François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 287
Síndrome de Down e Abordagens Inclusivas
Sonia Hoffmann
A síndrome de Down (SD), resumidamente, resulta de
modificação genética na divisão embrionária que altera a estrutura cromossômica
21 (o menor par no corpo humano). Na SD existe uma cópia anormal ou extra.
Sendo extra, há uma trissomia (três estruturas em lugar de duas).
Quando a cópia é anormal e não extra, a pessoa permanece
com 46 cromossomos, porém, estão unidos. Esta ligação anormal recebe o nome de
translocação. Existe ainda outra possibilidade: haver uma mistura celular e
algumas células apresentarem 47 cromossomos (uma cópia extra) e outras
possuírem os normais 46. A esta condição, é dado o nome de mosaicismo ou em
mosaico.
O risco da ocorrência da SD em bebês aumenta, conforme
algumas pesquisas, gradualmente à medida em que a mulher envelhece, mas jovens
também podem gerar corpos de crianças com tal síndrome.
Entretanto, as conquistas de tantas outras pesquisas
genéticas, como assinala Joanna de Ângelis (2010) em Dias gloriosos,
informam que, com relativo êxito, atualmente mulheres com mais de 50 anos geram
filhos em perfeito estado de saúde, embora a proposta de eugenia pretenda
orientar, de modo castrador, que os casais, para evitarem filhos com alterações
genéticas, não procriem com idade avançada ou por meio de relações familiares.
Os eugenistas propõem ainda a interrupção da gravidez, de maneira a impedirem o
nascimento de filhos enfermos ou com deficiências de qualquer natureza,
"em tentativas grotescas de burlar as Divinas Leis...". (p.87)
José Herculano Pires (1979), sobre as questões de genética,
assevera estar demonstrada a interferência de um poder maior do que o da
hereditariedade na formação dos embriões humanos. Ou seja, o determinismo do
código genético não pode ser considerado como absoluto. A própria flexibilidade
do processo da hereditariedade, cientificamente constatada há muito tempo,
permite o aparecimento de caracteres de ancestrais remotos em gerações
recentes.
Alexandre, esclarecendo André Luiz (2006) sobre a lei da
hereditariedade fisiológica, no livro Missionários da luz, diz que
"funciona com inalienável domínio sobre todos os seres em evolução, mas
sofre, naturalmente, a influência de todos aqueles que alcançam qualidades
superiores ao ambiente geral. Além do mais, quando o interessado em
experiências novas no plano da Crosta é merecedor de serviços 'intercessórios',
as forças mais elevadas podem imprimir certas modificações à matéria, desde as
atividades embriológicas, determinando alterações favoráveis ao trabalho de
redenção." (p. 204)
O termo síndrome significa um conjunto de sinais e
sintomas. As alterações provocadas pelo excesso de material genético no
cromossomo 21 determinam a intensidade das particularidades e aparências
típicas, quais sejam: aspecto característico da cabeça, olhos oblíquos
semelhantes aos dos orientais, rosto arredondado e orelhas pequenas. É comum a
diminuição do tônus muscular, fazendo com que o bebê seja menos estável e
rígido fisicamente. Esta hipotonia contribui para dificuldades motoras amplas e
finas, de mastigação e deglutição, atraso na articulação da fala e, em 50% dos
casos, surgem problemas cardíacos.
Muitas vezes, a língua é de tamanho grande. Isto,
conjugando-se com a hipotonia, faz com que o bebê fique mais frequentemente com
a boca aberta. As mãos são menores, com dedos mais curtos e prega palmar única
em cerca de metade dos casos. Pode existir excesso de pele na parte posterior
do pescoço (nuca). A articulação do pescoço pode apresentar certa instabilidade
e, assim, provocar problemas nos nervos por compressão medular.
Geralmente, a estatura é mais baixa. Há uma tendência para
obesidade e a doenças endócrinas (como, por exemplo, diabete e hipotireoidismo.
Cerca de 5% das pessoas com SD têm problemas gastrointestinais. Deficiências na
visão e auditiva podem estar presentes, com maior risco de infecções no ouvido
(especialmente otites). Comprometimento intelectual, de maior ou menor
intensidade, pode ser ocasionado e, consequentemente, alguma dificuldade de
aprendizagem ocorre, tornando-se mais lenta (o que não significa de forma
alguma que não aconteça).
Alguém talvez possa considerar haver excesso de
detalhamentos sobre possíveis presenças de características e singularidades na
descrição da SD. Contudo, é necessária para as demais pessoas que interagem com
alguém nesta condição, estabeleçam reflexões sobre os enfrentamentos que este
Espírito encarnado, e seus familiares, encontram para sua expressão e
enfrentamento social. Igualmente, elas são úteis para o entendimento sobre a
importância e a necessidade das abordagens de temas inclusivos e adoção qualificada
de estratégias úteis e efetivas de acessibilidades nas mais distintas
atividades, sem permanecerem na teoria e sim serem colocadas na mais fluente e
consolidada prática.
Infelizmente, nem sempre os processos interativos são
tranquilos e sem julgamento. Existe ainda uma forte tendência e insistência na
generalização de que alguma deficiência ou diferença seja somente resultado de
alguma expiação, quando, encontramos na literatura que tanto deficiências
quanto demais diferenças, além de não serem consideradas como defeitos e sim
como possibilidades pedagógicas evolutivas, podem surgir como prova e até em
caráter de missão.
