François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 294
Estudos científicos abordam a interrelação psicossomática, reforçando os esclarecimentos trazidos por Georges, na obra O Evangelho segundo o Espiritismo, quanto à saúde e enfermidade exercerem influência de maneira muito importante sobre a alma: para ela se expandir é substancial o corpo estar são, disposto, forte, porque, se ambos se encontrarem em perfeito estado, é provável a manutenção do equilíbrio entre as suas aptidões e suas necessidades tão diferentes. Conforme o Amigo Espiritual, a ciência do viver está no entendimento das relações existentes entre o corpo e a alma, ou seja, achando-se em interdependência, é preciso cuidar de ambos.
“Amai, pois, a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela. Desatender as necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a Lei de Deus” (Kardec, 2013b).
Um destes cuidados para o corpo, instrumento auxiliar da evolução pelo processo reencarnatório, está em reparar a debilidade corporal pela necessária transfusão de sangue. Porém, para a efetivação do procedimento, essencial se faz alguém disponibilizar este fluído revitalizador e toda a dinâmica ser acompanhada por profissionais que adotem as devidas precauções. Contudo, mediante as várias dificuldades de reposição de sangue em níveis satisfatórios para haver pronta utilização, a prática da doação, voluntária e regular, precisa ser intensamente incentivada na sociedade e adotada como atitude costumeira pelas pessoas que se encontram em adequadas condições de saúde, com pleno cumprimento aos critérios estipulados.
Diversas são as circunstâncias, simples ou complexas, que justificam a terapia da transfusão sanguínea. A existência de medidas de segurança, tanto para o receptor quanto ao doador, cada vez mais vêm se aprimorando relativamente aos cuidados fundamentais de seleção, classificação, conservação, manuseio e realização do ato propriamente dito. Quando alguém doa o sangue, pode, em cada coleta, estar auxiliando na recuperação orgânica de até quatro pessoas, dependendo do volume sanguíneo aplicado.
“O sangue não só é um tecido vivo como também é um tecido renovável. Pessoas saudáveis têm mecanismos para produzir mais sangue, após a doação. Ao doar sangue, o dom da vida pode ser compartilhado facilmente e sem medo, pois as doações regulares não enfraquecem o doador, seja ocasionando impotência, debilidades ou acelerando o processo de envelhecimento” (Secretaria de Estado de Saúde, s.d.).
Além do auxílio para a possibilidade de restauração física, este gesto traz igualmente benefícios psicológicos e morais extremamente valiosos. Quem recebe, provavelmente, sente-se visível, acolhido, cuidado, envolvido na rede de fraternização e vivencia a oportunidade de desenvolver e dilatar a gratidão. Sua fé e esperança na bondade humana são revitalizadas, pois compreende que o bem está presente, mesmo que situações danosas, provocadas pelo mal e pela indiferença, ainda persistam.
Quem faz a doação, exemplifica com seu testemunho de amor ao próximo outra maneira de agir com generosidade, de certificar mais uma forma de caridade e exercitar o desprendimento. Sendo o líquido vital para o restabelecimento funcional do instrumento corpóreo físico conduzido para um banco de sangue, a pessoa desconhece para quem está doando. Assim, o bem é feito sem necessidade de saber a identidade do receptor, bastando somente ter a consciência de ser para um membro da sua família universal. Então, acontece espontaneamente a ampliação e o fortalecimento dos laços de irmandade.
Sem a preocupação desta transfusão acontecer somente entre os componentes do mesmo grupo social, de parentesco ou de nacionalidade e confiante de ser a compatibilidade a condição primordial, as criaturas validam o mesmo entendimento contido em O Evangelho segundo o Espiritismo: “a química, porém, ainda nenhuma diferença descobriu entre o sangue de um grão-senhor e o de um plebeu; entre o do senhor e o do escravo” (Kardec, 2013a).
