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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 21

A Lucidez de Allan Kardec

Edson Ramos de Siqueira  

 

Escrevo esse artigo em 18/4/2020, dia em que o Espiritismo completa 163 anos de existência. Nessa data, em 1857, Allan Kardec lançou, na Livraria Dentu, então situada na Galérie d’Orléans, no Palais Royal em Paris, a primeira edição de “O Livro dos Espíritos”. Essa obra, que representa o marco inicial do Espiritismo, compõe-se de 501 perguntas e respostas; essas concedidas pela Equipe Espiritual da Codificação. Em 18/3/1860, Kardec lançou a segunda e definitiva edição, com 1019 perguntas e respostas.

O trabalho de Kardec foi árduo e criterioso. Tendo partido de 50 cadernos com comunicações diversas, sistematizou-as e preparou as perguntas que posteriormente encaminhou aos Espíritos da Codificação. Cada comunicação era analisada cuidadosamente.

Uma questão essencial que percebeu logo no início de seu magnífico trabalho, ele mesmo descreveu no livro “O que é o Espiritismo”:

“Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, sendo a alma dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber era limitado ao grau do seu adiantamento e que sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade, reconhecida desde o começo, evitou-me o grave erro de crer na sua infalibilidade e preservou-me de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só ou de alguns”.

Outro ponto importantíssimo do critério adotado por Allan Kardec é que, considerando-se que o Espiritismo também é Ciência, utilizou o método experimental. Ele assim escreveu sobre essa questão, no mesmo livro supra citado:

"Nunca formulei teorias preconcebidas; observava atentamente, comparava, deduzia as consequências; dos efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão".

 

            Impressiona, a quem quer que seja, a maneira de encarar a realidade, a objetividade, e, acima de tudo, a incansável, imparcial e intocável busca das verdades que permeiam o Universo, levadas a efeito por Allan Kardec em sua obra magistral.

Apenas as verdades consolam!!! E não tem como chegar a elas se não forem juntados, num só bloco, os Princípios Morais (por ser uma Doutrina Cristã, o Espiritismo tem por referência o Evangelho de Jesus), a Filosofia e a Ciência. Desconsiderar um destes três pilares significa desconfigurar totalmente o Espiritismo.

Em sua obra, “A Gênese”, publicada em 1868, Kardec nos deixa mais uma prova de seu elevado grau de evolução, de sua impressionante e rara lucidez, ao ter afirmado:

“O Espiritismo, marchando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará”.

Esse relato comprova o viés científico do Espiritismo. A Ciência é dinâmica; por isso desenvolve-se ininterruptamente. Essa é a proposta de Allan Kardec para o Espiritismo, comprovada pela citação acima.

Conforme Richard Feynman, físico e filósofo norte americano, Prêmio Nobel de Física em 1965, “a Ciência é a cultura da dúvida”.

O Prof. Marcos Eberlin, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirmou: “Jamais teremos certeza consensual em Ciência! É evidente que o acúmulo de muitos dados ao longo de vários anos de pesquisas pode certificar algumas hipóteses e derrubar outras, provisoriamente. Mas, a dúvida sempre persistirá. E é preciso que persista, a fim de que a própria Ciência avance e se aperfeiçoe”

Mais uma evidência da imensurável lucidez do organizador da Doutrina Espírita, encontra-se em sua última obra (“Catálogo Racional – Obras para se fundar uma Biblioteca Espírita”), publicada como encarte da Revista Espírita, em março de 1869, mês e ano em que desencarnou.

Observemos o índice desse livro, em que Kardec destacou os itens que deveriam constar de uma Biblioteca Espírita:

I – Obras Fundamentais da Doutrina Espírita (por Allan Kardec)...........21

Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos.................................23

II – Obras Diversas sobre o Espiritismo ou Complementares da Doutrina.............................................................................................................26

Poesia.....................................................................................................35

Música.....................................................................................................36

Desenhos................................................................................................37

III – Obras feitas fora do Espiritismo.......................................................39

Filosofia e História..................................................................................39

Romances..............................................................................................66

Teatro.....................................................................................................76

Ciências.................................................................................................78

Magnetismo...........................................................................................82

Obras Contra o Espiritismo................................................................85

Esse último item é uma prova incontestável da grandiosidade desse Espírito que teve por missão organizar a Doutrina Espírita. Quem teria o discernimento e a coragem de propor que lêssemos uma obra contra o Espiritismo?    

No início desse último item (pág. 85), Kardec escreveu uma nota:

“Proibir um livro é sinal de que se o teme. O Espiritismo, longe de temer a divulgação dos escritos publicados contra si e proibir-lhes a leitura a seus adeptos, chama a atenção destes e do público para tais obras, a fim de que possam julgar por comparação”.

Que Espíritas e não Espíritas, dispostos a estudarem o Espiritismo, comecem por conhecer a profunda forma de pensar de Allan Kardec. A responsabilidade de conduzir e dar continuidade ao desenvolvimento da Doutrina, na atualidade, é de todos os seus adeptos encarnados. Precisamos tomar muito cuidado para não desviarmos dos princípios adotados por ele, sob o risco de descaracterizarmos essa magnífica obra.

Termino esse artigo, voltando ao assunto abordado na semana 20, que nos remete a refletir sobre a pandemia ora enfrentada pela Humanidade.

Para tanto, apenas me refiro a um trecho da comunicação de Santo Agostinho, constante de “O Evangelho segundo o Espiritismo”.     

“… Nesses mundos, os Espíritos têm de lutar ao mesmo tempo com a perversidade dos homens e contra a inclemência da Natureza, duplo e penoso trabalho, que desenvolve simultaneamente as qualidades do coração e as da inteligência”.