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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 162


O Espiritismo e a Ciência – parte XVIII


Edson Ramos de Siqueira



Tenho abordado, desde os artigos 125, 128,133, 137, 141, 145, 149, 154 e 158, questões elucidativas da desencarnação, com base na obra científica espírita de Ernesto Bozzano. Neste capítulo da série, transcrevi as respostas (pela via mediúnica) do Espírito desencarnado Jim Nolan, que fora soldado na Guerra de Secessão nos Estados Unidos, às perguntas formuladas por um pesquisador.   

P.: - Que impressão tiveste da tua primeira entrada no Mundo Espiritual?

R.: - Parecia-me que despertava de um sono, com um pouco de atordoamento a mais. Já não me sentia enfermo e isso me espantava grandemente. Tinha uma vaga suspeita de que alguma coisa estranha se passara, todavia não sabia definir o que se tratava. Meu corpo se achava estendido no leito de campanha e eu o via. Dizia para mim mesmo: “Que estranho fenômeno!” Olhei ao meu derredor e vi três de meus camaradas mortos nas trincheiras de Vicksburg e que eu enterrara. Entretanto, ali estavam na minha presença! Olhavam a sorrir. Então, um dos três me saudou, dizendo:

- Bom dia, Jim; também é dos nossos?

- Sou dos vossos? Que queres dizer?

- Que te achas aqui, conosco, no mundo dos Espíritos. Não te apercebestes disto? É um meio onde se está bem.

Estas palavras eram muito fortes para mim. Fui presa de violenta emoção e exclamei:

- Meu Deus! Que dizes! Estou morto?

- Não; estás mais vivo do que nunca, Jim; porém te achas no Mundo dos Espíritos. Para te convenceres, não tens mais do que atentar no teu corpo.

Com efeito, meu corpo jazia, inanimado, diante de mim, sobre a maca. Como, pois, contestar o fato? Pouco depois, chegaram dois homens que colocaram meu cadáver numa prancha e o transportaram para perto de um carro; neste o puseram, subiram à boleia e partiram. Acompanhei então o carro, que parou à borda de um fosso, onde o meu cadáver foi arriado e enterrado. Fora eu o único assistente do meu enterro...

P.: - Quais as sensações que experimentaste na crise da morte?

R.: - A que se experimenta quando o sono se apodera da gente, mas deixando que ainda se possa lembrar de alguma ideia que tenha tido antes do sono. A gente, porém, não se lembra do momento exato em que foi tomado pelo sono. É o que se dá por ocasião da morte. Mas, um pouco antes da crise fatal, minha mente se tornara muito ativa; lembrei-me subitamente de todos os acontecimentos da minha vida; vi e ouvi tudo o que fizera, dissera, pensara, todas as coisas a que estivera associado. Lembrei-me até dos jogos e brincadeiras do campo militar; gozei-os, como quando deles participei.

P.: - Conta-nos as tuas primeiras impressões no Mundo Espiritual.

R.: - Ia dizer-vos que os meus bons amigos soldados não mais me abandonaram, desde que desencarnei até o momento em que fiz a minha entrada no Mundo Espiritual; lá, tinha eu avós, irmãos e irmãs, que, entretanto, não me vieram receber quando desencarnei. Ao entrar no Mundo Espiritual, parecia-me caminhar sobre um terreno sólido e vi que ao meu encontro vinha uma senhora idosa, que me dirigiu a palavra assim:

- Jim, então vieste para onde estávamos?

Olhei-a atentamente e exclamei:

- Ó avozinha, és tu?

- Sou eu mesma, meu caro Jim. Vem comigo.

E me levou para longe dali, para sua morada. Uma vez lá, disse-me ser necessário que eu repousasse e dormisse. Deitei me e dormi longamente...

P.: - A morada de que falas tinha o aspecto de uma casa?

R.: - Certamente. No Mundo dos Espíritos há a força do pensamento, por meio do qual se podem criar todas as comodidades desejáveis...

Leia a seguir, parte dos comentários de Ernesto Bozzano a respeito desta comunicação mediúnica.

 Esta grande verdade, que nos foi comunicada pelos Espíritos, permite resolvamos uma imensidade de questões teóricas, obscuras, determinadas pelos informes que hão dado as personalidades mediúnicas, relativamente ao meio espiritual, às formas que os Espíritos revestem, às modalidades da existência deles; todas as informações que constituem uma reprodução exata, ainda que espiritualizada, do meio terrestre, da Humanidade, das modalidades da existência neste mundo. 

Essa grande verdade, que resolve todos os enigmas teóricos em questão e que se funda no poder criador do pensamento no meio espiritual, é confirmada de modo impressionante por fatos que se desenrolam no meio terrestre. Trata-se, com efeito, disto: o pensamento e a vontade, mesmo na existência encarnada, são susceptíveis de criar e de objetivar as formas concretas das coisas pensadas e desejadas, do mesmo modo que este fenômeno se realiza no meio espiritual, embora no meio terrestre semelhante criação não se dê senão por intermédio de alguns médiuns especiais. Aludo aos maravilhosos fenômenos de fotografias do pensamento ou de ideoplastia...

Uma outra questão importante é a de personalidades mediúnicas afirmarem que essas condições de existência espiritual são transitórias, e se fazem presentes na esfera mais próxima do mundo terrestre, isto é, a que se destina aos Espíritos recém-chegados. Esta circunstância é providencial. Imagine-se, com efeito, que sensação de desolação e de desorientação experimentaria a maior parte dos desencarnados se, logo depois do instante da morte, houvessem de ver-se bruscamente despojados da forma humana e lançados num meio espiritual essencialmente diferente daquele onde se lhes formaram as individualidades, a que ainda se encontram ligados por uma delicada trama de sentimentos afetivos, de paixões, de aspirações, que se não poderia romper de súbito, sem os levar ao desespero, e onde, sobretudo, se encontra o meio doméstico que lhes é próprio, constituído por um mundo de satisfações temporais e espirituais, de todas as espécies, que contribuem cumulativamente para criar o que se chama a alegria de viver.

Se imaginarmos tudo isso, teremos de reconhecer racional e providencial que um ciclo de existência preparatória passe entre a existência encarnada e a de puro Espírito, de maneira a conciliar a natureza, por demais terrestre, do Espírito desencarnado, com a natureza da existência espiritual propriamente dita.