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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 164



REVISTA ESPÍRITA INCLUSIVA



    Sonia Hoffmann



Com a celebração dos 165 anos de publicação da Revista Espírita, é importante assinalar o quanto esta obra é inclusiva. Nos diversos fascículos, Allan Kardec apresentou artigos e teceu comentários esclarecedores, fundamentados no Espiritismo, sobre deficiências e diferenças, referindo suas necessidades, possibilidades e reflexões para a ocorrência.


O amplo espectro de abordagens nesta obra demonstra que a presença de uma deficiência em alguém, na atual reencarnação, não inviabiliza a expressão de aptidões conquistadas em vidas pretéritas e não impede que esta pessoa possa também expressar alta habilidade em alguma área. Esta condição pode ser encontrada na edição de janeiro de 1867, no artigo com o título “Tom, o cego, músico natural", o qual descreve a história de um menino cego e filho de escravos que se aproxima do piano do seu senhor e executa uma melodia clássica. Posteriormente, ele se torna famoso músico, atuando não apenas nos Estados Unidos da América.


Com o título “Uma Família De Monstros”, é descrito que cinco crianças nascem em uma família cujos pais não apresentam nenhuma alteração física ou fisiológica, ou com aparência disforme e animalesca, alteração motora de membros inferiores, surdez deficiência intelectual e cegueira. A mãe mostra-se admiravelmente conformada, tanto com as monstruosidades quanto com as enfermidades. Tendo sido sondada a divina equidade acerca deste fato, um Espírito evocado informa que tais almas expiam e reparam, em corpos diferentes, seus equívocos e suas faltas passadas porque não há um só revés da vida que não seja a consequência e a punição de uma falta pretérita, enquanto não houver verdadeiro arrependimento e reparação. Estas consequências não se restringem somente às crianças, mas também à mãe, pois ela, em vida anterior foi orgulhosa, dura com as pessoas enfermas e caídas em desgraça, das quais desviava-se com repulsa. Ela também era, na época, vaidosa da beleza física de seus filhos, à custa de infelizes mães desfavorecidas. Com esta ação, a mulher desenvolveu nos filhos vícios que retardaram a eles o avanço, por não desenvolverem qualidades do coração. Por tal razão, Deus permitiu que, na sua atual existência, ela só tivesse filhos disformes com o objetivo de que a ternura maternal a ajudasse a vencer sua repugnância pelos infelizes e procurasse seu adiantamento pela aprendizagem.


A mediunidade em alguém com deficiência é igualmente colocada entre os diversos temas da Revista Espírita. No artigo, uma freira cega pintava e desenhava detalhadamente, deixando muitas pessoas perplexas. O comentário com perspectiva doutrinária é de que o perispírito não apresenta a cegueira e, através dele, o direcionamento correto era realizado e as obras ficavam perfeitamente acabadas.


Uma criança, em vigília, era acometida de mutismo, apesar dos esforços maternos para ela falar. Entretanto, a mãe, durante a noite, se acordava com o som de sua filha, que dormia, repetindo letras do alfabeto e palavras como se estivesse em processo de aprendizagem. Foi esclarecido que o Espírito Protetor desta criança a auxiliava a recuperar a fala, enquanto emancipada do corpo, e a família foi orientada que ela conversaria normalmente, após sofrer um trauma. Isto realmente aconteceu quando sua vó se acidentou e a menina passou a expressar-se oralmente sem problema algum.


Um rapaz surdo, que também não se expressava pela fala, foi instalado em uma poltrona de um quarto e um prato de uvas a ele foi dado para comer. O médium se posicionou na mesa e fez a evocação do Espírito. O jovem adormeceu e passou a responder normalmente o que lhe era perguntado, esclarecendo que sua surdez decorria de expiação como consequência de seus crimes passados, pois havia matado alguém da família (foi parricida). Após a comunicação, o rapaz acordou e de nada recordava.

 

Dois irmãos desenvolveram, na infância, deficiência intelectual ocasionada pela mesma enfermidade e em condições idênticas. Um deles padecia de raquitismo total, mas ambos, contudo, têm sentimento, amando um ao outro e a seus pais. Um deles possui um grande medo da morte. Os pais demonstram profunda ternura pelos filhos e oferecem a eles dedicados cuidados. As crianças, na perspectiva espírita, não apresentam nenhum dos caracteres da obsessão. O olhar e a fisionomia deles traduz a presença de um pensamento ativo o qual não pode ser expresso. Na Sociedade Espírita de Paris, foi revelado em comunicação espiritual que eles se encontravam em processo expiatório conjunto porque participaram juntos, da mesma vida no passado.


Quanto aos pais, eles têm sua parte no que está ocorrendo, sendo colocados em provação. Importante foi o alerta quanto à importância da interação e ternura da família, que traz grande mérito evolutivo.


Estes relatos são alguns exemplos dos artigos possíveis de serem encontrados na referida obra, a qual deve ser criteriosamente estudada e o estímulo para ela ser mais difundida precisa ser agilizado.


Referências


KARDEC, Allan. Um médium pintor cego. Revista Espírita. v. 7, n. 3, p, 102-106, mar. 1864. 


KARDEC, Allan. Estudos morais – uma família de monstros. Revista Espírita. v. 7, 

n. 9, p. 381-385, set. 1864.


KARDEC, Allan. Evocação de um surdo-mudo encarnado. Revista Espírita. v. 8, n. 1, p. 38-41, jan. 1865.


KARDEC, Allan. Espíritos instrutores da infância - criança afetada de mutismo. Revista Espírita. v. 8, n. 2, p. 66-69, fev. 1865.

 

KARDEC, Allan. Problema psicológico - dois irmãos idiotas. Revista Espírita. v. 8, n. 8, p. 322-326, ago. 1865. 


KARDEC, Allan. Tom, o cego, músico natural. Revista Espírita. v. 10, n. 2, p. 79-81, fev. 1867.