É claro que existem situações nas quais o tipo sanguíneo está insuficientemente armazenado e alguém da mesma família pode voluntariamente submeter-se ao procedimento pela urgência, se forem compatíveis. Esta decisão aprofunda obviamente o afeto entre as pessoas que já se conheciam, pois com grande probabilidade o sentimento que moveu foi de identidade e enaltecimento do convívio.
Um fato, narrado por Jaume Soler e María M. Conangla (2011), ilustra a intensidade da relação amorosa já presente entre familiares que impulsiona para a doação:
“Há alguns anos, em um hospital de Stanford, uma menina chamada Liz sofria de uma doença nada comum. A única oportunidade de sobrevida era receber transfusão de sangue do irmão de 5 anos que sobrevivera milagrosamente à mesma enfermidade e desenvolvera anticorpos para combatê-la. O médico explicou ao menino a situação com palavras simples e lhe perguntou se estaria disposto a dar seu sangue à irmã, o garoto hesitou um momento, e depois de um grande suspiro disse: — Sim, posso fazer isso se for para salvar Liz. Enquanto a transfusão era feita, o menino ficou na cama ao lado da irmã e sorriu quando viu a face de Liz recuperar a cor. De repente, o rosto do menino ficou pálido e seu sorriso desapareceu. Olhou para o médico e, com voz tremula, perguntou: — Quando vou começar a morrer? Era apenas uma criança e não compreendera bem o que o médico lhe dissera. Achava que daria todo o sangue à irmã e, apesar disso, havia decidido doá-lo”. [...] “Com a generosidade viajam a simplicidade, o amor e a amizade. A generosidade pede fluidez e abertura. É amiga da solidariedade e da compaixão. Veste-se de alegria e paz”.
Contudo, nem todas as pessoas podem ser doadoras ou se encontram na condição momentânea para isto. Importante informarem-se sobre as orientações junto às instituições e profissionais especializados. Entretanto, nenhum impedimento existe para que todos possam incentivar e falar sobre a importância da doação de sangue, porque esta também é uma ajuda bastante digna.
Seja doando quanto divulgando este ato fraterno, a pessoa encontra-se mergulhada no processo da inclusão, pois se conscientiza de todos apresentarmos a necessidade de uma parceria existencial e unidos fortalecer o vínculo de Humanidade que se encontra na essência do ser com a inscrição das Leis Morais na intimidade de cada um. Toda essa reunião dos esforços para o abrandamento ou a superação de determinado comprometimento solicita um trabalho de cooperação, ético e empático — ações constituintes da atitude inclusiva que aproxima as pessoas, desfaz preconceitos, rompe barreiras e evidencia o protagonismo do ser.
Como sugestão para as instituições espíritas se agregarem à intensificação de campanha em prol do gesto humanitário relativo à doação sanguínea, ações elementares (simples e fáceis) para a propagação informativa podem ser adotadas, como: postagens motivadoras sobre o assunto nas redes sociais, elaboração de banners e cartazes esclarecedores para serem visualizados pelo público em eventos, inserção do tema em palestras e estudos, informar sobre a importância dos cuidados para com o corpo e o Espírito, acrescentar breves informações em cards e nos informes projetados em telas. O fundamental é estabelecer alternativas comunicativas e não se omitir. Portanto, toda e qualquer criatividade é bem-vinda.
Mais do que um ato social, a doação de sangue representa ação inclusiva e genuinamente cristã. Inclua-se nesta prática, doando ou divulgando! Quando alguém opta por este gesto, coloca em movimento as engrenagens do amor e brinda a valorização da vida.
Referências
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131.ed. Brasília, DF: FEB, 2013a. Cap. VII: Bem-aventurados os pobres de espírito. p. 117
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131.ed. Brasília, DF: FEB, 2013b. Cap. XVII: Sede perfeitos. p. 242.
SOLER, Jaume; CONANGLA, María Mercé. Ecologia emocional. Rio de Janeiro: Best Seller, 2011.