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ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESPÍRITA

GABRIEL DELANNE

François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.

Artigos
Artigos sobre espiritualidade

Semana 40


QUE BUSCAIS?

Martha Triandafelides Capelotto


_ “Que buscais”? _ Jesus (João, 1;38)

Esta simples indagação de Jesus feita a dois de seus discípulos poderia ser, presentemente, dirigida a todos aqueles que se dizem cristãos, diante dos compromissos que se despontam à sua frente.

Frequentemente ressoam em nossa mente vários dos preceitos do Cristo que, analisados, deveriam ser motivadores para uma conduta mais renovada, frente às nossas responsabilidades.

Infelizmente, por equívocos de interpretação, ou mesmo de acomodação, vamos conduzindo a nossa vida sempre na expectativa rançosa de que basta dizermos em seu Nome que já estaríamos atendendo suas recomendações.

Assim é que, em toda atividade humana, principalmente nos meios religiosos, vemos que ainda somos absolutamente pretensiosos no tocante ao que seja serviço do Cristo.

Desse modo, encontramos, quando também não estamos inclusos no rol, pessoas que não fogem de elogios e homenagens, tomando-as como justas e meritórias em face de suas movimentações no bem; outros que são extremamente laboriosos, dedicados e de boa-vontade, somente realizando de conformidade com suas percepções; outros ainda, que acreditam que não possam ser substituídos com a mesma vantagem de operar

 com a qualidade que executam os compromissos assumidos; mais adiante, deparamo-nos com os perfeccionistas ao extremo, controlando tudo e a todos, a fim de terem a sensação de que ninguém deixará de perceber-lhes na frente dos programas, desejosos de destaques pessoais; aqueles outros, exigentes de si mesmos, acreditando ter o direito de cobrar do outro a mesma cota de doação ou empenho, agindo com absoluta intolerância com as falhas e imperfeições no trabalho e, ainda, encontramos os que consideram o dever como essencial, desprezando as oportunidades para o afeto e a cortesia nas manifestações de amizade e perdão, abdicando do seu lado humano perante a necessidade do cumprimento de suas obrigações.

Diante dessas colocações, vamos encontrar a postura do pretensioso, que é o contrário da abnegação, nos serviços do Cristo. E é assim que, tomados de pretensões que acreditam serem positivas para o serviço da causa, acabam convergindo todos os seus atos para a sua promoção pessoal, privilegiando seus pontos de vista, com o intuito de verem mais adiante seu nome destacado nas obras realizadas.

Ao contrário do acima exposto, a única pretensão justificável nos serviços do Mestre são as de servir e aprender, com a simplicidade que nos leva ao espírito da abnegação que deverá pautar todas as nossas realizações, sendo certo também, que essa mesma simplicidade é a que nos dirige à repartição fraterna de responsabilidades. Desse modo, não nos sobrecarregaremos e ainda, beneficiaremos o próprio rendimento das tarefas.

Jesus, o Mestre que tão bem nos conhecia, deu-nos judiciosa lição, quando Ele mesmo “... chamando doze de seus discípulos deu-lhes poder” (Mateus, 10:1), e os reuniu em torno de um ideal maior: o amor ao próximo, a si e a Deus, para que, com suas contribuições, deixassem a todos os seguidores Dele, na posteridade, as lições imorredouras que lhes marcariam o caminho espinhoso, repleto de obstáculos, mas que essas lutas acerbas estariam afinadas, sintonizadas com as pretensões do Mestre. Lutas essas, sem prestígios e glórias passageiras.

A formação de frentes de trabalho em grupos conscientes e dispostos a lutar pela causa, que é de Jesus, é o apelo do Alto em direção a todos os seareiros mais conscientes, principalmente nos campos do Espiritismo, onde nos aguardam atitudes da maior responsabilidade e exemplificação.

Assim, novamente indago: “Que buscais?”




Semana 39


O HOMEM DE BEM

Edson Ramos de Siqueira

Sob o ponto de vista espiritual, um imensurável e único desafio se coloca diante de nós: EVOLUIR. O tempo passa, inexoravelmente. Mais uma encarnação, mais uma oportunidade de sedimentação dos princípios morais evangélicos, com os quais mantivemos os primeiros contatos há séculos. Mas, continuamos, de maneira geral, com a mesma dificuldade para despertamos do sono profundo mantido pelo manto das ilusões meramente materiais. Consequentemente, a evolução espiritual da Humanidade mantem-se lenta, apesar de já deter capacidade cognitiva suficiente para compreender a realidade da Vida.

Uma vez compreendida essa realidade, perguntar-se-ia:

Por onde começar a aceleração desse tão propalado processo evolutivo espiritual? Digo aceleração porque já caminhamos bastante desde que fomos originados espíritos simples e totalmente ignorantes. Mas, nos detemos num ponto muito difícil da jornada, quando para seguirmos adiante precisamos nos libertar do mal que erroneamente escolhemos ao longo do caminho. Essa libertação é complexa, demanda muito tempo até que atinjamos o patamar evolutivo dos verdadeiros seres humanos plenamente bons.

Mas, o que seria um ser humano plenamente bom?

Nada melhor do que buscarmos suas características no Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, no capítulo XVII: “Sede Perfeitos”, em seu item 3.

Eis uma das referências essenciais para a evolução espiritual da Humanidade.  

 “O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de

amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência

sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não

praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente

alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se

fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.

Deposita fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria. Sabe que sem a sua permissão nada acontece e se lhe submete à

vontade em todas as coisas.

Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos

bens temporais.

Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o

bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma

a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre seus interesses à justiça.

Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que

presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações

que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos

outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes

do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as

perdas decorrentes de toda ação generosa.

O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos,

sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê

irmãos seus.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema (condenação) aos que como ele não pensam.

Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como

certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere

com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não

recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira,

quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a

clemência do Senhor.

Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo

de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por

saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a

primeira pedra aquele que se achar sem pecado.”

Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em

evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa

atenuar o mal.

Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em

combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte,

que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.

Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.

Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais,

por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado.

Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, sabe que é um

depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego

que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões.

Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os

com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da

sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu

orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna

em que se encontram.

O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição

que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente.

Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as Leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus.

Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o

homem de bem; mas aquele que se esforce por possuir as que acabamos de

mencionar, se acha no caminho que a todas as demais conduz”.

            É fácil? Absolutamente não!!! Mas, é esse nosso destino; nos tornarmos verdadeiros homens de bem. E isso jamais acontecerá por um milagre superior, como muitos esperam, mas pelo nosso próprio esforço.



Semana 38


Diálogo e Opiniões

Martha Triandafelides Capelotto

Sempre ouvi dizer que o diálogo é a solução para que possamos dirimir controvérsias e nos apaziguarmos uns com os outros.

Tristemente percebo, ao longo de minha existência, que ainda estamos distantes do consenso pelo uso da ponderação, da conversa saudável, da possibilidade de exteriorizarmos uma opinião sem que venham em nossa direção uma enxurrada de petardos, de contra posicionamentos recheados de arrogância, de radicalismo exacerbado, sem que ninguém queira abdicar de suas ideias. 

Lamentavelmente, o que seria o caminho para o apaziguamento de situações conflitantes ou meramente a possibilidade de uma troca de ideias que poderiam resultar em aprendizado, acabam por gerar conflitos ainda maiores.

O que estaria por detrás de tais posturas?

Mais uma vez, desembocamos no maior entrave de crescimento nas relações interpessoais, que é o orgulho.

Sabemos ser ele, o orgulho, o pai de todas as mazelas e defeitos de nossas almas. Dele decorrem todas as imperfeições que ainda temos; egoísmo, vaidade, personalismo, inveja, ciúmes e tantas outras facetas sombrias que emperram o nosso crescimento espiritual.

Quando falamos sobre ser urgente a necessidade de nos conhecermos, nada há de exagero, pois somente nos conhecendo e todos os sentimentos que animam nosso ser, iniciaremos a transformação.

Muitas vezes, por meio da escrita, manifestei minha opinião sobre alguns comportamentos atávicos, que estão fortemente arraigados no nosso modo de viver, sem que consigamos sair de nossa “zona de conforto” e encararmos de forma madura o real estágio evolutivo em que nos encontramos e dar passos adiante.

Para a Doutrina Espírita, não há retrocessos na nossa condição, mas, a estagnação é algo que ocorre amiúde. Encarnamos e desencarnamos repetindo posicionamentos, vindo em nossa direção experiências corretivas e que acabamos resvalando para a “vitimização” ou ignorando-as, deixando o orgulho imperar.

Assim, como aceitarmos as diferenças que existem entre todos nós, principalmente, no campo das ideias? Como poderemos ser fraternos, solidários, afetuosos, reforçando cada vez mais os laços de amor, se não suportamos sequer, uma opinião que divirja da nossa?

