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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 156

 

 

ESTUDO SOBRE AS POSSIBILIDADES DOS ANIMAIS - Parte II

 

    

Sonia Hoffmann

 

 

Indagações sobre a mediunidade zoológica normalmente surgem entre as pessoas observadoras do comportamento animal, ainda mais quando elas não se dedicam ao estudo continuado e disciplinado das obras do Espiritismo. Tal tema foi objeto de debates na época de Allan Kardec, e tanto ele quanto os Espíritos afirmam não ser possível mediunizar diretamente nem a matéria inerte (como algum mobiliário, por exemplo) e nem os animais. Como o Espírito Erasto esclarece:

"É-nos sempre necessário o concurso consciente ou inconsciente de um médium humano, porque precisamos da união de fluidos similares, o que não achamos nem nos animais nem na matéria bruta." (KARDEC, 2013, p. 255)

 

O papel do médium é servir como intermediário para a transmissão do pensamento dos Espíritos. O perispírito de uma pessoa e o do Espírito são de natureza idêntica e semelhante, pois ambos possuem propriedades de magnetização e de assimilação mais ou menos vigorosa e desenvolvida, possibilitando assim, uma comunicação mais rápida e facilitada pela afinidade especial e força de expansão particular, que estabelece uma espécie de corrente e de fusão. Estas similitudes e propriedades não existem nos animais e, portanto, a comunicação não pode se estabelecer.

 

Como refere Herculano Pires (1979), a Ontogênese Espírita apresenta o processo evolutivo a partir do reino mineral até o hominal, sendo o reino animal o último elo entre ambos: o homem é considerado um todo formado de espírito e matéria, sendo a evolução um processo dialético de interação entre esses dois elementos; somente nas zonas intermediárias, que marcam a passagem entre os reinos, existe misturas das características anteriores com as posteriores (plantas carnívoras e antropoides, por exemplo), mas só no homem todas as características dos reinos naturais se apresentam em síntese perfeita e equilibrada - inteligência desenvolvida, razão e pensamento criador e contínuo.

 

Muitas aptidões e manifestações de inteligência, afetividade e sensibilidade nos animais realmente estão presentes, porém, confundir com a possibilidade mediúnica neles é realmente algo inaceitável, sejam estes domésticos ou selvagens.

 

Evidentemente, os animais apresentam muitas faculdades correspondentes às humanas. Contudo, como menciona Kardec, em O Livro dos Médiuns, apenas a superstição, a imaginação e o medo levam alguém a acreditar que animais possam ser animados por Espíritos humanos. Entretanto, aqui pode estar outro ponto de confusão: animar é inviável, mas tomar a aparência momentânea de animal é uma possibilidade adotada por Espíritos moralmente muito inferiores, manuseando fluidicamente ou deformando-se perispiriticamente. Hermínio Miranda refere-se a estes casos como de zoantropia e licantropia, em que os Espíritos se comportam como animais.

 

Alguns animais, tal como o cão e o cavalo (exemplificadamente), podem apresentar, no entanto, uma certa sensibilidade visual e de pressentimento muito antes de alguns acontecimentos e aparições serem percebidos pelo ser humano, mostrando-se assustados e inquietos à aproximação de Espíritos. (DENIS, 2008).

 

Assim, como encontrado em O Livro dos Médiuns, é exata a condição dos Espíritos tornarem-se visíveis e tangíveis aos animais. Muitas vezes, o medo, terror ou desconforto súbito que eles apresentam podem ser determinados pela visão de um ou de muitos Espíritos, geralmente com más intenções dirigidas aos indivíduos presentes ou aos donos dos animais.

 

Gabriel Delanne (2001), no livro A Reencarnação, narra alguns episódios sobre tais possibilidades, sendo destacados dois destes acontecimentos envolvendo, respectivamente, um cão e uma gata.

 

Um homem, em torno dos 18 anos de idade, estava em casa de seu pai. Certa manhã, levantou-se às 5 horas a fim de acender o fogo e preparar o chá. Um grande cão, que habitualmente o acompanhava por toda parte, achava-se a seu lado, enquanto ele preparava o fogo. Em dado momento, o cão soltou um uivo surdo e o homem o viu olhar na direção da porta. Ao voltar-se para lá, percebeu, aterrorizado, uma figura humana, alta e tenebrosa, cujos olhos flamejantes se dirigiam a ele. O homem gritou e caiu de costas no chão. Seu pai e os irmãos correram imediatamente. Quando foi contado a eles a visão, julgaram ter sido ela originada por uma imaginação perturbada por recente doença. Mas foi considerado ter o cão também percebido alguma coisa. Por vezes, o cachorro via o que era invisível para seu dono, lançando-se para o invisível, mordendo no ar e encarando o homem como a dizer: tu não vês?

