espírito desencarnado por quem eles choram. Trata-se de uma barreira real e intransponível, que nos não permite entrar em comunicação com os que se desesperam pela nossa morte. Mais ainda: as exageradas crises de dor retêm presos ao meio terrestre os Espíritos desencarnados, retardando-lhes a entrada no Mundo Espiritual.

            De fato, se é certo que, com a morte, cessam necessariamente todas as relações entre os Espíritos desencarnados e o organismo físico dos encarnados, em compensação os desencarnados se tornam extremamente sensíveis às vibrações dos pensamentos das pessoas que lhes são caras. Concito, pois, os encarnados, na eventualidade da perda de algum de seus parentes – qualquer que possa ser a importância da perda e da dor correspondente – a que, a todo custo, se mostrem fortes, abafando toda manifestação de mágoa e apresentando-se de aspecto calmo nos funerais. Comportando-se assim, determinarão considerável melhoria na atmosfera que os cerca, porquanto a aparência de serenidade nos corações e nos semblantes das pessoas que nos são caras emite vibrações luminosas que nos atraem, como, à noite, a luz atrai a borboleta.

            Por outro lado, a mágoa dá lugar a vibrações sombrias e prejudiciais a nós outros, vibrações que tomam o aspecto de tenebrosa nuvem a envolver aqueles a quem amamos. Não duvideis de que somos muito sensíveis às impressões vibratórias que nos chegam, por efeito da dor dos que nos são caros. Nossos corpos fluídicos estão, efetivamente, sintonizados por uma escala vibratória muito alta, que nada tem de comum com a escala vibratória dos corpos carnais...”.

            Estudemos as questões espirituais em todas as suas nuances, reflitamos bastante, exercitemos a mente, interiorizemos os conhecimentos adquiridos. Somente as verdades consolam!!! Através do pensamento saiamos, quando possível, mesmo que por pouco tempo, do mundo meramente material, no qual as ilusões nos envolvem com muita facilidade. O tempo não para; a Vida é eterna, mas a vida do corpo físico é efêmera. Enquanto encarnados, busquemos sempre o ponto de equilíbrio entre as questões materiais e espirituais. Não nos esqueçamos que a nossa realidade transcende a matéria.