O ser consciente não quer subjugar outras criaturas, pois sabe que a palavra é uma corrente de força que conduz sons e veicula sentimentos. O verbo é a veste do pensamento, por isso, ao opinarmos, devemos sempre ter em mente que poderemos encontrar divergências e, divergir, não significa desprezar o outro porque pensa diferente. Assim deveria ser, mas não é.

Em tempos atuais, as redes sociais mostram exatamente o patamar moral no qual nos encontramos e quanta intolerância nutrem uns pelos outros. Muitos desopilam venenos, inverdades, sarcasmos, insensibilidade diante das tragédias que têm acontecido aqui e acolá. Familiares e amigos se desentendendo porque pensam de forma diferente.

Lamentavelmente, a questão do respeito pelas opiniões diferentes, o diálogo, que para mim, ainda é algo que raramente acontece, estão atrelados ao maldito orgulho que ainda temos dentro de nós.

Assim como o nosso direito de ir e vir, coroado por todas as legislações democráticas, expressar opiniões, com respeito às dos outros, é tão essencial quanto.

Se eu pudesse aconselhar, mas, sabendo de antemão que se conselho fosse bom, ninguém daria, diria que tivéssemos mais respeito uns pelos outros. Cada um de nós é uma individualidade com bagagens diferentes e, cabe a todo aquele que está um pouco mais adiantado, ajudar o retardatário, assim como, ouvindo e dialogando, aprendemos com os mais adiantados. E podemos fazer isso, sem agressões, sem dissenções que nos levam a lugar nenhum.

Indubitavelmente, muitas pessoas existem de parecer estimável, às quais podemos recorrer nos momentos oportunos, mas, não esperemos ressonância de nossas ideias em todos.

Finalizando, um pensamento de Emmanuel para encerrarmos o assunto: “Examina o material dos ignorantes e caluniadores como proveitosa advertência e recorda-te de que não é possível conciliar o dever com a leviandade, nem a verdade com a mentira.” (Caminho, Verdade e Vida pág. 175 – 16 edição)



Semana 37


O Livre-Arbítrio


Edson Ramos de Siqueira

O preenchimento do vazio existencial, que nos leva ao encontro da felicidade real, requer a busca das verdades básicas que permeiam a Casa do Pai, representadas pelas Leis Naturais do Universo.

            Uma das inúmeras Leis essenciais à compreensão da realidade da Vida do Espírito (esteja ele encarnado ou desencarnado), é a Lei do Livre-Arbítrio, intimamente associada à Lei de Causa e Efeito.

            Os seres humanos precisam se aprofundar num processo reflexivo baseado em conceitos reais, palpáveis; que possam nos tirar dessa ignorância espiritual que nos mantêm presos quase que exclusivamente às questões materiais, sendo que a evolução espiritual é a única razão de estarmos reencarnados nesse Plano Físico.

            Urge nos libertarmos dos dogmas e das crenças inacreditáveis. É fundamental que compreendamos a Natureza do Deus que nos criou, e não do Deus que nós criamos.

            O Deus verdadeiro nos concedeu pleno Livre-Arbítrio, e o significado disto é muito profundo e determinante para que procuremos mudar o rumo sob o ponto de vista espiritual. Livre-Arbítrio implica na total responsabilidade de cada um sobre a construção e condução de seu destino.

Em função de nossos pensamentos, palavras e atitudes, enfrentamos as consequências daquilo que escolhemos, ou seja, entra em ação a Lei de Causa e Efeito.

Para ilustrar esse tema, transcrevi a seguir, um trecho da obra: “Doenças ou Transtornos Espirituais”, autoria de Osvaldo Hely Moreira:

“Dos estudos dos casos apresentados pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, ressalta-se o espírito como senhor de seu destino, construtor de sua história feliz ou infeliz, de acordo com o uso da liberdade ofertada pelo Criador, bem como o valor do Evangelho, prescrevendo o amor, a fé, o perdão, a esperança e a caridade como caminhos de cura da alma em seu movimento evolutivo de retorno à Casa do Pai”.

 O grande Pensador francês, Léon Denis, um dos ícones do Espiritismo, foi bem claro e didático em mais um de seus belos textos, abaixo transcrito:

“A liberdade é a condição necessária da alma humana que, sem ela, não poderia construir seu destino… .

A noção é simples e clara. Os Druidas haviam–na formulado desde os primeiros tempos de nossa História e está expressa nas Tríades:

Há três unidades primitivas: Deus, a luz e a liberdade… .

A liberdade e a responsabilidade são correlativas no ser e aumentam com sua elevação; é a responsabilidade do homem que faz sua dignidade e moralidade.

Sem ela, não seria ele mais do que um autômato, um joguete das forças ambientes: a noção de moralidade é inseparável da de liberdade.

A responsabilidade é estabelecida pelo testemunho da consciência, que nos aprova ou censura segundo a natureza dos nossos atos.

A sensação do remorso é uma prova mais demonstrativa que todos os argumentos filosóficos.

Para todo Espírito, por pequeno que seja o seu grau de evolução, a lei do dever brilha como um farol, através da névoa das paixões e interesses.

Por isso, vemos todos os dias homens nas posições mais humildes e difíceis preferirem aceitar provações duras a se abaixarem a cometer atos indignos.

Se a liberdade humana é restrita, está pelo menos em via de perfeito desenvolvimento, porque o progresso não é outra coisa mais do que a extensão do livre-arbítrio no indivíduo e na coletividade.

A luta entre a matéria e o Espírito tem precisamente como objetivo liberta-lo cada vez mais das forças cegas.

A inteligência e a vontade chegam, pouco a pouco, a predominar sobre o que a nossos olhos representa a fatalidade. O livre-arbítrio é, pois, a expansão da personalidade e da consciência.

Para sermos livres é necessário querer sê-lo e fazer esforço para vir a sê-lo, libertando-nos da escravidão da ignorância e das paixões baixas, substituindo o império das sensações e dos instintos pelo da razão.

Isto só se pode obter por uma educação e uma preparação prolongada das faculdades humanas: libertação física pela limitação dos apetites; libertação intelectual pela conquista da verdade; libertação moral pela procura da virtude. É esta a obra dos séculos”.

A evolução espiritual nos demanda muitos esforços, vontade e a busca dos conhecimentos essenciais que nos libertem das ilusões representadas pela  matéria efêmera, bem como pela esperança que milagres (os quais não fazem parte das Leis naturais do Universo, ou seja, não existem), possam nos alçar a Planos mais elevados da escala evolutiva do Espírito.

Allan Kardec nos deixou, de forma muito clara, que somente a Educação Holística poderá promover o progresso da Humanidade. Pensemos nisso!!!


Semana 36


Ansiedade


Maria Triandafelides Capelotto


Nós não precisamos ser da área da saúde para percebermos que algo está acontecendo com muitas pessoas, as quais estão recorrendo aos consultórios médicos, principalmente, terapeutas, queixando-se de síndromes diversas, como depressão, ansiedade, transtorno do pânico, fobias, dentre outras.

Qual seria a razão para esse crescente número de transtornos?

Por incrível que possa parecer, uma das razões encontra-se no desenfreado desenvolvimento da tecnologia que, ao lado de proporcionar confortos antes inimagináveis, paradoxalmente, vem gerando fatores desencadeantes do estado de ansiedade, atrelado ao excessivo materialismo, que atinge o seu ápice.

Devo destacar inicialmente que não sou avessa às modernidades, tampouco à tecnologia, mas, sim, à forma como essa tecnologia está sendo utilizada em alguns aspectos.

Sempre, de algum modo, procuro lançar informações para que possamos buscar refletir sobre determinados assuntos, movida apenas pelo desejo de que outras pessoas possam se inteirar de coisas relevantes. Em assim sendo, ao ler uma obra intitulada “A Cura Espiritual da Ansiedade”, de Alírio Cerqueiro Filho, um desejo me impulsionou para escrever e deixar minha contribuição para o despertamento de alguns que já convivem com essas patologias.

Dentre os fatores que podem desencadear a ansiedade destaco o hedonismo (busca desenfreada pelo prazer), o niilismo (crença no nada), o relativismo (todos os juízos são flutuantes e permissivos, as questões morais se tornaram relativas), o consumismo (a palavra de ordem é ter: objetos, coisas supérfluas, informações, relações interpessoais, etc.), o erotismo (consumismo do sexo de todas as formas possíveis e imagináveis), a coisificação (o ser humano é transformado em um objeto de consumo e vale pelo que consome), o superficialismo (ansiedade por viver como todo mundo, porque senão será superado),  o sentimento de urgência (com o avanço da tecnologia, carregamos nas mãos, o tempo todo, smartphones, tablets, Ipods, etc., fazendo com que muitos vivam num estado de alerta, como se as mensagens não pudessem esperar um minuto, gerando desatenções perigosíssimas, principalmente no trânsito), inversão de valores (o que é principal é colocado como secundário e vice-versa), vazio existencial (resultado de se colocar o espiritual como secundário ou desnecessário), dentre outros.

