François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 280
Manifestações inclusivas de Jesus
Sonia Hoffmann
O ato includente, por mais que se queira, não é um processo atual. Ele vem se construindo ao longo do tempo e da historicidade humana. Talvez, o que estejamos vivenciando em nossos dias é o fato de conversarmos mais sobre sua importância, significado e necessidade na vida social e cotidiana.
Sua essência e inspiração teve seu início na Criação. Jesus nos desperta e traz com maiores impactos sua relevância, demonstrando a necessária agilização porque a humanidade se manteve e, infelizmente, ainda apresenta fortes vestígios da ação excludente à diferença e do diferente, com danos bastante agravantes para a sociedade como um todo.
Quando Allan Kardec (2013), em O Livro dos Espíritos, questionou os benfeitores espirituais sobre quais os indícios se podem reconhecer uma civilização completa; eles afirmaram que é através do desenvolvimento moral: "não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização" (p.358).
O Codificador complementou a resposta dada, com o comentário de que a civilização, como tudo o demais, progride naturalmente para remediar "o mal que causa. À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral. De duas nações que tenham chegado ao ápice da escala social, somente pode considerar-se a mais civilizada, na legítima acepção do termo, aquela em que exista menos egoísmo, menos cobiça e menos orgulho; em que os hábitos sejam mais intelectuais e morais do que materiais; em que a inteligência possa desenvolver-se com maior liberdade; em que haja mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíprocas; em que menos enraizados se mostrem os preconceitos de casta e de nascimento, por isso que tais preconceitos são incompatíveis com o verdadeiro amor ao próximo; em que as leis nenhum privilégio consagrem e sejam as mesmas, assim para o último, como para o primeiro; em que com menos parcialidade se exerça a justiça; em que o fraco encontre sempre amparo contra o forte; em que a vida do homem, suas crenças e opiniões sejam melhormente respeitadas; em que exista menor número de desgraçados; enfim, em que todo homem de boa vontade esteja certo de lhe não faltar o necessário" (p.359).
O Espiritismo apresenta Jesus como guia e modelo a ser seguido. Com uma breve análise, percebe-se que todo o seu ministério foi de inclusão e de valorização da igualdade dos direitos humanos, jamais promovendo a exclusão de alguém seja para receber seus ensinamentos, orientações e curas, quanto para colaborar na difusão e compartilhamento dos seus ensinos. A escolha dos discípulos fundamentou-se na diversidade, sendo cada um dos apóstolos detentores de peculiaridades e características diferenciadas, afirmando para todos daquele tempo e desta época, que o trabalho e a convivência com diferentes aptidões, competências e procedimentos podem trazer benefícios para a sociedade. Sua proposta renovadora e amorosa foi sempre a de oportunizar a transformação moral e melhoramento espiritual do ser humano.
"Jamais o Mestre preferiu aqueles que tem mais ou que pensam ser mais, preterindo aqueloutros detestados, marginalizados, esquecidos. A semelhança dos profetas antigos, Ele veio resgatar os mais sofridos, os mais perseguidos, os mais desesperados. Não há lugar em Sua palavra para qualquer tipo de preconceito. Ele próprio pertenceu a um lugar de excluídos, conforme anotou João no comentário feito por Natanael, quando convidado por Filipe para conhecê-lo: - Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?" (Ângelis, 2015, p. 135)
Jesus respeitou e acolheu todas as vidas, trazendo para a visibilidade solidária e fraterna os oprimidos, os fracos, as mulheres, as crianças e todos que, por algum motivo, sentiam-se ou realmente estavam excluídos do direito de cidadania, especialmente quando passaram a alinhar-se aos valores contidos nas Leis Morais e realmente se empenhassem na sua modificação e dirigissem seus esforços para a evolução rumo à perfeição possível. A sociedade foi estimulada a gerar uma maneira de interação social pela adoção do amor ao próximo como a si mesmo.
Ele não ignorou os doentes do corpo e da alma. Ao contrário, para estas condições, sempre manteve uma atitude de incentivo à reflexão para assumirem comportamentos mais sadios, menos danosos e conflitantes. Fronteiras de decepções, barreiras para a superação de equívocos, estigmas de fracassados foram por Jesus renegadas e dissipadas quando convida, para aprendizagem e organização dos sentimentos e pensamentos, quem está dolorido e marcado pela ação excludente por familiares e membros da sociedade.
Em sua solicitação para a mensagem da Boa Nova ser levada a todas as gentes, o Cristo não discriminou nem pontuou alguém ou a um grupo em especial, mas abrangeu, em 'todas as gentes', as mais variadas situações e condições humanas, pois cada um está vivenciando o seu momento evolutivo o qual precisa ser eticamente respeitado e empaticamente entendido.
Se Jesus nada fez para constranger ou anular o ser humano em sua essência, em suas necessidades de amor e de amar, por que seremos nós, que nos dizemos seus seguidores, aqueles a colocar empecilhos ao desenvolvimento moral e intelectual, por meio da exclusão, de quem encontra-se em evolução como qualquer individualidade encarnada ou desencarnada?
Suas manifestações inclusivas foram e são valiosas. Saibamos seguir seus exemplos e adotar em nosso cotidiano interações genuinamente justas, generosas e construtivas, a partir de um amplo processo cristão de responsabilidade social que evidencie e invista na diferença, não como um defeito e sim como uma outra possibilidade de expressão evolutiva.
Referências
ANGELIS, Joanna de (Espírito). Lições para a felicidade. 5. ed. Psicografia de Divaldo P. Franco. Salvador: Livraria Espírita Alvorada, 2015. p.135-139. Mensagem 24 - Sórdidos porões.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed, Brasília (DF): FEB Editora, 2013. Lei do Progresso.