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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 152

 

 

ESTUDO SOBRE AS POSSIBILIDADES DO ANIMAL - Parte I

 

   


Sonia Hoffmann

 

 

Todos, em algum momento, perguntam-se sobre a capacidade de inteligência dos animais e o quanto eles estão compreendendo intelectual e afetivamente a relação das pessoas para com eles. A tendência de limitarmos o significado de racionalidade e irracionalidade que caracterizam homens e animais talvez seja o grande motivo do sentimento de perplexidade ante o comportamento de diversas espécies destes seres organizados e criados por Deus. Como muitas vezes subutilizamos nossa inteligência, consideramos que eles também façam o mesmo com a sua parcela intelectual atribuída.

 

Verdadeiramente, talvez possamos traçar esta linha de raciocínio, quando não nos dedicamos ao estudo e ao estímulo para o desenvolvimento deste grandioso atributo ofertado pela Divindade.

 

Embora muitas pesquisas tenham sido realizadas, anteriormente à Codificação Espírita, sobre a consciência, cognição e aprendizagem possível nos habitantes daquele reino, o Espiritismo nos elucida alguns pontos primordiais.

 

Quanto à precisão da linha de demarcação da inteligência entre homens e animais, encontramos na questão 592 de O Livro dos Espíritos que o homem é um ser a parte, podendo, tanto muito elevar-se, quanto moralmente apresentar atitudes bastante desleais, sendo possível que vários animais tenham uma superioridade comportamental. Fisicamente, é tal como os animais e até mesmo menos bem-dotado, pois a natureza incentiva ao homem o desenvolvimento da sua inteligência pela necessidade de criar ou buscar na invenção aquilo que satisfaça suas necessidades e conservação, diferindo deles porque já possuem os conhecimentos necessários. Os corpos de ambos se destroem igualmente, mas o Espírito hominal é inteiramente livre e tem a capacidade de pensar em Deus.

 

Na questão 593, os Amigos Espirituais dizem predominar na maioria dos animais o instinto, mas muitos deles labutam, indicando acentuada vontade. Eles têm inteligência, porém limitada.

 

Gabriel Delanne, no livro A Reencarnação, assinala que o princípio espiritual passou pela série animal, chegando progressivamente até à Humanidade.

 

As manifestações da inteligência, de maneira geral, se correlacionam à complexidade dos organismos. Os mamíferos, como refere Kardec, em A Gênese, é a organização mais completa do reino animal. Porém, conforme Delanne: o animal desconhece as ferramentas, servindo-se dos membros unicamente para execução de seus trabalhos. A grande conquista do homem, no entanto, é a de fabricar as ferramentas que lhe fazem falta, e também aumentar artificialmente o alcance dos seus sentidos. Todos os graus de inteligência são observáveis nessa imensa e prodigiosa multiplicidade dos seres vivos. Ele ainda prossegue em seu apontamento, indicando que as manifestações da inteligência, nos reinos inferiores, se confundem quase com as reações puramente físico-químicas, que determinam os movimentos mecânicos (tropismos, como denominam os fisiologistas). Toda indecisão desaparece com a elevação na escala dos seres e um verdadeiro psiquismo se manifesta. Não só os instintos se confundem, mas ainda a inteligência se traduz por atos comparáveis aos do homem. Em consequência de uma deliberação raciocinada, o elefante, o cão e o macaco mostram não existir, muitas vezes, uma diferença de natureza entre algumas de suas ações e as que nós executamos.

 

Espiritualmente, tal como menciona Charlet na Revista Espírita de julho de 1860, o animal vive realmente, desde que pensa, embora os homens o considerem embrutecido: os Espíritos superiores, entretanto, qualificam o homem terreno tal como estes o fazem em relação aos animais.

 

Um estudo das faculdades Intelectuais e morais dos animais, feito por Gabriel Delanne em seu livro A evolução anímica, reporta que os animais possuem inteligência, instinto e sensibilidade, sendo possível concluir ser a alma animal da mesma natureza da humana, diferenciada apenas no seu desenvolvimento gradativo e no grau de manifestação. Este autor também apresenta, na obra citada, algumas narrativas que evidenciam as faculdades dos animais, tais como: atenção, julgamento, raciocínio, associação de ideias, memória, imaginação.

