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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Semana 90

 

 

O grande pensador Léon Denis (parte VIII)

 

 

Edson Ramos de Siqueira

 

 

            Esta parte VIII do artigo “O grande Pensador Léon Denis”, contém a continuação de um texto intitulado: “Intuições e Inspirações”, escrito por ele. A primeira parte foi publicada na semana 87.

Portanto, se você ainda não a leu, primeiramente busque-a neste mesmo item de menu, para que possa compreender o contexto global desta preciosidade do grande Filósofo do Espiritismo, que mesmo publicada nos idos de 1918, permanece atualíssima.

Afinal, a evolução do Espírito não acontece a passos largos. Os séculos passam, reencarnamos inúmeras vezes, mas evoluímos muito lentamente, sobretudo no quesito ético – moral.

Eis a segunda parte do texto de Léon Denis:

“Existem em nós riquezas de pensamentos e de expressão, imagens de beleza e de poder tão altas e tão grandes quanto aquelas que foram fixadas sobre o mármore, a tela ou o pergaminho, pelo cinzel dos escultores, pelo pincel dos pintores, pela pena dos escritores e dos poetas; mas nós as ignoramos, nós as deixamos repousar, inertes e silenciosas em nós. Cada alma humana possui, em suas dobras ocultas, tesouros de beleza, de eloquência, de genialidade, que sua missão é de valorizar, de fazer eclodir e desabrochar em obras esplêndidas por seus trabalhos por meio dos renascimentos inumeráveis e dos séculos acumulados. Ela conquista, assim, por si mesma, por seus esforços, uma situação mais elevada, um papel, uma participação cada vez mais ampla na execução dos planos divinos.

            Atualmente, porém, a alma humana ainda se ignora; ela nada sabe de sua grandeza, de seu poder que virá; ela prefere, às realidades imperecíveis da vida do espírito, as falazes (ilusórias) miragens da matéria e as enganosas promessas de um mundo exterior e inconstante.

            Daí vem a miséria moral do nosso tempo, pois o que é verdadeiro para o indivíduo se aplica igualmente à coletividade. Há cinquenta anos, nossa sociedade, trabalhada pelas correntes do materialismo, viu se alterarem pouco a pouco todos os princípios sobre os quais o ser deve apoiar-se em sua ascensão. No fundo, a maior parte dos homens se mantinha apegada ao que é bom e belo, mas se tornou modismo ridicularizar todo sentimento nobre e generoso; não se podia mais falar de virtude, de dever, de sacrifício, sem provocar risos céticos e zombeteiros, e até mesmo chistes (gracejos) grosseiros. Os gozadores que se sucediam no poder, por seus ditos e seus exemplos, precipitavam a decadência dos costumes e falseavam as forças da consciência.

            Vertigem das riquezas e do prazer, ambições desenfreadas, vaidades tolas, este era o espetáculo que nossa sociedade oferecia há alguns anos. A guerra veio. Suas terríveis lições contribuem para repor tudo em seu devido lugar e reconduzem nossos contemporâneos a uma apreciação mais justa das coisas. Novos horizontes se abrem ao pensamento. Já compreendemos melhor as necessidades e as leis da vida. Descobrimos que as condições da nossa salvação como nação são também as de nossa reedificação moral e de nosso futuro espiritual.

            Os recursos latentes escondidos em cada um de nós, a guerra os colocou em evidência em muitos. Ela os fez surgirem do próprio coração da nação. Não é preciso julgá-los somente pela aparência de sua vida superficial, ruidosa, doentia. Escavando um pouco, facilmente se descobrem os elementos sadios de sua vida interior, silenciosa, fecunda. Nas horas supremas, foram esses últimos que reapareceram sob a impulsão do Alto e entraram em ação para a salvaguarda comum. A nação, como o oceano, tem sua espuma e suas vagas (ondas), sua superfície ora acariciada pelos raios do sol, ora agitadas pelas tempestades. Ela tem também suas plácidas e mudas profundezas, onde repousam forças imensas; onde se elabora o trabalho dos infinitamente pequenos preparando o futuro, como o labor dos pólipos prepara as bases dos futuros continentes.

            A vida dos povos, como a das almas, tem dois aspectos, e não é aquele que se exibe à luz do dia e impressiona mais o olhar que é o maior e o melhor. Por trás dos apaixonados de todos os tipos; dos arrivistas (gananciosos) sem vergonha; dos embusteiros sem escrúpulos que se agitam na cena do mundo, perseguindo sua quimera (ilusão, fantasia, devaneio) e alimentando as crônicas, existe a multidão inumerável daqueles de quem não se fala, daqueles que lutam, penam e sofrem para assegurar os destinos do país. Há aqueles que têm outro objetivo, além do dinheiro e do sucesso; outra preocupação além do prazer; que querem, que pensam, esperam, doam, sem esperar retorno, sua inteligência à grandeza da França; sua vida à sua defesa; sua dedicação a todas as dores humanas. É sobretudo a esses que me dirijo para lhes dizer: O caminho que seguis é o mais seguro para atingir o real objetivo da vida, que é a educação da alma, o desenvolvimento dos poderes e das qualidades cujos germes, como já dissemos, nela repousam. É preciso trabalho e esforço; são necessárias as lições da adversidade para adquirir as altas verdades e as forças morais que são nossa riqueza imperecível.

            Deus é Nosso Pai. Sua solicitude se estende sobre todos os seus filhos. Nossos males se tornam, assim, os auxiliares do nosso progresso. Os choques recebidos, outros tantos estímulos para a ascensão.  É isto o que ocorre no momento presente. Tudo concorre para o aperfeiçoamento dos homens de boa vontade. Há neles um poder de adaptação que os eleva à altura dos acontecimentos e os leva a pressentir as grandes leis que regem o mundo.

            Às vezes, o céu fica negro sobre nossas cabeças, abismos se escancaram sob nossos pés e o futuro terrestre parece ameaçador. Entretanto, Espíritos protetores guiam nossos passos pelos caminhos escarpados, na direção do objetivo fixado por Deus. Aconteça o que acontecer, e a despeito da duração dos tempos, prossigamos nossa marcha pelo caminho traçado, com serenidade e confiança absoluta” (Léon Denis).

 

Observação: as partes I, II, III, IV, V, VI e VII estão publicadas nas semanas 68, 71, 74, 77, 80, 83 e 87, respectivamente.