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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 62

“Vós sois todos deuses”

Edson Ramos de Siqueira



A evolução da tecnologia da informação disponibiliza à Humanidade ferramentas de comunicação magistrais, que muito contribuem para o desenvolvimento do Planeta e de sua civilização. Entretanto, os modernos e abrangentes sistemas de comunicação apresentam duas vertentes: se por um lado propiciam a disseminação de informações úteis, positivas, construtivas; por outro é um caminho muito bem pavimentado para a divulgação de inverdades, incentivo ao ódio e à intolerância. A escolha de uma ou outra vertente depende do grau de evolução daqueles que estão por trás da ferramenta. 

A consequência do mal uso é que, em verdade, vivemos um momento paradoxal: crises de desinformação e de tensão da sociedade, apesar da evolução tecnológica.

Conforme Muniz Sodré (jornalista, sociólogo e professor da UFRJ), “a multiplicidade dos fatos informativos não resulta no aperfeiçoamento do cidadão, nem em seu conhecimento sobre o mundo. Quanto mais você é informado do inessencial, menos você sabe sobre você mesmo e mais você é controlado pela lógica do medo”.

O jornalista, escritor e palestrante espírita André Trigueiro, segue a mesma linha de raciocínio: 

“Esta avalanche de informações facilita nossa dispersão. Muitas das tragédias do cotidiano encontram ressonância em nosso coração, porque estamos mentalmente e emocionalmente dispersos. Cuidar da quantidade e da qualidade da informação é importante. Faz parte de um projeto de administração do tempo e da energia. O Espírita precisa reagir aos padrões sociais que atrapalham seu projeto evolutivo”.

Deveríamos sempre buscar soluções urgentes ao combate de qualquer fator que possa retardar a execução do projeto concebido pelos Superiores Espirituais para a presente encarnação, porque nosso tempo de permanência neste instrumento pedagógico denominado corpo físico é restrito e passa sem que percebamos; pois nos distraímos com o entorno turbulento, desarmônico e desequilibrado de uma sociedade composta, em sua maioria, por indivíduos sem rumo, inebriados pela matéria efêmera. 

Se compreendêssemos que somos Espíritos eternos em processo de aprendizagem e que o objetivo da reencarnação é promover o despertar da consciência para a realidade da Vida, visando a facilitação da evolução espiritual, tenderíamos a diminuir o vazio existencial, com consequente alívio das tantas dores, das mais distintas naturezas, que nos assolam.

O venerável pensador francês e um dos ícones do Espiritismo filosófico, Léon Denis, em sua obra “O Grande Enigma”, ensina a respeito de nossa magnitude espiritual, antítese dos comportamentos manifestados por parte da Humanidade, representados pelas discórdias, conflitos, perversidade, preconceitos, materialismo inescrupuloso, indisciplina, etc.. Não somos assim, pois somos filhos de Deus e Deus é o Amor. Mas, estamos assim, doentes, iludidos; precisamos nos desiludir e mitigar a ignorância para nos curarmos espiritualmente.

“Cada alma é irradiação da grande alma universal, uma centelha emanada do foco eterno. Nós, porém, ignoramos a nós mesmos, e esta ignorância é a causa de nossa fraqueza e de todos os males.

Estamos unidos a Deus na relação estreita que liga a causa ao efeito, e somos tão necessários à sua existência quanto ele é necessário à nossa. Deus, Espírito Universal, manifesta-se na Natureza, e o homem é, na Terra, a mais elevada expressão da Natureza. Somos a obra e a expressão de Deus, que é a fonte do bem. Mas esse bem, nós o possuímos na forma de gérmen, e nossa tarefa é desenvolvê-lo. Nossas vidas sucessivas, nossa ascensão na espiral infinita das existências, não têm outro objetivo.

Tudo está escrito no fundo da alma em caracteres misteriosos: o passado, de onde emergimos e que devemos aprender a sondar; o futuro, para o qual evoluímos, futuro que edificaremos nós próprios como um monumento maravilhoso, feito de pensamentos elevados, de nobres ações, de devotamentos e de sacrifícios.

A obra que a cada um de nós cabe realizar resume-se em três palavras: saber, crer, querer; quer dizer: saber que temos em nós recursos incalculáveis; crer na eficácia de nossa ação sobre os dois mundos, o da matéria e o do espírito; querer o bem dirigindo nossos pensamentos para o que é belo e grande, conformando nossas ações às leis eternas do trabalho, da justiça e do amor.

Saídas de Deus, todas as almas são irmãs; todos os filhos da espécie humana estão unidos através de laços estreitos de fraternidade e solidariedade. Assim, os progressos de um de nós são sentidos por todos, assim como o rebaixamento de um único afeta o conjunto.

Da paternidade de Deus decorre a fraternidade humana; todas as relações que nos unem prendem-se a este fato... .

O Cristo sabia que todo homem deve chegar à compreensão de sua natureza íntima, e é nesse sentido que ele dizia a seus discípulos: “Vós sois todos deuses”. Ele poderia ter acrescentado: deuses em processo!

É a ignorância da nossa própria natureza e das forças divinas que dormem em nós, é a ideia insuficiente que fazemos de nosso papel e das leis do destino, que nos submetem às influências inferiores, ao que nós chamamos o mal. Na realidade, trata-se aí apenas da falta de desenvolvimento. O estado de ignorância não é um mal em si mesmo; é apenas uma das formas, uma das condições necessárias da lei de evolução.

Nossa inteligência não está madura; nossa razão, criança, tropeça nos acidentes do caminho; daí o erro, as falhas, as provas, a dor. Mas todas essas coisas serão um bem, se as considerarmos como tantos meios de educação e de elevação. A alma deve atravessá-las para chegar à concepção das verdades superiores, à posse da parte de glória e de luz que fará dela uma eleita do céu, uma expressão perfeita do Poder e do Amor infinitos. Cada ser possui os rudimentos de uma inteligência que atingirá o gênio, e ele tem a imensidade dos tempos para desenvolvê-la. Cada vida terrestre é uma escola, a escola primária da eternidade.

Na lenta ascensão que conduz o ser para Deus, o que buscamos antes de tudo, é a felicidade, a ventura. Entretanto, no seu estado de ignorância, o homem não saberia atingir esses bens, pois ele os procura quase sempre onde eles não estão; na região das miragens e das quimeras, e isso por meio de processos cuja falsidade não lhe aparece senão após muitas decepções e sofrimentos. São esses sofrimentos que nos esclarecem; nossas dores são lições austeras; elas nos ensinam que a verdadeira felicidade não está nas coisas da matéria, passageiras e mutáveis, mas na perfeição moral. Nossos erros e nossas faltas repetidas, as fatais consequências que arrastam, terminam por nos dar a experiência, e esta nos conduz à sabedoria, quer dizer, ao conhecimento inato, à intuição da verdade. Tendo chegado a esse terreno sólido, o homem sentirá o laço que o une a Deus e ele avançará com um passo mais seguro, de etapas em etapas, para a grande luz que não se apaga jamais” (Léon Denis). 

Portanto, procuremos aproveitar o tempo que nos resta no atual período encarnatório, de forma mais racional e objetiva, esquivando-se dos conflitos gerados pela onda de desinformações que assola, abala e adoece mais ainda a Humanidade que, infelizmente, tende a caminhar no sentido contrário à trajetória evolutiva do Espírito determinada por nossos Superiores Espirituais.