Apesar da afirmação de ser, possivelmente, SD uma expiação
ou ter como causa um outro propósito é, em ocasiões, mera hipótese ou
especulação e até pode servir como causa de constrangimento para a criança e
para seus familiares (especialmente pais e irmãos). Como são diversas as
possibilidades, o mais adequado e fraterno é uma posição de ser esta condição
mais uma oportunidade de evolução, de amadurecimento, de elaboração de
virtudes.
Mesmo porque, como Joanna de Ângelis (2002) adverte e
amplia, nem todas as limitações, adversidades atuais são necessariamente
consequências expiatórias, pois, conforme é encontrado no livro Plenitude,
em nome do amor, existem casos de aparentes expiações - seres vivenciando
mutilações, surdez, cegueira, paralisias, AIDS, hanseníase, entre outras
moléstias, que escolheram essas situações com o propósito de lecionarem coragem
e conforto moral aos enfraquecidos na luta e desolados no processo de redenção.
Ou seja, fazem a solicitação de algum transtorno para aquisição de diferentes
habilidades morais e para colaboração generosa no rompimento de preconceitos e
barreiras na sociedade humana.
Assim, prova ou expiação, tudo é um modo de melhoramento
moral e intelectual - como conclui Allan Kardec (1863), na Revista Espírita de
setembro. Além do mais, seja qual for a causa dos sofrimentos, não somos
conhecedores absolutos da situação defrontada individualmente pelo Espírito.
O Espiritismo, sendo bem estudado e aplicado, presta imensa
contribuição na edificação do reencarnante como doutrina consoladora,
esclarecedora e (re)educativa por meio de um conjunto de (inter)ações provindas
inclusive de adequada pedagogia inclusiva espírita. Independente da causa e do
efeito, a pessoa em convívio com a restrição motora, sensorial, intelectual ou
desenvolvimental de qualquer ordem, antes de tudo, é uma pessoa, um ser de
possibilidades, um Espírito imortal em evolução, que necessita de aprendizagens
específicas para a reparação de consequências provindas de escolhas mal feitas,
imprudências e para o desenvolvimento de suas habilidades e da sociedade até
então desconhecidas, importantes para o desenvolvimento e amadurecimento
intelectual e moral. Sua condição também pode ser contribuição efetiva para o
abrandamento e até o rompimento de barreiras e preconceitos.
Sendo assim, o importante é o acolhimento inclusivo,
fraterno, amoroso e responsável desde a atividade de Evangelização
infantojuvenil na instituição espírita, o trabalho conjunto com os pais e
familiares e expandir todos os procedimentos includentes e de estratégias de
acessibilidades para as mais distintas atividades presentes. Abordagens sobre
temas atípicos e indicadores de solucionamentos precisam ser cada vez mais
trazidas para palestras, rodas de conversa e estudos. Deste modo, a
universalização, o acolhimento e a oportunidade de interação propiciam o
desenvolvimento da maior e melhor autonomia, independência e segurança
possíveis a partir de procedimentos adequados, cooperativos e sem colocar
aquele ser que vivencia a Síndrome de Down em afastamento social, situação
embaraçosa, respeitando sua idade, capacidades, potencialidades e o modo
diferenciado de expressão da sua inteligência e do seu desejo de aprendizagem,
contribuição e convivência.
Alguém, pelo fato de apresentar nesta existência a SD,
precisa ser entendido como incentivo para o crescimento, sem compará-la como
uma criança quando já se encontra em etapa juvenil ou adulta, porque
modificações hormonais e graus de elaborações mentais vem se realizando.
Talvez, atividades mediadas e intermediárias precisem ser concebidas com
intervalos de interação conjunta com os respectivos grupos ao qual possa ser
vinculado. Igualmente, não é possível considerar que todos com SD, apesar de
terem características físicas muito próximas, se expressem ou possuam as mesmas
intensidades de auxílios ou dificuldades para o estabelecimento de interações
efetivas, pois cada qual mantém sua individualidade, bagagem espiritual
própria, grau de estímulo na cultura familiar diferenciado e evidente
influência para mais ou para menos da cópia cromossômica ser anormal, extra ou
em mosaico.
Então, importante é acolher, cooperar, esclarecer,
oportunizar vivências e acreditar na possibilidade evolutiva de cada ser por
trajetórias alternativas a partir das singulares aptidões, interesses,
potencialidades e necessidades.
Referências
ANDRÉ LUIZ (Espírito). Missionários
da luz. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 41. ed. Brasília,
DF: FEB, 2006. p. 201-202, 204, 213, 217-218, 221-223.
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito). Dias gloriosos.
Psicografado por Divaldo Pereira Franco. 4. ed. Salvador: Centro Espírita
Caminho da Redenção, 2010.
ÂNGELIS, Joana de (Espírito). Leis morais da vida.
Psicografado por Divaldo Pereira Franco. Salvador: Livraria Espírita Alvorada,
1977.
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito). Plenitude.
Psicografado por Divaldo Pereira Franco. 13. ed. Salvador: Livraria Espírita
Alvorada, 2002. p. 32.
KARDEC, Allan. Sobre a expiação e a prova. Revista
Espírita. Rio de Janeiro, ano VI, n. 9, p. 365-371, set. 1863.
PIRES. José Herculano. Curso dinâmico de Espiritismo.
São Paulo: Paidéia, 1979. p.24-28. Capítulo IV - Sexo e Genética no
Espiritismo.