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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 200



Esperanto, estratégia inclusiva linguística?


    

Sonia Hoffmann



A diversidade linguística na Terra representa, em muitos momentos, forte barreira para o entendimento entre os habitantes do planeta e o compartilhamento de conquistas entre todos, retardando, frequentemente, o avanço em função de alguma restrição idiomática. A palavra pronunciada ou escrita, como refere Francisco Lorenz, é e por milênios será ainda o agente de difusão e transmissão dos valores do Espírito, estabelecendo a comunhão dos seres nas zonas de aprendizado nas quais se desenvolve a evolução.


Zamenhof, idealizador do Esperanto, desde sua infância pensava que se na humanidade fosse falada uma mesma língua, todos se entenderiam e até mesmo seriam menos maus porque a diferença do idioma serve para alguns como motivo de humilhação, rebaixamento ou marginalização de pessoas ou povos. Para ele, tal não aconteceria em nenhum lugar, se os homens se conhecessem e entendessem pelo uso de uma língua universal.


Com a motivação de unir os homens fora das fronteiras idiomáticas, religiosas e raciais, Lázaro Luís Zamenhof trabalhou incansavelmente e se dedicou à criação de uma língua rica em expressão, de fácil e rápido aprendizado, desaparecendo assim os entraves linguísticos divisores do mundo e, por consequência, promovendo a existência de mais tolerância e menos dores porque todos se compreenderiam.


A primeira versão do Esperanto, apresentada pelo Dr. Zamenhof, aconteceu em 1878. Tendo verificado a necessidade de alguns alinhamentos, ajustes e ampliações, após intenso e aplicado trabalho, este entusiasta da língua universal formada pela reunião e articulação de prefixos, sufixos e palavras de diferentes idiomas, publicou em 1887 o primeiro livro didático do Esperanto. A constatação da simplicidade, facilidade e a lógica desta língua cativou a atenção de alguns leitores e foi fundado o primeiro Grupo de Esperanto, em Nuremberg. Após, editavam um primeiro periódico, O Esperantista, no primeiro dia de setembro de 1889, também em Nuremberg. Durante pouco mais de cinco anos, este foi o único veículo de união entre os esperantistas.


Entretanto, é importante registrar que antes de Zamenhof alguns esforços foram realizados quanto à formação de uma língua internacional. Homens ilustres como Vives, Descartes, Leibnitz, Komenski e outros se propuseram a isto, mas não passou de projeto. Na Alemanha meridional (Constança), João Martinho Schleyer, um sacerdote católico e poeta, criou em 1879 o volapük (idioma do mundo). Porém, o estudo de volapük se mostrou extremamente difícil: na escrita, havia a necessidade de consultar sempre o dicionário; o vocabulário era arbitrário e se tornava impraticável. Estas dificuldades geraram o insucesso da iniciativa.


A Revista Espírita, de novembro de 1868, apresenta um artigo chamado Fenômeno Linguístico, narrando que uma menina inglesa, desde os cinco anos de idade, substituiu sua fala por uma série de nomes e verbos, formando todo um idioma próprio, do qual se servia e que não se conseguia desacostumá-la, com exceção de 'papai' e 'mamãe' que pronunciava na língua materna. Ela não tinha contato com idiomas de outros países. O fato foi discutido na Sociedade Espírita de Paris e um Espírito informou ser o fenômeno mais extraordinário produzido desde muitos séculos, pois a criança ensina sua língua para suas amigas e não se sujeita ao aprendizado do inglês. A causa dela adotar um idioma

próprio está no fato que, em outra encarnação, ela conheceu "as línguas de que fala, fazendo uma mistura. Essa mistura, contudo, é feita conscientemente e constitui uma língua, cujas diversas expressões são tomadas das que esse Espírito conheceu em outras encarnações. Em sua última existência ele tivera a ideia de criar uma língua universal, a fim de permitir aos homens de todas as nações entender-se e assim aumentar a facilidade das relações e o progresso humano. Para tanto, ele tinha começado a compor essa língua, que se constituía de fragmentos de várias das que conhecia e mais gostava. A língua inglesa lhe era desconhecida; tinha ouvido ingleses falar, mas achava sua língua desagradável e a detestava. Uma vez na erraticidade, o objetivo que se tinha proposto em vida aí continuou; pôs-se à tarefa e compôs um vocabulário que lhe é particular. Encarnou-se entre os ingleses, com o desprezo que tinha por sua língua, e com a firme determinação de não a falar. Tomou posse de um corpo, cujo organismo flexível lhe permite manter a palavra. Os laços que o prendem a esse corpo são bastante elásticos para o manter num estado de semidesprendimento, que lhe deixa a lembrança bastante distinta de seu passado e o sustenta em sua resolução. Por outro lado, é ajudado por seu guia

espiritual, que vela para que o fenômeno se produza com regularidade e perseverança, a fim de chamar a atenção dos homens. Aliás, o Espírito encarnado estava consentindo na produção do fato. Ao mesmo tempo que exibe o desprazer pela língua inglesa, cumpre a missão de provocar as pesquisas psicológicas." (p. 464-465)


O Esperanto difundiu-se em muitos países e, em 1905 reuniu-se o primeiro grande congresso internacional de Esperanto, com mais de seiscentos participantes de diversos países. Em 1908, foi fundada a Associação Universal de Esperanto, que permanece como a principal organização mundial do Movimento Esperantista. O reconhecimento oficial da língua ocorreu a 10 de dezembro de 1954, na Conferência Geral da UNESCO realizada em Montevidéu.


Em síntese, um idioma universal que congregue todas as pessoas e sociedades tem a possibilidade de romper fronteiras e barreiras, aproximando a humanidade e fomentando a compreensão pela fraternização e solidariedade, fortalece a proposta inclusiva e pode ser aplicada como mais uma das estratégias de acessibilidades tão importantes na atualidade.



Referências


KARDEC, Allan. Fenômeno linguístico.  Revista Espírita, v. XII, n. 11, p. 462-465, nov. 1868.


LÓPEZ LUNA, A. Zamenhof - iniciador do esperanto. 1959. Edição digital.


LORENZ, Francisco Valdomiro. Esperanto sem mestre.  9. ed.  Brasília, DF: Federação Espírita Brasileira, c1943.  Movimento Virtual Brasileiro de Esperanto. Versão 09.01 (digital). Disponível em: https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/06/EsM-p.pdf. Acesso em: 25 set. 2023.


LORENZ, Francisco Valdomiro (Espírito). O Esperanto como revelação. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Uberaba, MG, 19 jan. 1959. Disponível em: http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/bibliotecavirtual/chicoxavier/oesperantocomorevelacao.pdf. Acesso em: 25 set. 2023.