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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 149


O Espiritismo e a Ciência – Parte XV


Edson Ramos de Siqueira



Continuemos a analisar questões inerentes à desencarnação, através das preciosas informações mediunicamente transmitidas por Espíritos desencarnados, estudadas e publicadas pelo cientista espírita Ernesto Bozzano, em 1926, sob o título: A Crise da Morte.

A comunicação transcrita a seguir é proveniente de Horace Abraham Ackley, pela qual descreveu o processo de sua separação definitiva (Espírito) do corpo físico.

“Como sucede a um bem grande número de humanos, meu espírito não chegou muito facilmente a se libertar do corpo. Eu sentia que me desprendia gradualmente dos laços orgânicos, mas me encontrava em condições pouco lúcidas de existência, afigurando-se-me que sonhava. Sentia a minha personalidade como que dividida em muitas partes, que, todavia, permaneciam ligadas por um laço indissociável. Quando o organismo corpóreo deixou de funcionar, pôde o Espírito despojar-se dele inteiramente. Pareceu-me então que as partes destacadas da minha personalidade se reuniam numa só. Senti-me, ao mesmo tempo, levantado acima do meu cadáver, a pequena distância dele, donde eu divisava distintamente as pessoas que me cercavam o corpo. Não saberia dizer por que poder cheguei a me desprender e a me elevar no ar. Depois desse acontecimento, suponho ter passado um período bastante longo em estado de inconsciência, ou de sono (o que, aliás, acontece frequentemente, se bem isso não se dê em todos os casos); deduzo-o do fato de que, quando tornei a ver o meu cadáver, estava ele em estado de adiantada decomposição.

Logo que voltei a mim, todos os acontecimentos de minha vida me desfilaram sob as vistas, como num panorama; eram visões vivas, muito reais, em dimensões naturais, como se o meu passado se houvera tornado presente. Foi todo o meu passado o que revi, compreendido o último episódio: o da minha desencarnação. A visão passou diante de mim com tal rapidez, que quase não tive tempo de refletir, achando-me como que arrebatado por um turbilhão de emoções. A visão, em seguida, desapareceu com a mesma instantaneidade com que se mostrara; às meditações sobre o passado e o futuro, sucedeu em mim vivo interesse pelas condições atuais.

Eu ouvira os espíritas dizerem que os Espíritos desencarnados eram acolhidos no Mundo Espiritual pelos seus parentes, ou por seus Espíritos guardiães. Não vendo ninguém perto de mim, concluí que os espíritas se haviam enganado. Mas, quase que imediatamente, vi dois Espíritos que me eram desconhecidos e para os quais me senti atraído por um sentimento de afinidade. Soube que tinham sido homens muito instruídos e inteligentes, mas que, como eu, não haviam cogitado desenvolver em si os princípios elevados da espiritualidade. Chamaram-me pelo meu nome, embora eu não o houvesse pronunciado, e me acolheram com uma familiaridade tão benévola, que me senti agradavelmente reconfortado. Com eles deixei o meio onde desencarnara e onde me conservara até aquele momento. Pareceu-me nebulosa a paisagem que atravessei; mas dentro dessa meia obscuridade, fui conduzido a um lugar onde vi reunidos numerosos Espíritos, entre os quais muitos havia que eu conhecera em vida e que tinham morrido havia já algum tempo”...

O destaque dessa comunicação é o fato do desencarnado não ter se encontrado com seus entes queridos imediatamente, tendo sido acolhido por dois Espíritos desconhecidos. Observemos o comentário de Ernesto Bozzano sobre esse caso.

“Notarei que, no último parágrafo do episódio precedente, se encontra um detalhe que se diferencia mais ou menos nas descrições de tantos Espíritos que se comunicam. Esse detalhe achará sua razão de ser nas condições espirituais bem pouco desenvolvidas do desencarnado autor da mensagem. Geralmente, nas revelações transcendentais se lê que os Espíritos desencarnados entram num meio mais ou menos radioso, onde são acolhidos pelos seus parentes. Aqui se vê, ao contrário, que o Espírito comunicante se encontrou num meio nuvioso, onde foi acolhido amistosamente por dois Espíritos que lhe eram desconhecidos, mas que guardavam afinidade com ele, do ponto de vista das condições espirituais. É fácil de arguir que este aparente desacordo entre as primeiras impressões desse Espírito desencarnado, e outras muito mais frequentes, dependa da circunstância de que, como ele próprio o diz, se descuidara em vida de desenvolver em si o elemento espiritual e que os Espíritos que lhe foram ao encontro se achavam nas mesmas condições. Daí resultou que, pela lei de afinidade, um meio de luz não se adaptava às condições transitórias, mas, obscurecidas de seus Espíritos.

De outro ponto de vista, notarei que, também no episódio em apreço, o Espírito que se comunicou afirmou ter sofrido a prova da visão panorâmica de seu passado, prova que, neste caso, em vez de se desenrolar espontaneamente, em consequência de uma superexcitação das faculdades mnemônicas (referentes à memória), pareceria antes provocada pelos guias espirituais, com a finalidade de predispor o Espírito recém-chegado a uma espécie de exame de consciência”.

Quem sabe possamos fazer o nosso exame consciencial aqui e agora, nos desprendermos um pouco mais da matéria efêmera, nos conscientizarmos que estamos reencarnados com um único propósito: evoluir espiritualmente e, desta forma, facilitarmos a transição às dimensões espirituais, com a consequente mitigação das usuais perturbações pós-desencarnação.