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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 193



TERESA DE ÁVILA, A MONJA DESCALÇA!


    

Sonia Hoffmann



Teresa, criança esperada e muito amada, nasceu aos 28 de março de 1515, em uma quarta-feira. Filha de Dom Alonso de Cepeda e Dona Beatriz de Ahumada, recebe na família, desde a infância, os ensinamentos e leitura da vida dos santos feita por seu pai nas noites do inverno de Ávila. As leituras influenciaram a imaginação fértil da menina, formando-se nela a consciência de dedicar sua vida por amor a Jesus. Impressionada pela conduta dos mártires, ela, com sete anos, foge com seu irmão Rodrigo para a terra dos mouros a fim de ser mártir. O empreendimento foi sem êxito, mas, mostra-se decidida e convicta para experienciar a vida religiosa, quando adulta, embora sem a aprovação do pai.


Seu tio Pedro foi fundamental, pois ele falava em Deus e sobre as vaidades do mundo. A leitura de livros, especialmente as Cartas de S. Jerônimo, também influenciou para sua conversão como monja carmelita. Em 2 de novembro de 1535, ela novamente foge de casa, agora com seu irmão Antônio, para o convento da Encarnação.


No período entre 1535 e 1538, determinada em seguir a Jesus, Teresa desenvolveu doenças resultantes da mudança de vida e de alimentação, como ela mesma justifica. Desenganada pelos médicos, seu pai decide tirá-la do convento e levá-la para ser tratada por curandeiros em Beceda. O tratamento não deu resultado e na casa paterna, em Ávila, ela sofre um colapso que durou três dias e todos a julgaram morta. Porém, retoma sua consciência e volta restabelecida para o mosteiro da Encarnação.


O intervalo de 1540 a 1554, foi considerado por Teresa como anos medíocres, sem "sabor", mas questionadores porque ela desejava uma vida tranquila. Por um lado, dizia ela, Deus a chamava, e por outro, ela seguia o mundo. Percebia-se presa às coisas do mundo, mas sentia-se imensamente alegre com as coisas de Deus. Ela tinha a sensação de querer conciliar estes dois contrários, mas afirmava ser a verdadeira aventura de caráter espiritual.


Entretanto, os dois anos posteriores são para Teresa de intensa oração e vida espiritual, recebendo grandes obras de Deus, e isso a apavora. Representa o tempo mais difícil de sua vida. A amizade com o franciscano Pedro de Alcântara a retira desta triste noite escura. Porém, a visão do inferno a preocupa e perturba interiormente. Com isto, ela começa a pensar na fundação de um convento com novas características, no qual possa realizar seus desejos de oração, de solidão e de vida fraterna. O povo e toda a cidade se opõem e consideram um perigo, mas o empreendimento tem início no dia 24 de agosto de 1562. Conflitos surgiram, pois havia a alegação do povo em não ter condições financeiras suficientes para a manutenção das freiras. As carmelitas calçadas se preocupam, porque percebiam que seus costumes também seriam modificados com as novas regras para terem mais austeridade, ordem e simplicidade, com as quais não estavam habituadas.


Madre Teresa, embora exigente, tinha uma atitude elegante, terna e alegre na sua maneira de tratar as pessoas, vivendo com intensidade o exercício da caridade e da solidariedade, mostrando a todos como devemos nos relacionar com os outros (nossos irmãos) e com seus sofrimentos. Sua visão humana é impressionante, desejando que todos ao seu redor se sintam realizados e felizes, vendo as pessoas através da ótica Divina.


Até 1567, Teresa permanece no convento de São José. Estes anos são para ela uma felicidade por ter fundado seu primeiro convento, ter aumentado as vocações e estabilizado o ideal carmelitano. Ela escreve o Caminho de Perfeição, a Vida, as meditações sobre o Cântico dos Cânticos e as Constituições, percebendo também a necessidade de promover novas fundações em outros lugares.


O encontro providencial com São João da Cruz, em Medina del Campo, no ano de 1567, marca profundamente a vida de Teresa. Em 28 de novembro de 1568, ela realiza a primeira fundação dos descalços, no pequeno lugarejo de Duruelo; posteriormente, o mosteiro de Toledo e fundação dos descalços em Pastrana (1569). Em 1571, Teresa funda o Carmelo de Alba de Tormes e, em 1575, o mosteiro de Sevilha.


Os anos considerados mais tempestuosos da reforma teresiana deu-se no período de 1575 a 1580, porque as atividades das fundações foram crescendo intensa e rapidamente, causando reação de incompreensão dos calçados. Teresa luta pela autonomia e independência do seu movimento, para ele crescer e se firmar. Ela defende, em carta enviada ao rei Filipe II, a sua obra e os seus amigos e filhos descalços, a quem vê inutilmente perseguidos, orientando o Pe. Graciano para ele preparar bem as condições das descalças de Alcalá.


Com 67 anos de idade, idosa, pobre, desapegada dos valores humanos e cansada, Teresa de Jesus morre em 4 de outubro de 1582 , em Alba de Tormes, às nove horas da noite, como filha ativa da Igreja e mãe do Carmelo e das descalças. O dia designado a ela é 15 de outubro. Sua participação foi efetiva na sociedade, na Igreja e na vida religiosa da sua época. Madre Teresa não ficou seus dias em orações contemplativas no silêncio do mosteiro. Ela contempla e reflete, percorrendo muitos quilômetros pelas estradas da Espanha, sob todas as intempéries, cansada e feliz por fundar mais um Carmelo, onde Deus é amado e louvada a Virgem do Carmo. Para encontrar a presença do Senhor ou viver uma vida contemplativa, diz ela, "não é necessário fugir do convívio dos homens. A fuga do mundo, antes de ser um fato geográfico, é um fato espiritual; na medida em que o nosso coração livrar-se dos apegos e se esvaziar de tudo o que não é Deus, teremos a capacidade de sentir que Deus está lá onde nós estamos, totalmente atentos e abertos a Ele" (SCIADINI, 2011, p. 14).


Além de conventos e mosteiros, tanto para homens quanto para mulheres, ela nos deixou mais de 400 cartas, relatos inteligentes e descontraídos de seus escritos. Suas mensagens permanecem extremamente preciosas, válidas e atuais, porque Teresa se preocupou com valores fundamentais do ser humano, com seus desafios e dificuldades encontrados para a conquista da íntima comunhão com Deus, estabelecendo com Ele uma autêntica história de amizade, independentemente da vocação ou religião. A grande novidade trazida por esta Madre é fazer de Deus o melhor amigo do homem. Somente percorrendo o caminho da amizade, da humildade, do desapego e da verdade, como refere Teresa, Deus nos admite na sua intimidade e convida-nos a realizar a mais estreita comunhão. 


Sigamos corajosamente os passos descalços de Teresa, pois esta desnudação simboliza o rompimento com a vaidade, com o passageiro, com o orgulho das aparências. Recordemos sempre o quanto somos peregrinos e busquemos marcar nossa viagem na história com sinais e rastros de autêntica cristandade, porque ninguém passa pela vida sem alguma finalidade.


Referências


AUCLAIR, Marcelle. Santa Teresa de Ávila: a dama errante de Deus. Porto: 

Livraria Apostolado da Imprensa, 1990.


SCIADINI, Patricio. As fundações de Santa Teresa de Ávila. Fortaleza: Edições Shalom, 2011.