E porque foi apontada a tecnologia como fator desencadeante da ansiedade? Não há acima questões de foro filosófico, de visão de vida, independentemente do quanto estamos modernos? É que, imagino, a tecnologia traz uma quantidade de informações, de vivências dos outros, que passam a ser objeto de consumo por todos. Quase todo mundo posta suas viagens, suas comidas, suas festas, seus sucessos, incitando à uma competitividade desenfreada. Se eu não tiver ou fizer o que outro tem ou está fazendo, eu sou inferior, pensam muitos, esquecendo-se de que o mais relevante para todos é sermos melhores, e não termos.

Em assim sendo, há uma necessidade urgente em se mudar esse estado de coisas.

E como fazê-lo?

Mais uma vez, será conhecer essas questões com mais aprofundamento. Estamos condicionados a fugir de nós mesmos, em um processo de autoengano. Vivemos voltados para as coisas externas, em movimentos de superficialidade, que nos atrapalha a marcha evolutiva.

Fundamental será buscar a realidade interior para superar a tendência à acomodação e à fuga do autoconhecimento. Nossas escolhas não podem se operar inconscientemente, automaticamente, sem vigilância.

Tecnologia sim, sempre, como facilitadora do nosso cotidiano, porém, sem descuidar das questões morais, espirituais que nos levam a um estado de paz interior, de aquietamento de nossa alma, muitas vezes, fatigada pelo movimento atordoante, mas que pode ser embalada pela musicalidade do movimento universal


Semana 35


O ESPIRITISMO NA PRÁTICA

                                                                                  

Edson Ramos de Siqueira


Este artigo baseia-se na transcrição de alguns trechos da obra “Espiritismo e Vida”, autoria do Espírito Vianna de Carvalho, sob a psicografia de Divaldo Pereira Franco. Selecionamos uma importante abordagem sobre como devemos usufruir dos conhecimentos a respeito da realidade da Vida, no sentido de atingirmos o objetivo precípuo do Espiritismo, que é facilitar a reforma interior, rota única para a Evolução Espiritual. Vianna de Carvalho alerta para nossa tendência de desviarmos da rota, já que temos dificuldade de colocar a teoria em prática.

            “A função filosófica e moral do Espiritismo é, primordialmente, produzir a transformação pessoal do seu adepto para melhor. Não o conseguindo, permanece portador de grande beleza, no entanto, inócuo nos seus resultados. ...

            Ciência estruturada em fatos demonstráveis à saciedade, desperta interesse nos investigadores, enquanto propicia a confirmação experimental dos seus paradigmas. ...

            Ao mesmo tempo, a sua filosofia, possui um repositório de sabedoria que enfrenta o materialismo de maneira estóica (austera), respondendo a todas questões perturbadoras do pensamento, firmadas na lógica e na razão. ...

            Os seus profitentes (seguidores) fazem-se conhecidos pela conduta moral e as ações de caridade em que se empenham. ...

            Por outro lado, a fenomenologia, mesmo convencendo os seus experimentadores, nem sempre consegue produzir espíritas verdadeiros, sinceros, devotados, mantendo-se na torpe situação de investigador exigente, não definindo a sua adesão à Causa.

            Da mesma forma, outros tantos, que se convencem da sua realidade, mediante a aceitação dos seus postulados, embora a certeza da sua legitimidade, não os introjetam no comportamento. …

            Não abandonam os velhos hábitos, estribados em egoísmo avassalador e em soberba injustificável.

            Compreendem os ensinamentos exarados na Codificação Espírita, mas prosseguem acomodados nos seus gabinetes de reflexões e de vaidades, quando não se fazem renitentes nas paixões em que se comprazem. ...

            Normalmente, são hábeis na censura aos demais com facilidade, exigindo perfeição que não possuem. ...

           

            Geram dissidências, apegando-se a detalhes de forma, sem a preocupação de examinarem os conteúdos, sempre vigorosos na exibição da cultura em detrimento da conduta, apegados à letra e longe do espírito da mensagem.

            Compreende-se esse fenômeno humano, considerando-se o estágio inferior no qual estagia a grande massa, incluindo, naturalmente, algumas elites sociais, econômicas e intelectuais. ...

Transitando com dificuldade na indumentária física, sob a pesada carga de compromissos infelizes, não conseguem, após o encantamento inicial com o Espiritismo, vivenciar as suas lições.

Muitos debandam das suas fileiras, porque em realidade jamais se impregnaram dos ensinos espíritas. ... São os simpatizantes temporários e que esperam somente fruir de benefícios propiciados pelos Espíritos ou do conhecimento doutrinário, mas sem a resposta competente do sacrifício pessoal. …

O espírita de coração, aquele no qual o Espiritismo encontra ressonância, produzindo uma evolução para melhor, abre-se ao seu conteúdo e aprende a ser feliz, elegendo a caridade como a estrada moral a palmilhar sem cansaço.

O verdadeiro espírita compreende todas essas ocorrências negativas e infelizes do Movimento no qual labora, sem desanimar-se nem rebelar-se. Sabe que as deserções de muitos companheiros resultam da sua imaturidade espiritual.

É manso, sem emaranhar-se no cipoal da hipocrisia. … A sua energia manifesta-se através da perseverança nas atividades doutrinárias que abraça.

Não tem a leviandade de impor-se, de converter os demais. São os seus atos que despertam a atenção, a crença que vivenciam.

O espírita verdadeiro não se sente completado, mas em construção evolutiva. Estuda sempre, observando as ocorrências e buscando retirar o melhor proveito, a fim de crescer emocionalmente sempre mais. ...

Demitizando os tabus e superstições, crendices e fantasias em torno do Espírito e do seu processo de evolução, convoca o pensamento à análise lógica em torno da finalidade da existência física e das suas ocorrências. ...

Em face das elucidações que oferece, o Espiritismo torna o indivíduo seguro da sua realidade eterna e, se sentindo realmente seguro das responsabilidades que lhe dizem respeito no concerto social, rompe o claustro do medo no qual se encarcerara e sai à luta em difícil trabalho de incessante renovação moral e espiritual.

Por efeito, a sociedade, na qual se movimenta, experimenta a mudança que nele se opera, e desembaraça-se dos grilhões férreos das conveniências transitórias, para estabelecer o comportamento que promoverá a Humanidade ao nobre patamar da integridade social e do equilíbrio geral.

Infelizmente, em razão das estruturas arcaicas em que se firmam os valores éticos e morais atuais, o interesse próprio e a exaltação da personalidade têm prevalência nos seus quadros de relacionamentos humanos. ...

O Espiritismo, como antagonista seguro do materialismo, fere-o de morte, por comprovar a vacuidade da matéria e a sua existência, realçando a energia nas variadas expressões em que se manifesta, culminando com o Espírito, que é o ser pensante. ...

Apresenta-se na condição de uma filosofia profunda, que se propõe a libertar as consciências emaranhadas no cipoal da ignorância, dos preconceitos, das ideias falsas, rompendo todas as amarras que ameaçam retê-las na retaguarda”.


Semana 34


Diferenças e Diferentes

 

Martha Triandafelides Capelotto

O objetivo daqueles que escrevem nessa coluna é levantar, de maneira despretensiosa, algumas questões de ordem moral e espiritual que permitam melhorar os nossos relacionamentos, a partir de um processo reflexivo sobre elas.

            No Livro dos Espíritos, na questão 804, temos um ensinamento que assim nos diz: ”Necessário é a variedade das aptidões, a fim de que cada um possa concorrer para a execução dos desígnios da Providência, no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais.”

O que poderíamos extrair desse ensinamento?

Em primeiro lugar, que as diferenças sempre existiram, existem e existirão pela simples razão de termos sido criados em tempos diferentes e com aproveitamentos das experiências de maneira desigual. Mais uma vez aqui, se faz necessária a compreensão do princípio reencarnatório para que possamos admitir essas diferenças e, até mesmo, compreender a Justiça Divina.

Filosoficamente falando, as diferenças têm conotações de rara beleza e profundidade, como nos ensina Ermance Dufaux, no seu livro “Mereça Ser Feliz”. No entanto, na maioria das vezes, acabam por gerar uma série de conflitos e adversidades. Não só nas nossas relações familiares ou profissionais, mas também nos núcleos espiritualistas, sejam eles de que ordem forem, observa-se o desafio de se estabelecer uma relação harmoniosa e fraterna, quando nos deparamos com aqueles que não pensam e agem como nós. Assim, não escapam desse comportamento nem aqueles que já estão no caminho da busca espiritual.

