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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 83

 

O grande Pensador Léon Denis (parte VI)

 

Edson Ramos de Siqueira

 

 

            A parte V deste artigo, publicada neste site na semana 80, foi encerrada com a transcrição de um trecho da Introdução do livro “Depois da Morte”, obra de Léon Denis, que encantou Eurípedes Barsanulfo, ao lê-la integralmente em apenas uma noite. Nesta edição, apresento o trecho final dessa Introdução e mais uma vez exalto a profundidade filosófica que caracteriza toda a obra literária deste ícone do Espiritismo, Léon Denis. Observemos pela leitura da Introdução, que o livro em tela, publicado em 1905, ou seja, há 116 anos, retrata a própria realidade da sociedade humana atual.     

“Apesar desses esforços do pensamento, a obscuridade pesa ainda sobre nós. Nossa época se agita entre as sombras e o vazio, e procura, sem encontrar, um remédio para seus males. Os progressos materiais são imensos, mas, no seio das riquezas acumuladas pela civilização, pode-se ainda morrer de privação e de miséria. O homem não é nem mais feliz, nem melhor. No meio de seus rudes labores, nenhum ideal elevado, nenhuma noção clara do destino o sustenta mais; daí, suas quedas morais, seus excessos, suas revoltas. A fé do passado extinguiu-se; o ceticismo e o materialismo substituíram-na, e, sob seus sopros, o fogo das paixões, dos apetites, dos desejos, crescem. Convulsões sociais ameaçam-nos.

            Às vezes, atormentado pelo espetáculo do mundo e as incertezas do futuro, o homem ergue seu olhar para o céu e pergunta-lhe a verdade. Interroga, silenciosamente, a Natureza e seu próprio espírito. Reclama da Ciência seus segredos, da religião seus entusiasmos. Mas, a Natureza parece-lhe muda e as respostas do sábio e do religioso não satisfazem sua razão e seu coração. Entretanto, há uma solução para os seus problemas, uma solução maior, mais racional, mais consoladora que todas aquelas oferecidas pelas doutrinas e as filosofias atuais, e esta solução repousa sobre as bases mais sólidas que se pode conceber: o testemunho dos sentidos e a experiência da razão.

            No mesmo instante em que o materialismo atingiu seu apogeu e espalhou por toda parte a ideia do nada, uma Ciência, uma crença nova, apoiada sobre os fatos, aparece. Ela oferece ao pensamento um refúgio onde encontra, afinal, o conhecimento das leis eternas de progresso e de justiça. Uma florada de ideias que se acreditavam mortas, e que apenas adormeciam, produz-se e anuncia uma renovação intelectual e moral. Doutrinas, que foram a alma das civilizações passadas, renascem sob uma forma engrandecida, e numerosos fenômenos durante longo tempo desdenhados, mas que alguns sábios entreveem, afinal, a importância, vêm oferecer-lhes uma base de demonstração e de certeza. As práticas do magnetismo, do hipnotismo, da sugestão; mais ainda, os estudos de Crookes, Russel Wallace, Lodge, Aksakof, Paul Gibier, de Rochas, Myers, Lombroso, etc., sobre fatos de ordem física, fornecem novos dados para a solução do grande problema. Abrem-se perspectivas, formas de existência se revelam nos meios onde não se supunha mais observa-las. E destas pesquisas, desses estudos, dessas descobertas saem uma concepção do mundo e da vida; um conhecimento das leis superiores, uma afirmação da justiça e da ordem universais, bem feitas para despertar no coração do homem, com uma fé mais firme e mais esclarecida no futuro, um sentimento profundo dos seus deveres e um real interesse pelos seus semelhantes.

            É essa doutrina, capaz de transformar a face das sociedades, que oferecemos aos pesquisadores de todas as ordens e de todas as fileiras. Ela já foi divulgada em numerosos volumes. Acreditamos dever resumi-la nessas páginas, sob uma forma diferente, dirigindo àqueles que estão cansados de viver como cegos, ignorando a si mesmos, àqueles a quem não satisfazem mais as obras de uma civilização material, toda superficial, e que aspiram a uma ordem de coisas mais elevada. É sobretudo para vocês, filhos e filhas do povo, trabalhadores cuja estrada é áspera, a existência difícil, para quem o céu é mais escuro, mais frio o vento da adversidade; é para vocês que este livro foi escrito. Ele não lhes traz toda a ciência, - o cérebro humano não saberia contê-la, - mas pode ser um degrau a mais na direção da verdadeira luz. Provando-lhes que a vida não é uma ironia da sorte, nem o resultado de um estúpido acaso, mas a consequência de uma lei justa e equitativa; abrindo-lhes as perspectivas radiosas do futuro, ele fornecera um móvel mais nobre às suas ações, fara brilhar um raio de esperança na noite das suas incertezas, aliviará o fardo das suas provas e lhes ensinará a não tremer diante da morte. Abram-no com confiança, leiam-no com atenção, pois ele emana de um homem que, acima de tudo, quer o seu bem.

            Entre vocês, muitos, talvez, rejeitarão nossas conclusões; apenas um pequeno número aceitá-las-ão. Que importa? Não procuramos o sucesso. Um único móvel nos inspira: o respeito, o amor da verdade. Uma única ambição nos anima: gostaríamos de, quando nosso envoltório usado retornar à terra, que nosso espírito imortal possa dizer: “Minha passagem neste mundo não terá sido estéril se contribuí para acalmar uma dor, esclarecer uma inteligência em busca do verdadeiro, reconfortar uma única alma vacilante e entristecida”.

 

Observação: As partes I, II, III, IV e V deste artigo, estão publicadas nas semanas 68, 71, 74, 77 e 80, respectivamente.