 

Uma senhorita, em uma tarde de inverno, estava em seu quarto, sentada perto do fogo, inteiramente absorvida em acariciar sua gatinha encolhida em seu colo com os olhos fechados. Apesar de não haver luz no quarto, os reflexos da chama iluminavam perfeitamente todos os objetos. O compartimento tinha duas portas (uma dava para um apartamento provisoriamente fechado e a outra, à frente, abria para o corredor). Fazia alguns minutos que sua mãe tinha saído do quarto e a poltrona ocupada por ela ficara vazia. A gatinha parecia cada vez mais sonolenta e a senhorita já pensava em ir deitar-se. Repentinamente, ela viu que alguma coisa inesperada tinha perturbado a tranquilidade do animal, que havia cessado bruscamente de ronronar e dava evidentes sinais de crescente inquietação. A moça se inclinou para a gata, procurando acalmá-la, quando ela abruptamente se levantou, começou a soprar fortemente com o dorso erguido, a cauda eriçada como em desafio e terror. A dona levantou a cabeça e viu, com assombro, uma pequena, feia e encarquilhada figura de velha megera sentada na poltrona ocupada anteriormente pela mãe. Ela tinha as mãos nos joelhos, o corpo inclinado, com a cabeça perto da senhorita. Os seus olhos penetrantes, luzentes, mal a fixavam, imóveis. Suas vestes e o conjunto do aspecto eram os de uma mulher da burguesia francesa. Suas pupilas estranhamente dilatadas e uma expressão má, absorviam completamente os sentidos da moça que desejava gritar, mas os tais olhos maléficos a fascinavam e tiravam a respiração, não podendo nem desviar o olhar da visão nem se levantar. A moça procurou segurar fortemente a gata, mas ela com desesperados esforços conseguiu se libertar e, saltando pelos móveis, atirou-se violentamente, e por muitas vezes, na moldura de vidro da parte superior da porta que dava para o apartamento fechado. Em seguida, voltando-se para a outra porta, ela começou a atirar-se com redobrada fúria. O terror da moça tinha aumentado; agora, ela ora olhava para a megera, cujos olhos maléficos continuavam fixados nela, ora seguia com os olhos a gata, que se tornava cada vez mais frenética. Finalmente, a ideia terrível de que o animal pudesse enraivecer teve por efeito restituir-lhe a respiração e começou a gritar com todas as forças. Sua mãe veio apressadamente. Logo que a segunda porta foi aberta, a gata saltou acima da cabeça da mãe e durante uma boa meia hora continuou a correr, descendo pela escada como se alguém a perseguisse. A moça voltou-se para mostrar à mãe a causa do espanto, mas tudo havia desaparecido. Ela calculou que a aparição tenha persistido durante quatro ou cinco minutos. Depois, elas ficaram sabendo que outrora essa casa pertencera a uma mulher que se enforcou naquele mesmo quarto.

 

A percepção extrassensorial é muito difundida no reino animal, como menciona Herculano Pires, mas Espíritos não inferiores sempre aplicam às necessidades vitais. Ou seja, Espíritos com a tarefa de zelar por esse reino, excitam as percepções animais, em certas ocasiões, para atendimento de circunstâncias especiais da vida humana (como o episódio bíblico de Balaão, por exemplo). Isto, porém, nada tem de relação com uma pretensa mediunidade zoológica.

 

Quanto à materialização de animais em sessões experimentais e casos espontâneos de aparições de animais-fantasmas, segundo este autor, estimula a ideia da mediunidade animal. Herculano Pires, contudo, enfatiza que as pessoas impressionadas por esses casos, certamente não se atentam ou não se lembram de que as materializações são produzidas pela ação dos Espíritos (tão esclarecido em O Livro dos Médiuns, com referência ao Laboratório do mundo invisível), os quais tanto podem materializar a figura humana, como objetos ou um animal.

 

Desta maneira, é preciso estudar para compreender e romper com uma imaginária e deturpada presença de mediunidade em animais.

 

 

Referências

 

DELANNE, Gabriel. As faculdades supranormais nos animais e seu princípio individual. In: ____. A reencarnação. Brasília, DF: FEB, 2001. Cap. V.

 

DENIS, León. Fenômenos físicos: as mesas. In: ____. No invisível. Brasília, DF: FEB, 2008. Segunda parte: O Espiritismo experimental: os fatos, cap. XVII.

 

KARDEC, Allan. Da mediunidade nos animais. In: ____. O Livro dos médiuns. 81. ed. Brasília, DF: FEB, 2013. Cap. XXII, p. 251-256. 

 

MIRANDA, Hermínio C.  Deformações. In: ____. Diálogo com as sombras. Brasília, DF: FEB. Segunda parte, cap. 12.

 

PIRES, José Herculano.  Mediunidade zoológica. In: Mediunidade. Brasília, DF: Edicel, 1979. Cap.11 p. 47-51.