E agora, reportando-nos a esses, incluindo-nos, obviamente, é importante salientarmos que o respeito por todos aqueles que são diferentes, diríamos, distintos, únicos, é atitude da maior relevância para o nosso crescimento espiritual, pois a não aceitação dos outros pelas diferenças que se estabelecem, leva-nos a tratá-los com a indiferença. Por sua vez, a indiferença gera algo mais grave que é a exclusão afetiva como solução para as dificuldades nos relacionamentos.

Inegavelmente, conviver é difícil, chega a ser mesmo, um desafio. Porém, como em todas as coisas, necessitamos “aprender a conviver” para que a indiferença gerada pelo descaso não acabe gerando em nós, ausência de solidariedade.

O terceiro milênio, no qual já adentramos, promete ser o milênio do homem interiorizado, lembrando que as grandes transformações, tanto no campo das ideias, como também na própria estrutura do planeta já se iniciaram e elevará o nosso orbe à condição de mundo de regeneração, no qual só habitarão espíritos que já tiverem desenvolvido os sentimentos de solidariedade e fraternidade.

Desse modo, não mais se justifica olharmos de maneira negativa as diferenças, mas sim, buscarmos nelas condições de aprendizado construtivo, tanto para aprendermos como disponibilizarmos os nossos próprios talentos e aptidões.

Diferenças não são defeitos, tampouco os diferentes são nossos oponentes. Quando abdicamos do afeto, caímos invariavelmente nas masmorras do desamor. Assim, tenhamos atitudes positivas de combate ao nosso personalismo, que ainda é o grande obstáculo para o nosso crescimento espiritual.

Jesus, na Parábola do Semeador, ao se reportar aos vários terrenos em que foram distribuídas as sementes, deixa-nos um tratado sobre as diferenças e suas etapas. Os solos da narrativa correspondem aos níveis evolutivos em que cada qual dará frutos conforme suas possibilidades.

Benditos sejam os diferentes com suas diferenças!



Semana 33


A Paz no mundo

 

                                                                        Martha Triandafelides Capelotto


“A paz vos deixo, a minha paz vos dou. Não vo-la dou à maneira do mundo.   Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.

Andamos ansiosos esperando por dias de paz, por mais equilíbrio, por mais justiça social, fraternidade e solidariedade. Vivemos o nosso dia a dia na expectativa de que algo miraculoso acontecerá e que, finalmente, vivenciaremos o que nos vai no âmago da alma. Sentir paz e ter paz!

Ledo engano! Triste e ledo engano!

A paz que almejamos não decorrerá de nada exterior, de nenhuma ocorrência catastrófica que poderia mudar os rumos da nossa humanidade, ensinando o homem a viver no mundo, respeitando as leis naturais, tampouco, suas leis transitórias e efêmeras.

Como bem nos ensina Emmanuel, mentor espiritual do nosso inesquecível Chico Xavier, “para que um homem seja filho da paz, é imprescindível trabalhe incessantemente no mundo íntimo, cessando as vozes da inadaptação à Vontade Divina e evitando as manifestações de desarmonia, perante as leis eternas. ”

Exemplos mil poderia dar para que essa orientação seja bem compreendida, porém, basta que nós comecemos apenas nos observando em nossas atitudes diárias, examinando nosso campo mental, nossas palavras, os sentimentos que externamos em relação aos outros e já teríamos uma medida para lá de suficiente e vermos que ainda não sabemos cultivar a paz dentro de nós, quanto mais querermos que ela seja uma tônica na nossa humanidade.

É certo e incontestável que ninguém atingirá o bem-estar, sem esforço no bem, sem disciplina elevada de seus próprios sentimentos.

Também é indispensável compreendermos o enunciado acima, referente à paz do mundo e a paz proposta pelo Cristo. Mais uma vez, Emmanuel preleciona e concordamos em todos os pontos: “Há muitos ímpios, caluniadores, criminosos e indiferentes que desfrutam a paz do mundo. Sentem-se triunfantes, venturosos e dominadores no século. A ignorância endinheirada, a vaidade bem vestida e a preguiça inteligente sempre dirão que seguem muito bem. ”

Quantos são os que dormitam no sono enfermiço da alma, acreditando terem a paz do mundo?

Por outro lado, e ao lado disso, existe por parte daqueles que já despertaram um pouco mais suas consciências para as verdades espirituais, uma inquietação que os levam a questionar o desenrolar dos acontecimentos, cobrando uma interferência ou uma colaboração mais direta dos emissários divinos. Distanciados das noções de justiça, não compreendem que seria terrível furtar ao homem os elementos de trabalho, resgate e elevação. Aborrecem-se, facilmente, com as reiteradas e afetuosas recomendações de paz das comunicações do além-túmulo, porque ainda não se harmonizaram com o Cristo.

Assim, em poucas palavras, já temos uma pálida ideia de quanto nos compete realizar em favor de nós mesmos e dos outros.

Enquanto o trabalho de regeneração individual não se efetivar, por meio de um esforço hercúleo de autoconhecimento e autotransformação, a paz estará distante, vivendo numa realidade que, por ora, não nos pertencerá.

Se desejamos a paz, se ansiamos pela paz, que ela se inicie dentro de nossos corações.

Certos estejamos que grande é a nossa responsabilidade. Cada um, individualmente, contribuirá e fará com que os dias de paz cheguem à nossa humanidade.

Não esperemos grandes sinais, pois estes já foram dados de há muito com o advento do Cristo no nosso orbe, com todo o seu Evangelho de Amor e, para que um dia possamos sentir a sua paz, não podemos nos quedar como os preguiçosos que respiram à sombra, à espera do fogo-fátuo do menos esforço. 


Semana 32

O FENÔMENO DA MORTE

                                              

O artigo desta semana versará sobre uma comunicação de Joanna de Ângelis, psicografada por Divaldo Pereira Franco, em 2/6/2014, na residência de Dominique e Armandine Chéron, em Vitry-sur-Seine, na França.

Os trechos com palavras em itálico, foram acrescentados por nós.

A seguir, a transcrição completa da psicografia.

 

“Presente e constante na existência humana, o fenômeno da morte constitui uma fatalidade da qual ninguém se consegue eximir (fatalidade: destino que não se pode evitar).

Ocorrendo a cada momento nas células, que também se renovam, ocasião chega em que a anóxia cerebral se encarrega de parar as funções do tronco encefálico, interrompendo a ocorrência biológica da vida física.

Todos os seres que nascem morrem, dando prosseguimento ao milagre da vida em outra dimensão, aquela de onde tudo procede.

O objetivo essencial da existência física, em consequência, é a construção e vivência dos valores éticos responsáveis pelo progresso incessante do Espírito até o momento em que alcança a plenitude.

Mesmo nos reinos vegetal e animal, o processo de nascimento e morte obedece à planificação do desenvolvimento evolutivo da essência divina presente em tudo e em toda parte como fundamental manifestação da vida.

Desde quando criado o ser, o Deotropismo (tendência natural de sermos atraídos rumo à Divindade) o atrai com força dinâmica inescapável...

Ao atingir a fase do instinto, desenham-se-lhe no psiquismo pelas experiências, os pródromos (sinal anunciador, primeiros indícios de algo) da razão, passo gigantesco no rumo da angelitude.

Fixar os valores que dignificam e elevam, que o liberta da fase antropológica primitiva, torna-se-lhe, portanto, imposição inevitável que o arrasta no rumo da ascese (elevação espiritual), que lhe constitui meta a ser conquistada.

Passo a passo, experiência após vivência, a ânsia de alcançar a paz e a sabedoria estimula-o ao prosseguimento, mesmo quando sob ações penosas do sofrimento decorrente da desatenção e da rebeldia ante as leis que regem o Universo.

Parte integrante do Cosmo, essa unidade minúscula que é o ser humano, à semelhança de uma micropartícula que forma a unidade atômica, deve manter a sua constância sob o comando da consciência lúcida que reflete o estágio em que se encontra.

As ocorrências desastrosas por falta de discernimento, por teimosia dos instintos agressivos, retardam-lhe a marcha, sem dúvida, porém, não impedem que ocorram novas oportunidades vigorosas em provações ou expiações pungitivas (aflitivas, sofredoras), que se encarregam de corrigir as anfractuosidades (deformações) morais e os desvios comportamentais, impondo a conduta correta como a solução adequada para o equilíbrio e o bem-estar.

Viver é automático, porém, bem-viver, selecionando as questões que promovem os sentimentos e a inteligência a níveis mais elevados, para a conquista da sabedoria, deve ser o objetivo de máxima importância para todo viajante na indumentária carnal.

