Logo
Logo

ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 168



VALORIZAÇÃO DA MULHER NA REVISTA ESPÍRITA



    Sonia Hoffmann



A Revista Espírita, publicada por Allan Kardec no período de 1858 até março de 1869, abrilhantou e enriqueceu o Espiritismo com os mais variados artigos, os quais serviram como referencial e até mesmo foram inseridos (parcial ou integralmente) no pentateuco doutrinário.


Diversos temas foram abordados, e um deles está relacionado com a valorização e igualdade dos direitos da mulher como ser humano e apta a assumir ocupações nos diferentes aspectos de atuação na sociedade, na mais legítima e justa consagração da visibilidade, consideração e respeito por todos.


Nessa obra, é afirmado ser o Espiritismo, entre todas as doutrinas filosóficas e religiosas, incomparável em estabelecer os direitos da mulher sobre a própria Natureza, ao provar a identidade do ser espiritual nos dois sexos. A sustentação encontra-se nela não pertencer a uma criação distinta, o Espírito pode nascer tanto como homem quanto mulher (de acordo com o gênero de provas a qual deseja submeter-se para seu progresso); a diferença está somente no invólucro exterior (corpo material ou físico). Isto não provém de uma simples teoria, mas sim da observação dos fatos, e também do conhecimento das leis que regem o mundo espiritual. Por conseguinte, a propagação da Doutrina Espírita favorece a emancipação feminina de maneira estável e a coloca na posição social que lhe pertence.


Kardec ainda opina que se todas as mulheres compreendessem as consequências do Espiritismo, todas elas seriam espíritas por encontrarem doutrinariamente o mais poderoso argumento a ser invocado.


O homem (sexo masculino), ao negar a existência do Espírito para considerar apenas o ser corporal, e ao contestar a perpetuidade do ser inteligente a fim de só encarar a vida presente, rejeita o único princípio sobre o qual, com razão, é fundamentada a igualdade de direitos. As ideias de emancipação são céleres, e a renovação social no reconhecimento das mulheres, tanto quanto os homens, sofrem a influência do sopro progressivo que agita o mundo e avança cada vez mais. Os homens começam a compreender a justiça em afrouxar um pouco os laços da tutela sob os quais mantêm as mulheres. Mas, a igualdade dos direitos não implica igualdade de atribuições, pois "Deus dotou cada ser de um organismo apropriado ao papel que deve desempenhar na Natureza. O da mulher é traçado por sua organização, e não é o menos importante. Há, pois, atribuições bem caracterizadas, conferidas a cada sexo pela própria Natureza, e essas atribuições implicam deveres especiais que os sexos não poderiam cumprir eficazmente saindo de seu papel. Há uns em cada sexo, como de um sexo a outro; a constituição física determina aptidões especiais; seja qual for sua constituição, todos os homens certamente têm os mesmos direitos” (Kardec, 1867, p.232).


No entanto, Kardec pondera que a mulher, na febre de emancipação, venha a se julgar apta a preencher todas as atribuições do homem e entre em um estado de excesso contrário: do ter tido muito pouco queira ter demasiadamente. Disto entendemos que é importante ambos, homens e mulheres, conquistarem um ponto de equilíbrio porque, como ele menciona, Se as mulheres têm direitos incontestáveis, a Natureza também tem os seus, os quais jamais perde. Preciso é o reconhecimento, pela experiência, de suas insuficiências nas coisas às quais não foram requisitadas pela Providência. O caminho pode e deve ser ampliado, mas não pode ser desviado sem prejuízo para quem parte para o excesso ou o abuso, como o artigo propõe.


Os Espíritos foram indagados acerca de qual a influência o Espiritismo deve ter sobre a condição da mulher, tendo sido obtida resumidamente a seguinte resposta: os homens, em todos os tempos, julgaram-se fortes e serviram-se da mulher não como de uma companheira ou família, mas dela se servindo bestialmente e acostumando-a a manter respeitosa distância do senhor. Deus, entretanto, não quis que uma metade da Humanidade fosse dependente da outra, e assim não fez duas criações distintas para uma estar constantemente a serviço da outra. Ele quis que todas as suas criaturas pudessem participar, na mesma proporção, do banquete da vida e do infinito. A mulher atual quer ter lugar igual ao do homem na sociedade. Ela se comporta como uma mola comprimida a se distender, pois começa a compreender ser chegada a sua hora. Pobres homens! Os Espíritos não têm sexo; aquele que hoje é homem pode ser mulher amanhã e escolhem, por vezes de preferência, ser do sexo feminino. Antes vocês deveriam se regozijar com a emancipação da mulher do que se afligir com isto, admitindo-a no banquete da inteligência, abrindo para ela todas as portas da Ciência, porque seu toque é mais delicado, tem concepções mais finas e mais suaves.


Como conclusão, é perceptível o quanto o Espiritismo se conecta com a libertação dos tabus sociais sofridos pela mulher, mas esta emancipação precisa ocorrer ponderadamente a fim de que esta mesma mulher não venha a se escravizar no excesso, porque diferenças entre os sexos existem e tal concepção deve ser respeitada por todos, em seus papéis e funções, sem extrapolamentos ou reducionismos sem sentido.



Referência


KARDEC, Allan. Emancipação das mulheres nos Estados Unidos. Revista Espírita, v. 10, n. 6, p. 227-236, jun. 1867.