 

Os animais podem refletir antes de tomar uma decisão, mas esta ação é muito mais demorada neles do que em nós. Delanne ilustra este apontamento, contando um episódio no qual um feitor de uma comunidade rural avista, através da janela, uma raposa conduzindo apressadamente o ganso capturado. Quando ela chega ao muro alto não consegue transpô-lo em um salto sem largar sua presa. A raposa insiste por três vezes, não sendo bem-sucedida. Ela, então, senta-se e fita o muro como a medi-lo. Depois disto, ela segura com a boca o ganso pela cabeça e, levantando-se de encontro ao muro, com as patas dianteiras enfia o bico do ganso em uma fenda; em seguida, a raposa salta para o cume do muro, se debruça jeitosamente até retomar sua presa, atirando-a para o outro lado. Após ela salta e prossegue seu caminho com sua refeição.

 

A curiosidade é outra faculdade desenvolvida nos animais, ampliando-se dos peixes para os macacos, já prenunciando tal característica humana no desejo de compreender e penetrar o sentido das coisas e dos acontecimentos. Assim, é atribuído que a curiosidade representa uma das mais elevadas expressões da inteligência, visando o próprio aperfeiçoamento. O macaco, por exemplo, fica absorto no exame de um objeto para compreender o seu mecanismo, esquecendo-se por vezes até mesmo de alimentar-se, para satisfazer sua curiosidade. 

 

Quanto ao amor-próprio, verificou-se que o cão não rouba o alimento de seu dono ou tutor e demonstra satisfação quando aplaudido; o cavalo de corrida é passível de disputar e sentir o orgulho da vitória, elaborando estratégias se necessário. O elefante, o cachorro e o cavalo se mostram muito sensíveis ao elogio e, como o antropoide, também temem o ridículo e se aborrecem com a zombaria.

 

A imitação inteligente nos animais atesta certa noção das relações de causa e efeito (consciência da causalidade). Por exemplo, o orangotango e o chimpanzé descobrem como abrir fechaduras; o macaco, por si mesmo, aprende, se necessário, a utilizar uma chave; cães, cabras, gatos, perceberam, sem qualquer educação prévia, a tocar campainha ou abrir uma porta; vacas, mulas, jumentos manejam ferrolhos para abrir porteiras.

 

Ideias abstratas ou o reconhecimento de qualidades sensíveis (cores, aparência, consistências, espécies) são possuídas pelos animais e, consequentemente, memorizam, refletem, raciocinam e até mesmo compreendem a relação de tempo, espaço, profundidade, extensão... Macacos mais inteligentes, por exemplo, possuem a noção de número e avaliam o peso.

 

Conforme a questão 594 de O Livro dos Espíritos, os animais não apresentam uma linguagem formada de sílabas e palavras, mas têm comunicação entre os seres da sua espécie. Como exemplificação, é possível referir o latido de impaciência do cão doméstico, o rugido da cólera, o uivo do desconforto, o grunhido de alegria e da súplica. Os animais que vivem agregados apresentam uma linguagem expressa por sinais ou gestos muito desenvolvida (cães selvagens, elefantes, cavalos em liberdade, abelhas, formigas...). Andorinhas deliberam roteiros para seus deslocamentos em grupo.

 

As faculdades intelectuais dos animais também aumentam com exercícios repetidos, sobretudo naquelas espécies em contato com o homem. Neste sentido, Erasto, em O Livro dos Médiuns (p. 256), cita: "quanto a educar cães, pássaros, ou outros animais, para fazerem tais ou tais exercícios, é trabalho vosso, e não nosso."

 

 

Referências

 

KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. 93. ed. Brasília, DF: FEB, 2013.

 

KARDEC, Allan. O Livro dos médiuns. 81. ed. Brasília, DF: FEB, 2013. p. 256.

 

KARDEC, Allan. Os animais.  Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos, ano III, 

p. 310-319, jul. 1860. 

 

DELANNE, Gabriel. A evolução anímica. Limeira: Ed. do Conhecimento, 2008.

 

DELANNE, Gabriel. A reencarnação. Brasília, DF: FEB, 2001.