Sócrates, totalmente lúcido e decidido a demonstrar a sua grandeza moral, em fidelidade a tudo quanto ensinou e viveu, recebeu a morte como um grande bem.

Instado por Críton a fugir, que houvera organizado um plano audacioso com os seus demais amigos, o Filósofo surpreendeu-se e o repreendeu, demonstrando que as leis, mesmo quando injustas, devem ser obedecidas, de modo que a sociedade aprenda a estabelecer códigos de nobreza.

Caso fugisse, demonstrava que era realmente o que dele diziam os inimigos, especialmente aqueles que o levaram ao tribunal com infâmias grosseiras.

E sofismando  respeito da existência, qual fizeram ante os juízes, anuiu com tranquilidade com a sentença infame, demonstrando que a existência física é uma experiência de iluminação e não uma pousada para o prazer infinito.

Buda, de igual maneira, despedindo-se dos discípulos que aguardavam mais informações, a fim de darem continuidade à divulgação dos seus pensamentos, informou que lhes legava o Dharma – a ordem universal imutável – e, serenamente, abandonado por muitos que antes o assistiam, silenciou a voz e retornou à pátria da imortalidade.

Jesus é o exemplo máximo, porque no auge dos sofrimentos pôde anunciar frases que assinalariam com vigor a sua despedida, desde o perdão aos crucificadores  “que não sabiam o que estavam fazendo”, até entregar a mãezinha aos cuidados do discípulo amado, rompendo os laços da consanguinidade terrestre em favor da fraternidade universal.

Foi mais além, dialogando com o ladrão que lhe suplicava ajuda, e socorrendo-o com a resposta da esperança sublime da sua entrada no Reino dos Céus, assim que se desvencilhasse das asperezas dos erros e cumprisse tudo para quanto viera, num inolvidável silêncio após o “tudo consumado”.

Logo mais, porém, retornou em júbilo na madrugada esplendente de sol e de beleza, confirmando a imortalidade e o triunfo da vida à contingência material, de modo que os amigos e quantos outros o viram, pudessem superar a injunção corpórea e voar nos rumos do Infinito.

Francisco de Assis, sofrido pela ingratidão de alguns dos melhores companheiros, ferido e maltratado, sem forças nem resistências orgânicas, exauriu-se lentamente, cantando sempre até ao último hausto, a ponto de ser censurado por tanta alegria...

Todos aqueles que descobriram a imortalidade enfrentaram a consumpção (progressivo definhamento do organismo) dos tecidos orgânicos com estoicismo(coragem) e naturalidade, alegrando-se com o término da tarefa terrestre abraçada, de modo a retornarem vitoriosos ao Grande Lar de onde partiram no rumo do planeta terrestre. 

            Reflexiona diariamente a respeito da tua partida em direção à imortalidade, preparando-te, a fim de que não te fixes em interesses mesquinhos retentivos da retaguarda material.

            Treina o pensamento, em considerações constantes em torno da desencarnação, porquanto ela chegará, talvez, quando menos a esperes.

Se tiveres a felicidade de enfermar por longo prazo, diluindo os liames retentivos do corpo físico, isto será uma benção.

Mas, se fores convocado repentinamente, deixa-te conduzir com alegria, certo de que viverás.

Nada obstante, prepara-te conscientemente para enfrentar esse fenômeno terminal, agradecido ao corpo que te vem servindo de instrumento para a evolução e a tudo quanto te ocorre na atual conjuntura evolutiva”.





A partir desta data, nosso site passará a contar com a valiosa colaboração da escritora espírita Martha Triandafelides Capelotto. Ela reside em São Paulo, é palestrante, coordenadora de cursos, colunista de jornais espíritas e, por vários anos, enquanto residiu na cidade de Jaú, fazia programas espíritas nas rádios locais. 

Semana 31

A ÉTICA DA TRANSFORMAÇÃO
 

                                                      Martha Triandafelides Capelotto

 

“Reconhece-se o verdadeiro cristão pela sua transformação moral”

Na verdade, o enunciado acima foi por mim modificado, pois a ideia original é: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral” (Capítulo XVII – item 4 – O Evangelho Segundo o Espiritismo). A razão é que somos igualmente cristãos, tendo Jesus como nosso guia e Mestre.

Dessa forma, o que seguirá abaixo serve para todos nós, cristãos e não cristãos, crentes ou ateus. Falar de ética é assunto que deve interessar a todos.

Caráter, temperamento, valores, vícios, hábitos e desejos são alguns caracteres que podem ser renovados ou aprimorados, razão pela qual insistimos reiteradas vezes no processo educacional da criatura, na necessidade de se proceder à uma análise profunda   do nosso ser, para sairmos do obscuro de nossas almas, condicionadas a comportamentos milenares de conceitos equivocados.

Em assim sendo, para o homem se aprimorar, o autodescobrimento exige uma nova ética nas relações consigo e com a vida: é a ética da transformação, sem a qual, a incursão no mundo íntimo pode estacionar em mera atitude de devassar a subconsciência sem propósitos de mudança para melhor.

Para tal desiderato, estamos todos convocados a efetivar uma era que seja contemplada pela unificação ética - a união pelo amor -, pródiga de novas atitudes na edificação de uma comunidade mais sintonizada com os princípios morais nobres, exarados por Jesus, tendo a fraternidade como eixo fundamental.

Por outro lado, deve ser observado que o maior obstáculo que enfrentaremos será transpor o interesse pessoal, o conjunto de viciações do ego repetido em várias existências corporais e que cristalizaram a mente nos domínios do personalismo.

A verdadeira renovação espiritual é aprender a negar-se a si mesmo, sem descuidar-se, a esvaziar-se de si, desprezando as atitudes egóicas, tirar as máscaras da hipocrisia e do “pseudoamor” que vestimos, para que o homem novo surja.

O Espiritismo, tendo como um dos seus principais objetivos, que é a revivência do Cristianismo primitivo, é inesgotável manancial ao alcance desse objetivo e creio que ele não veio ao mundo para ser mais uma corrente filosófica, mas, trazer luz, conhecimentos espirituais, morais, éticos que deverão nortear a todas as demais religiões e a toda a Humanidade. Se acham que estou exagerando, procurem conhecê-lo antes de emitirem opiniões falsas e, muitas vezes, levianas e desrespeitosas.

O momento que estamos vivendo é de transição planetária, onde um turbilhão de acontecimentos está desequilibrando a muitos de nós, porém, esta é a hora de nos movimentarmos e remarmos contra todas as correntezas do mal que tentam nos arrastar para as sintonias menos refinadas e, iniciarmos, o que estamos adiando de há muito. Conhercemo-nos e transformamo-nos para melhor. A hora é esta. As trombetas estão tocando, convocando-nos às mudanças necessárias.

A adoção de uma ética da paz, no transcorrer da metamorfose de nós mesmos, será medida salutar, inadiável. Conviveremos bem com os outros na proporção em que estivermos vivendo bem conosco mesmos, conscientes do nosso verdadeiro papel no mundo que é fazermos bem-feita a nossa parte.

Ananias, o apóstolo chamado para curar os olhos do Doutor Tarso, quando o Mestre Jesus o chama pelo nome, o colaborador humilde, com prontidão e livre dos interesses pessoais, responde sadiamente: “Eis-me aqui Senhor”.

Assim, façamos o melhor, deixando o pessimismo, as críticas ácidas, a inconformação inativa e nos coloquemos à disposição na seara do bem, cada qual com seus talentos e possibilidades infinitas.


Semana 30


GABRIEL DELANNE : MÉDIUM AOS OITO  ANOS

Suely Caldas Schubert

Sob o título Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, narra o insigne Codificador, Allan Kardec, um dos mais lindos casos da coleção da Revista Espírita.

            A singeleza do episódio, a naturalidade com que tudo acontece e, especialmente, o eloquente atestado da precoce maturidade de Gabriel Delanne, o protagonista, tornam a leitura deste caso bastante comovedora.

            A maneira como Kardec o registra, com minúcias, leva-nos a criar mentalmente a cena inusitada.

            Convido o leitor a abrir a Revista Espírita, ano de 1865, em outubro, se a tiver em sua biblioteca, para fazermos juntos essa viagem tão grata.

            O mestre lionês inicia citando que o Sr. Alexandre Delanne, já conhecido dos leitores da Revista, tem um filho de oito anos, Gabriel, e que este a todo instante ouve falar do Espiritismo em sua família. Ressalta que o garoto se iniciou cedo na Doutrina e “surpreende pela justeza com que raciocina os seus princípios”. Mas Kardec acrescenta que afinal de contas isto nada tem de surpreendente, “pois é apenas o eco das ideias com que foi embalado”.

