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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 204



Maria de Jesus de Ágreda - Fenômeno de bicorporeidade


    

Sonia Hoffmann



Maria de Jesus, também chamada Madre Ágreda, nasceu e morreu em Ágreda, Espanha, sem jamais ter saído desta cidade. Ela era filha de pais considerados nobres e tementes a Deus. Desde sua infância, demonstrava inclinação para a vida religiosa e hábitos espirituais. Sua mãe, Catarina de Arana, ensinou Maria a ler e a doutrina cristã. Aos 8 anos de idade fez, na noite do Natal, voto de perpétua castidade, adotando como testemunhas a Virgem Santíssima e São José. Quando tinha 12 anos, ela pediu ao seu confessor para ensiná-la como devia servir a Deus.


Sua amorosa mãe inspirou-se em transformar a própria casa em um convento e, no ano de 1619, tanto ela quanto suas filhas (entre elas Maria) tomaram o hábito de monjas descalças da Ordem da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. O pai de Maria, juntamente com seus dois outros filhos, entrou na mesma época para o convento dos Franciscanos de Santo Antônio de Nalda. Maria de Jesus tornou-se abadessa do referido convento, onde morreu em perfeição espiritual admirável. Ela desenvolveu, durante sua vida terrestre, papel absolutamente excepcional de missionária, seja como religiosa, escritora e conselheira de reis e outros membros da nobreza, jamais esquecendo-se da prática do bem para com todas as pessoas de várias localidades que a procuravam.


Esta humilde, ardente e zelosa serva nutria em seu coração anseios pela salvação do próximo. Em suas relações íntimas e extraordinárias de orações, ela recebia viva luz divina, com "a ajuda da qual descobria o mundo inteiro, a multidão dos homens que o habitavam, entre os quais os que ainda não haviam entrado no seio da Igreja e estavam em evidente perigo de perder-se para a eternidade. À vista da perda de tantas almas, Maria de Ágreda sentia o coração partido e, em sua dor, multiplicava preces fervorosas. Deus a fez saber que os povos do Novo México apresentavam menos obstáculos para a sua conversão que o resto dos homens, e era especialmente sobre eles que a divina misericórdia queria derramar-se. Esse conhecimento foi um novo aguilhão para o coração caridoso de Maria de Ágreda que, do mais profundo de sua alma, implorou a clemência divina em favor desse pobre povo. O próprio Deus lhe ordenou que orasse e trabalhasse para tal fim" (Kardec, p. 510).


Ela o fez de maneira tão eficiente que, em certo dia, no momento que orava, Maria foi arrebatada em êxtase e sentiu-se repentinamente transportada para uma região longínqua e desconhecida por ela, sem saber como. Homens de uma raça diferente estavam diante dela, sendo ordenada a realizar caridosos desejos e pregasse a fé e a lei santa àquele povo. Ela havia sido transportada em bicorporeidade para o Novo México, e passou a pregar a esses índios em sua língua espanhola. Porém, eles a entendiam como se Maria estivesse falando na língua materna deles. Inúmeras conversões se realizaram a partir dos encontros

nos quais Maria instruía os índios sobre os ensinamentos cristãos.


O seu primeiro êxtase com bicorporeidade ocorreu em 1622, tendo sido seguido de mais cinco êxtases do mesmo gênero, durante cerca de oito anos. Maria de Ágreda frequentemente seguia em Espírito para esta mesma região com o objetivo de continuar seu apostolado. O número dos convertidos aumentava prodigiosamente, chegando a uma nação inteira com o seu rei à frente, todos decididos a seguir a fé em Jesus. Ao mesmo tempo que pregava, Maria via, a grande distância, os franciscanos espanhóis que trabalhavam pela conversão da população deste novo mundo, mas que ainda ignoravam a existência desse povo por ela convertido. Com o entendimento dos franciscanos desconhecerem o local no qual este povo habitava, Maria aconselhou aos índios que mandassem alguns deles àqueles missionários para pedir que viessem ministrar-lhes o batismo.


Certo dia, os missionários franciscanos, os quais Maria de Ágreda havia visto em Espírito, foram abordados por um grupo de índios indicados pela nação e pediram insistentemente para todos a graça do batismo. Surpresos com este encontro e espantados pelo pedido que faziam, os missionários procuraram saber a sua causa. Os enviados responderam para eles que, desde muito tempo, uma mulher aparecia em seu país, anunciando os ensinamentos de Jesus. Eles ainda informaram que essa mulher desaparecia sem que eles descobrissem para onde ia, que ela falou a eles sobre o verdadeiro Deus e os aconselhara a irem aos missionários para obterem o sacramento que transforma os homens em filhos de Deus e resgata os pecados. A surpresa destes missionários cresceu mais ainda quando perceberam estarem estes índios perfeitamente instruídos sobre todo o necessário para a salvação.


Os índios descreveram a mulher e alguns detalhes da roupa, fato que levou os franciscanos a suspeitar que aquela mulher fosse uma religiosa. O chefe da nação quis ser o primeiro a receber o batismo, após veio toda a sua família e os demais índios.


O Padre Alonzo de Benavides, o superior dos missionários franciscanos no Novo México, querendo terminar com o mistério que ainda encobria o nome dessa mulher-apóstolo, embarcou para a Espanha, em 1630, se dirigindo diretamente para Madrid, onde então se encontrava o Geral de sua ordem. O Geral conhecia Maria de Jesus, a sua santidade e logo veio a ele o pensamento de que ela bem podia ser a mulher-apóstolo de quem lhe falava o Padre Benavides. Credenciais foram entregues ao padre, pedindo para Maria responder sinceramente às perguntas feitas. "A humilde religiosa revelou tudo o quanto ocorreu e relatou os acontecimentos para Benavides, acrescentando com franqueza que ignorava completamente o modo pelo qual sua ação tinha podido exercer-se a tão grande

distância. Benavides também interrogou a irmã sobre as particularidades dos lugares que tantas vezes deveria ter visitado e percebeu que ela estava muito bem informada sobre tudo o que se relacionava com o Novo México e os seus habitantes. Ela lhe expôs, nos mínimos detalhes, a topografia dessas regiões e lhas desvendou servindo-se mesmo dos nomes próprios, como o teria feito um viajante depois de vários anos passados nessas regiões. Acrescentou até que tinha visto Benavides e seus religiosos várias vezes, indicando os lugares, os dias, as horas, as circunstâncias, e fornecendo detalhes especiais sobre cada um dos missionários" (Kardec, p. 513).


Benavides aliviou-se por, finalmente, descobrir a alma escolhida de Deus para exercer sua ação miraculosa sobre os habitantes da região em questão, do outro lado do oceano, para onde Maria de Jesus de Ágreda foi somente em bicorporeidade.


Esta é mais uma das preciosas provas que tais fenômenos ocorrem e são plenamente aceitos pela religião Católica e Espírita. O fenômeno é possível e não derroga as leis da Natureza, criadas por Deus.



Referências


KARDEC, Allan. Maria de Ágreda - fenômeno de bicorporeidade. Revista Espírita, Brasília, DF, ano 3, n. 11, p. 509-514, nov. 1860. 


MARIA de Jesus de Ágreda. Disponível em: 

https://www.oarquivo.com.br/component/finder/search.html?q=maria+de+jesus+de+%C3%A1greda&Itemid=101. Acesso em: 23 out. 2023.