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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 181



O DEVER E A VIRTUDE



    Sonia Hoffmann



O dever, como substantivo exercitado na ação, é a obrigação moral primeiramente conosco mesmos e, como instrui Lázaro em O Evangelho Segundo o Espiritismo, para com os outros em seguida (KARDEC, 1863a). Este ensinamento nos reporta àquele trazido por Jesus "ama teu próximo como a ti mesmo", ou seja, o amor e o reconhecimento de sermos uma criação Divina deve fluir naturalmente para quem participa das humanidades.


O dever é lei da vida, encontrado tanto nos atos mais simples quanto nos mais elevados, e pode se estabelecer desde a infância até ao idoso, sem distinção qualquer de raça, crença ou condição social.


O livre-arbítrio de cada um define o cumprimento ou não do dever, gerando sempre consequências que tanto são boas ou más, conforme nossa intenção e aplicação. Muitas vezes, mesmo que a consciência nos informe ou faça advertências que estamos infringindo as Leis Divinas, colocadas em cada um de nós, muitas vezes nos deixamos levar pelo arrastamento das ilusões, pelos enganos e equívocos das paixões, nos fragilizando e precisando passar pelas devidas aprendizagens.


Os deveres profissionais, e até alguns sociais, provavelmente em diversos momentos são mais facilmente cumpridos porque podem estar vinculados aos nossos desejos presentes ou futuros. Moralmente, porém, sentimos mais dificuldades em cumprir os deveres porque, de acordo com nossa bagagem espiritual, esta prática pode estar em oposição às nossas conveniências, orgulho, egoísmo ou vaidade. A conciliação entre a realização de nossos interesses e o cumprimento do dever nem sempre representa uma tarefa fácil.


Alguns indicativos de deveres morais que temos para conosco e também para com o próximo se encontram no autoconhecimento, autoiluminação, aprimoramento moral, respeito aos nossos limites (para mais ou para menos, saindo da preguiça ou deixar de assumir excessos de compromissos, não cumprindo com qualidade alguns ou nenhuns), a generosidade, o respeito às possibilidades de cada pessoa (e às nossas próprias), ação de modo inclusivo com as diferenças.


Uma pergunta que provavelmente seja feita em algum momento ou circunstância: como determinar corretamente onde começa e onde termina o dever? Lázaro indica o seu princípio exatamente no ponto em que ameaçamos a felicidade ou a tranquilidade do nosso próximo; por sua vez, o dever acaba no limite que não desejamos que alguém transponha com relação a nós. Ou seja, não façamos para os outros o que não gostaríamos que nos fizessem, sempre nos orientando na indicação de Santo Agostinho, questão 919 de O Livro dos Espíritos (KARDEC, 2013c): como nos sentiríamos se agissem conosco como interagimos com os outros quando existe desvalorização ou prejuízo moral. Então, não façamos também a mesma coisa nem para eles e nem para nós. Este conhecimento precisamos intensificar e, como refere José, em comunicação na Revista Espírita, nosso dever como espíritas é mostrar que, contrariamente como muitos pensam, as portas do esclarecimento foram abertas e não fechadas.


É importante amar o cumprimento do dever, não porque isto possa nos preservar de vivenciar os desafios, males e dificuldades da vida, ainda mais em um planeta de provas e expiações como a Terra, mas porque este exercício confere à alma o vigor, o fortalecimento necessário para seu desenvolvimento moral. 


Como consta no parágrafo que foi subtraído na passagem da comunicação feita por Lázaro sobre o dever, contida na Revista Espírita para o Evangelho Segundo o Espiritismo: "O homem não pode desviar o cálice de suas provas; o dever é penoso em seus sacrifícios; o mal é amargo em seus resultados; mas essas dores, quase iguais, têm conclusões muito diferentes: uma é salutar como os venenos que restauram a saúde, a outra é nociva como os festins que arruínam o corpo". (KARDEC, 1863a)


O homem que cumpre o seu dever, como somos instruídos, ama a Deus mais do que as criaturas e, logo após, ama as criaturas mais do que a si mesmo. É igualmente juiz e escravo em causa própria: juiz ao definir a prática do dever e escravo ao dedicar-se ao seu cumprimento com a melhor lealdade possível.


Como aborda André Luís (2022), no livro Sinal verde, na mensagem 31 (Notas Breves), é importante não perder tempo, não fugir ao dever, respeitar os compromissos e servir quanto possamos.


Com a constância do cumprimento do dever, ele torna-se hábito e toma a direção de uma ação espontânea, constituindo virtude.


Virtude, assim, é qualidade que se torna efetivada pelo hábito. Inteligência e vontade atuam simultaneamente. A virtude regula os atos humanos, organiza suas paixões e guia a conduta do ser, segundo os ditames da razão e da fé.


A virtude, como sinaliza o Evangelho Segundo o Espiritismo, é o conjunto de todas as qualidades essenciais constituintes da criatura de bem, como ser bom, modesto, laborioso, caritativo, sóbrio. Não é considerado como virtuoso, entretanto, quem ostenta sua virtude, faltando nele a qualidade principal: a modéstia, tendo o vício contrário: o orgulho. A virtude, verdadeiramente digna, não gosta de se ostentar e sim de ser adivinhada, por isto se oculta e foge à admiração das pessoas. O virtuoso não se preocupa em ser conhecido e entendido pelo mundo, mas sim por Deus (KARDEC, 2013a).


Todas as pessoas de bem, virtuosas, desconhecem que assim sejam, porque seguem apenas a bússola das inspirações, fazendo o bem com o mais completo desinteresse e inteiramente esquecidas de si mesmas.


Conforme a questão 893 de O Livro dos Espíritos (KARDEC, 2013b), as virtudes têm seu mérito, porque todas são sinais de progresso no caminho do bem. A mais meritória é aquela fundamentada na mais desinteressada caridade. Virtude sempre existe quando houver resistência voluntária ao arrastamento oferecido pelas más inclinações. Logo, virtude é muito mais do que simples potencialidade ou inclinação para realizar algo nobre, mas uma verdadeira disposição manifestada sempre em benefício de alguém no exercício do bem. Se relaciona a duas capacidades humanas: conduta moral no bem e habilidade para fazer corretamente algo.


Feita a pergunta se a virtude é concedida por Deus ou é aquisição da criatura, Emmanuel (2008) responde: a dor, a luta e a experiência constituem oportunidade concedida por Deus; a virtude, todavia, é sempre sublime e imorredoura aquisição do espírito nas estradas da vida, anexada eternamente aos seus valores, conquistados pelo trabalho e seu próprio esforço.


A relação existente entre dever e virtude está em todos que trabalham pela evolução moral e intelectual; precisamos nos dedicar, com esforço e confiança, ao exercício do dever em desenvolver a sabedoria.


Referências


ANDRÉ LUIZ (Espírito). Sinal verde. Psicografado por Francisco C. Xavier. Brasília, DF: FEB, c2022. Mensagem 31: Notas Breves.


EMMANUEL (Espírito). O consolador. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 28. ed. Brasília, DF: FEB, 2008. Pergunta 253, p. 206.


KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131. ed.  Brasília, DF: FEB, 2013a. Cap. 17: Instruções dos Espíritos. 


KARDEC, Allan. O Dever. Revista Espírita, ano VI, n. 12, p. 500-502, dez. 1863a. 


KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Brasília, DF: FEB, 2013b. Questão 893. 


KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Brasília, DF: FEB, 2013c. Questão 919. 


KARDEC, Allan. O Espiritismo na Argélia. Revista Espírita, ano VI, n. 12, p. 469-476, dez. 1863b.v