            Gabriel, por várias vezes assistiu às sessões mediúnicas presididas por seu pai, que as dirigia com perfeita ordem, com método e recolhimento.

            Certa vez, o menino se achava em casa de um conhecido, brincando com a priminha de cinco anos e mais dois meninos, um de sete e outro de quatro anos. A senhora que residia no térreo chamou-os e ofereceu-lhes bombons e convidou-os a entrar em sua casa, ao que as crianças atenderam. Estabeleceu-se entre ela e o filho do Sr. Delanne o seguinte diálogo:

            - Como te chamas, meu filho?

            -Eu me chamo Gabriel, senhora.

            - Que faz teu pai?

            - Senhora, meu pai é espírita.

            - Não conheço esta profissão.

            - Mas, senhora, não é uma profissão; meu pai não é pago para isto, ele o faz com desinteresse e para fazer o bem aos homens.

            - Meu rapazinho, não sei o que queres dizer.

            - Como! Jamais ouvistes falar das mesas girantes?

            - Então, meu amigo, bem gostaria que teu pai estivesse aqui para as fazer girar.

            - É inútil, senhora, eu tenho, eu mesmo, o poder de as fazer girar.

            - Então queres experimentar e me fazer ver como se procede?

            - De boa vontade, senhora.

            O menino e seus coleguinhas sentam-se ao redor da mesa, pondo as mãos em cima. Gabriel faz uma evocação, em tom muito sério e com recolhimento. Para surpresa geral a mesa moveu-se e bateu com força. A pedido do menino, a dona da casa pergunta quem está ali e a mesa soletra: teu pai.

            A senhora muito emocionada, passa a interrogá-lo a respeito de uma carta que acabara de escrever. Pede provas de que era mesmo o pai propondo questões íntimas e todas as respostas foram corretas. As revelações foram demais e ela não consegue prosseguir, dominada pela emoção.

            Kardec extrai a seguir algumas conclusões deste caso: a autenticidade, a questão da mediunidade nas crianças e a realização das palavras proféticas “vossos filhos e vossas filhas profetizarão.”

            Por nosso lado surgem também algumas reflexões em torno desse lindo caso de Gabriel Delanne.

            É oportuno, antes de prosseguirmos, apresentar aos leitores algumas informações acerca da vida desse menino, que conheceu o Codificador do Espiritismo e com ele conviveu.

            Nasceu Gabriel Delanne em Paris, a 23 de março de 1857, filho de Alexandre Delanne e da Sra. Marie-Alexandrine Didelot Delanne. Seu pai era amigo e colaborador de Kardec e sua mãe possuía excelentes dotes mediúnicos. Gabriel tornou-se, quando adulto, engenheiro eletricista.

            Ao contar suas lembranças infantis, Gabriel menciona que, certa vez, Kardec, pondo-o sobre os joelhos, abraçou-o e profetizou que ele seria “um sacerdote do Espiritismo”, ao que Gabriel esclareceu: “Não fui bem um ‘sacerdote’, mas tenho a presunção de que fiz o possível em minhas forças para bem servir à Doutrina, no setor que me coube.  (...) Nada tenho dilatado. Tudo o que há, é de Kardec. Apenas tenho feito constatações.”

            Na realidade Gabriel Delanne foi o “gigante do Espiritismo científico”, na feliz expressão do escritor Sylvio Brito Soares, de cujo artigo extraímos os dados biográficos.

            A obra literária de Delanne apresenta o resultado de suas pesquisas.  São fatos investigados e confirmados. Citamos: O Espiritismo perante a Ciência (1885); O Fenômeno Espírita (1893); A Evolução Anímica (1895); Pesquisas sobre a Mediunidade (1898); A Alma é Imortal (1899) e, por último, A Reencarnação (1925).

            Gabriel Delanne desencarnou em 15 de fevereiro de 1926. Cinco meses antes, em setembro de 1925, quando da realização do Congresso Espírita Internacional, ao ser lido o discurso de Delanne, este surpreendeu os psiquistas de vários países com suas palavras iniciais : “Roguemos para os nossos trabalhos a bênção divina, pois que é nela que reside todo o poder, toda ciência, toda justiça, toda bondade e todo amor.”

            Interessante assinalar que não se tem notícia de que Delanne haja prosseguido na prática mediúnica. É que sua missão tinha como finalidade dar uma importante contribuição na área científica, e aquele era o momento certo para isso. Neste caso, a mediunidade sendo canalizada para uma outra forma de atuação, torna-se intuitiva.

            Delanne era espírita convicto, de formação científica, apto, portanto, a enveredar pelos campos da Ciência, onde iria realizar, através de suas pesquisas, a comprovação das teorias espíritas. O que ele realmente fez, com total dedicação, no intuito de evidenciar o aspecto científico do Espiritismo.

            Assim, no seu primeiro livro, O Espiritismo perante a Ciência, apresenta alguns dos princípios básicos da Doutrina Espírita, confrontando-os com as respectivas afirmativas cientificas em áreas correspondentes, e além de comprová-los, evidencia que transcendem esses parâmetros. As suas obras subsequentes seguem a mesma linha, num importante trabalho que hoje, um século depois, ainda é bastante valioso para os que se propõem a estudar o Espiritismo, causando-nos profunda admiração e respeito por esse fiel colaborador de Allan Kardec.

            Não se deve, todavia, inferir do episódio mediúnico de Gabriel Delanne, aos oito anos, que seja este um exemplo a ser seguido e que se deva incentivar o desenvolvimento da faculdade em crianças, mesmo aquelas que apresentem natural e espontânea propensão mediúnica.

            Existem aqui alguns pontos a considerar. Inicialmente, examinemos o capítulo XVIII de O Livro dos Médiuns – Inconvenientes e perigos da mediunidade – cujo título por si só é um chamado de alerta. É exatamente aí que Kardec insere a questão da mediunidade infantil.

            Vejamos o que dizem os Instrutores espirituais Erasto e Timóteo, sobre o assunto proposto pelo Codificador.

            No item 221, 6ª questão, ele pergunta:

            “Haverá inconveniente em desenvolver-se a mediunidade nas crianças?

            “Certamente e sustento mesmo que é muito perigoso, pois que esses organismos débeis e delicados sofreriam por esta forma grandes abalos, e as respectivas imaginações excessiva sobre-excitação. Assim, os pais prudentes devem afastá-las dessas ideias, ou, quando nada, não lhes falar do assunto, senão do ponto de vista das consequências morais.”

            Kardec comenta no item 222:

            “A prática do Espiritismo, como veremos mais adiante, demanda muito tato, para a inutilização das tramas dos Espíritos enganadores. Se estes iludem a homens feitos, claro é que a infância e a juventude mais expostas se acham a ser vítimas deles.”

            Explica ainda que as crianças podem fazer disso uma brincadeira.

            “Por aí se vê (prossegue) que a questão da idade está subordinada às circunstâncias, assim de temperamento, como de caráter.”

            O mestre lionês, insistindo no tema, argumenta que existem crianças que são médiuns naturais, perguntando se isto apresentaria algum inconveniente. Os Benfeitores Espirituais esclarecem que não; que se a faculdade se mostra espontaneamente é que a natureza da criança se presta a isto, tanto é que ela não se impressiona, pois tudo lhe é natural e logo se esquece do fato.

            Depreende-se que o desenvolvimento e o exercício da mediunidade é que não devem ser tentados ou provocados, pois causariam danos de ordem psicológica ou outra qualquer, dependendo da criança e de sua formação.

            Com Gabriel Delanne o ocorrido foi resultado de um impulso espontâneo, do seu desejo de evidenciar para aquela amável senhora a realidade do Espiritismo e do intercâmbio com os Espíritos. Deve-se levar em conta o mérito dela, pois Delanne, certamente, agiu sob a inspiração do Alto, a fim de atender a uma circunstância previamente programada.  Outro aspecto fundamental é a precoce maturidade espiritual do menino, que Kardec intuiu, ao prever que ele se tornaria “um sacerdote do Espiritismo”, querendo dizer que Delanne dedicaria sua vida à causa espírita, de forma abnegada, como um verdadeiro sacerdócio. O que de fato aconteceu.

            A lógica argumentação deste autêntico missionário da Terceira Revelação ressalta de cada um de seus livros, referendada, como é óbvio, pelas pesquisas que empreendeu, o que lhe assegura a credibilidade. São bem atuais as suas conclusões filosóficas, resultantes dos fatos comprovados, tal como agiu Allan Kardec em relação à Codificação.

            Conheçamos um pouco do pensamento de Gabriel Delanne, em alguns trechos da obra O Espiritismo perante a Ciência, quando ele disserta com beleza e propriedade:

             

            “Que nova luz traz o Espiritismo! Não há mais dolorosas incertezas sobre o nosso futuro; o além misterioso, velado sob as ficções das religiões, aparece-nos em toda sua realidade. Não mais inferno, não mais céu, mas a continuação da vida, que prossegue no tempo e no espaço, eterna como tudo o que existe. A perene ascensão para destinos sempre mais elevados, eis a verdadeira felicidade. (...)

            Não há mais dogmas, não há mais coisas incompreensíveis, senão uma harmonia sublime que se revela nos menores detalhes dessa imensa máquina que se chama Universo! E a satisfação profunda por perceber qual é, em suma, a nossa finalidade na Terra, é o resultado do estudo atento das manifestações espíritas.”

            Ele explana acerca de dois pontos básicos do Espiritismo, sendo o primeiro deles a existência de Deus e afirma que nEle se resumem todas as perfeições, levadas ao infinito. E ressalta:

 

            “Foi-se o tempo em que se concebia Deus como potência implacável e vingadora, condenando eternamente o homem pela falta de um momento.(...) O Deus que compreendemos é a infinita grandeza, o infinito poder, a infinita bondade,  a infinita justiça! É a iniciativa criadora por excelência, a força incalculável, a harmonia universal! Deus é a vida imensa, eterna, indefinível.

 

            O segundo ponto básico é a existência da alma e ele esclarece que o Espiritismo ensina que Deus fez todos os Espíritos iguais e os dotou de iguais faculdades para chegarem ao mesmo fim – a felicidade:

            “É o eu consciente que adquire, por sua vontade todas as ciências e todas as virtudes, que lhe são indispensáveis para elevar-se na escala dos seres. (...) Longe de considerar-se como os habitantes exclusivos do pequeno Globo, o Espiritismo demonstra que devemos ser os cidadãos do Universo. (...)

            Nossa filosofia enriquece o coração, ela considera os infelizes, os deserdados do mundo como irmãos a quem devemos socorrer. O Espiritismo destrói completamente o egoísmo. É pelo auxílio mútuo que adquirimos as virtudes indispensáveis ao nosso adiantamento espiritual.”

 

            Deixemos com esse fiel continuador de Kardec a palavra final:

            “A ciência espírita tem um fim mais nobre, mais grandioso, seu principal objetivo é demonstrar a existência da alma depois da morte; alcançasse somente esse resultado e as consequências daí decorrentes, sob o ponto de vista moral e social, seriam já consideráveis. Mas não se limitam a isso seus benefícios. Ela nos fornece informações seguras sobre a outra vida, permite-nos compreender a bondade e a justiça de Deus, dá-nos a explicação de nossa existência na Terra, numa palavra, é a ciência da alma e de seu destino.”

 

(Publicado na revista REFORMADOR, de setembro de 1999, pág. 20)


Semana 29

O MENTOR ESPIRITUAL

 

Edson Ramos de Siqueira

 

            Em nossos últimos artigos temos ressaltado que, em função das Leis do Livre-Arbítrio e de Causa e Efeito, nossos destinos são construídos por nós mesmos. Não existem milagres, nem as fantasias que envolvem grande parte da Humanidade; as quais nos mantêm envoltos por um espesso manto de ilusões, sempre à espera que algum Superior Espiritual faça por nós aquilo que somente nós podemos fazer. Precisamos assumir todas as responsabilidades por tudo aquilo que pensamos, falamos e fazemos; ou seja, pela nossa existência.

            Mas, apesar dos Espíritos Superiores não fazerem por nós aquilo que nos cabe, existe uma estrutura pedagógica espiritual programada para que tenhamos oportunidades de aprendermos tudo o que precisamos saber e fazer para galgarmos os degraus da grandiosíssima escada evolutiva do Espírito, pois é esse o sentido básico da vida.

            Os principais componentes de uma estrutura pedagógica são os Educadores, e ao considerarmos a cadeia hierárquica espiritual é o Mentor, ou “Anjo da Guarda”, o nosso Superior imediato; designado para nos orientar na jornada evolutiva.

Portanto, nunca estamos sós, nem desamparados; a menos que queiramos. Afinal, temos plena liberdade para fazermos as escolhas que acharmos convenientes. Não nos esqueçamos porém, que nossos pensamentos e atos que envolvam o Amor, são potencializados pelos Espíritos Superiores. Por outro lado, os pensamentos e atos caracterizados pelo desamor, são também potencializados; mas, pelos Espíritos de grau inferior de evolução, ligados ao mal.

Em “O Livro dos Espíritos”, no capítulo IX do livro segundo, Allan Kardec aborda a intervenção dos Espíritos no mundo corporal. Num dos subitens ele trata dos Anjos Guardiões, Espíritos Protetores, Familiares ou Simpáticos.

A seguir, um sumário condensado das respostas dos Espíritos da Codificação às perguntas sobre o tema, elaboradas por Kardec:

-“ Anjo Guardião é o Espírito protetor, de uma ordem elevada. Sua missão é guiar seu protegido no bom caminho, ajudá-lo com seus conselhos, consolar suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida.

- O Espírito protetor liga-se ao indivíduo após o nascimento, até a morte, e, frequentemente, o segue depois da morte na vida espiritual, e mesmo em várias existências corporais.

- O Espírito protetor é obrigado a velar sobre vós porque aceitou essa tarefa, mas pode escolher os seres que lhe são mais simpáticos.

- Ele se afasta quando vê seus conselhos inúteis, e que a vontade de sofrer a influência dos Espíritos inferiores é mais forte. Todavia, não o abandona completamente. Ele retorna, desde que chamado.

- Pensar que se tem sempre perto de si seres que vos são superiores, que estão sempre aí para vos aconselhar, vos sustentar, vos ajudar a escalar a áspera montanha do bem, que são os amigos mais seguros e mais devotados do que as mais íntimas relações que se possa contrair sobre esta Terra, não é uma ideia bem consoladora?

- Esses seres aí estão por determinação Divina; e por amor, cumprem uma bela, mas penosa missão. Sim, onde estejais, ele estará convosco: as prisões, os hospitais, os lugares de devassidão, a solidão, nada vos separa desse amigo que não podeis ver, mas do qual vossa alma sente os mais doces estímulos e ouve os sábios conselhos.

- Deveríeis conhecer melhor esta verdade! Quantas vezes ela vos ajudaria nos momentos de crise; quantas vezes ela vos salvaria dos maus Espíritos! Todavia, no grande dia, este anjo de bondade terá frequentemente de vos dizer:

“Não te disse isto? E não o fizeste; não te mostrei o abismo? E aí te precipitaste; não te fiz ouvir na consciência a voz da verdade? E seguiste os conselhos da mentira!”

Ah! Interrogai vossos anjos guardiões; estabelecei entre eles e vós essa ternura íntima que reina entre os melhores amigos. Não penseis em esconder-lhes nada, porque eles têm os olhos de Deus, e não podeis enganá-los.

Sonhai com o futuro; procurai avançar nessa vida e vossas provas serão mais curtas, vossas existências mais felizes. Caminhai! Homens de coragem; atirai para longe de vós, de uma vez por todas, preconceitos e ideias preconcebidas; entrai na nova estrada que se abre diante de vós. Marchai! Marchai! Tendes orientadores, segui-os: o objetivo não vos pode faltar, porque esse objetivo é Deus”.

Ao partir para as considerações finais, sugiro como exercício a cada leitor, uma auto análise a respeito do grau de interação consciente com seu Anjo Guardião, ou Espírito Protetor, ou Mentor Espiritual; não importa a denominação. O importante é saber que ele é um Espírito humano desencarnado, mais evoluído do que você, e que no futuro você também cumprirá essa difícil missão de orientar alguém ao longo de uma fase da trajetória evolutiva espiritual. Vamos então, às reflexões sobre o seu Mentor:

Com qual frequência você o mentaliza?

            Você sente os efeitos das ações empreendidas por ele em relação às suas necessidades prementes e requisições justas?

            Você percebe a intervenção dele em situações difíceis pelas quais eventualmente tenha passado e que poderiam redundar em consequências desastrosas?

            Em suas atividades cotidianas você sente quando é inspirado por ele?

            Se a sua resposta for sim, você o agradece?

            Você acha que todas as suas atividades coroadas de êxito redundaram exclusivamente de suas próprias ações, tanto na concepção como na execução?

            Se a sua resposta for não, certamente você não diz:

            Eu consegui! Eu fiz! Eu atingi o sucesso almejado!

Ou seja, não conjuga o verbo na primeira pessoa do singular e sim na primeira pessoa do plural:

Nós conseguimos! Nós fizemos! Nós atingimos o sucesso! Porque nunca estamos sozinhos, sempre trabalhamos em equipe, mesmo que não enxerguemos ninguém ao nosso lado. No mínimo, nosso Mentor se faz presente, e muitas vezes, outros amigos espirituais também compõem a equipe.

Você tem ciência e consciência de que quando pensa no mal, emite palavras pesadas e toma atitudes imorais, se desconecta automaticamente de seu Mentor Espiritual?

Você tem ciência e consciência de que o substituto dele, que você mesmo escolheu em pleno exercício de seu livre-arbítrio, é um Espírito de grau evolutivo inferior, ligado às falanges do mal?

Ou seja, quem constrói nossos destinos somos nós mesmos.

Nossos Superiores Espirituais nos ensinam, nos orientam, tentam nos proteger; mas não fazem aquilo que cabe exclusivamente a nós, nem operam milagres. Assim determinam as Leis que regem o Universo.

            Se ao término de suas reflexões, você não tiver se identificado com a maior parte do que está exposto acima, sugiro que estude o Espiritismo de uma forma mais objetiva, priorizando aquilo que realmente possa contribuir com o preenchimento de seu vazio existencial e, consequentemente, com a aceleração de seu processo evolutivo espiritual. Em pleno 2020, não cabem mais as fantasias e as inverdades que ainda mantemos em nossos interiores; não por culpa nossa, mas pela deficiência da aplicação do processo educacional holístico proposto na grande Obra Espírita. 

Semana 28

ASSUMAMOS A RESPONSABILIDADE PELOS NOSSOS PENSAMENTOS, PALAVRAS E ATITUDES!

 

Edson Ramos de Siqueira

             

Uma dúvida comum a tantos irmãos, diz respeito ao determinismo, ou seja: tudo aquilo que acontece em nossas vidas deveria mesmo acontecer? Estava determinado?

Mas, o que é determinismo? Vejamos uma definição:

“Alvo de muitas críticas, o determinismo é uma teoria filosófica que afirma que as escolhas e ações humanas não acontecem devido ao livre-arbítrio, mas por relações de causalidade (relação entre causa e efeito). ... A teoria defende ainda, que todos os acontecimentos ocorrem devido ao decurso natural, por uma causa específica, e devem de fato acontecer” (www.estudopratico.com.br).

Nos balizemos agora pelo Livro dos Espíritos onde, no capítulo X (Lei de Liberdade), na questão 872, Allan Kardec escreveu (publicamos alguns trechos):

 “A questão do livre-arbítrio pode ser resumida assim: o homem não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que ele realiza não estão antecipadamente escritos; os crimes que ele comete não resultam de uma sentença do destino. Ele pode, como prova e como expiação, escolher uma existência em que terá os arrastamentos (tentações) do crime, seja pelo meio em que está colocado, seja pelas circunstâncias que sobrevirão, mas está sempre livre para agir ou não agir. Assim, no estado de Espírito, o livre-arbítrio existe na escolha da existência e das provas, e no estado corporal, na faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos aos quais estamos voluntariamente submetidos. Cabe à educação combater essas más tendências e o fará utilmente quando estiver baseada no estudo profundo da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral, chegar-se-á a modifica-la, como se modifica a inteligência pela instrução….

            …A fatalidade (na questão 851, Kardec explica o sentido da palavra fatalidade: “todos os acontecimentos são predeterminados”.), tal como é vulgarmente entendida, supõe a decisão prévia e irrevogável de todos os acontecimentos da vida, qualquer que seja a importância. Se ela estivesse na ordem das coisas, o homem seria uma máquina sem vontade. Para que lhe serviria sua inteligência, visto que seria invariavelmente dominado em todos os seus atos pela força do destino? Uma tal doutrina, se fosse verdadeira, seria a destruição de toda liberdade moral. Não haveria mais responsabilidade para o homem e, por conseguinte, nem bem, nem mal, nem crimes, nem virtudes….

            A fatalidade, entretanto, não é uma palavra vã. Ela existe na posição que o homem ocupa sobre a Terra e nas funções que ele aí cumpre, por consequência do gênero de existência que escolheu como prova, expiação ou missão. Ele sofre, fatalmente, todas as vicissitudes dessa existência, e todas as tendências boas ou más que a ela são inerentes. Mas, a isso se reduz a fatalidade, porque depende de sua vontade ceder, ou não, a essas tendências. O detalhe dos acontecimentos está subordinado às circunstâncias que ele próprio provoca por seus atos, e sobre os quais podem influir os Espíritos, pelos pensamentos que lhe sugerem.

            A fatalidade, pois, está nos acontecimentos que se apresentam, visto que são a consequência da escolha da existência feita pelo Espírito. Ela pode não estar no resultado desses acontecimentos, posto que pode depender do homem modificar-lhes o curso pela sua prudência”.

            Depreende-se pelo exposto, que somos os reais construtores de nossos destinos, que por outro lado, podem ser modificados, já que o livre-arbítrio é uma Lei Superior incontestável, imutável e sem exceções.

            Enquanto pensarmos que tudo já está determinado, sem possibilidade de alterações, estaremos a agir como autômatos. É certo que enfrentamos as consequências de nossos pensamentos, palavras e atitudes, boas ou más, desta e das encarnações passadas (Lei de causa e efeito). Mas, essas consequências são dinâmicas, a dependerem de nossas ações e reações no presente.

            Portanto, assumamos a responsabilidade por nossas existências e, dessa forma, nos livremos das fantasias, das mistificações e superstições, que tanto atrasam nossa jornada evolutiva espiritual.

            Contamos sempre com a amorosa orientação e proteção de nossos Mentores Espirituais; mas, as decisões e ações, corretas ou não, dependem exclusivamente de nossa vontade, pois a Divindade nos concedeu liberdade total. Enfrentemos, com determinação e confiança, todos os desafios de nossas jornadas, e procuremos agir conforme os preceitos morais ensinados por nossos Superiores Espirituais, liderados pelo Mestre Jesus.

            E não nos esqueçamos que, conforme nos ensina Santo Agostinho, em O Evangelho segundo o Espiritismo: “… Nesses mundos, os Espíritos têm de lutar ao mesmo tempo com a perversidade dos homens e contra a inclemência da Natureza, duplo e penoso trabalho, que desenvolve simultaneamente as qualidades do coração e as da inteligência…”.

É para isso que estamos reencarnados!


Semana 27

EDUCAÇÃO: A ÚNICA VIA DA EVOLUÇÃO ESPIRITUAL

 

Edson Ramos de Siqueira

 

O artigo da semana 26 teve como objetivo central demonstrar que somos os únicos responsáveis por nossos destinos. As escolhas são nossas; acertamos em algumas coisas, erramos em muitas outras, realidade que retarda significativamente a evolução espiritual.

Mas porque erramos tanto?

Por ignorarmos as Leis que regem o Universo!

Como mitigar esse desconhecimento?

Só existe uma maneira: pela Educação Holística (ou Integral), única via para que o Espírito se aprimore moral e intelectualmente, de forma lenta e gradativa, ao longo das incontáveis reencarnações.

Cada processo reencarnatório representa mais uma oportunidade de aprendizagem; cuja eficácia, nessa fase da evolução é, de maneira geral, baixíssima. É importante que se ressalte que a responsabilidade de contribuir com a aceleração da evolução cabe àqueles encarregados das atividades educacionais, sobretudo aos pais e professores, mas também aos que se encontram no entorno daquele Espírito.

Ilustro essa questão com alguns trechos de uma comunicação de Joanna de Ângelis, psicografada por Divaldo Pereira Franco, constante de sua obra: “Lições para a Felicidade”. 

“A frágil criança que comove e desperta sentimentos nobres, convidando à carícia e ao enternecimento, é Espirito com formação ancestral rica de valores positivos e negativos a que a reencarnação faculta aprimoramento. …

Eis por que a educação exerce papel relevante na construção do caráter do cidadão, desde quando orientada a partir da infância, mediante a criação de hábitos formadores dos sentimentos e do caráter, que propiciam o saudável relacionamento social e o consequente crescimento moral-espiritual. …

A educação moral deve ser conferida, a fim de encarregar-se de desenvolver os sentimentos capazes de enfrentar e superar o egoísmo, a crueldade, a imprevidência, esses inimigos ferrenhos do progresso pessoal e coletivo da Humanidade.

A educação consegue modificar as estruturas negativas da personalidade, proporcionar campo para o crescimento dos impulsos morais edificantes, para guiar o pensamento no rumo dos deveres, oferecendo forças para que se expressem as aptidões nobres, que são herança divina jacente (presente) em todos os seres. …

A educação integral, aquela que se apresenta nas áreas moral e intelectual, é a grande modeladora que tem por missão incutir hábitos saudáveis, roteiro de segurança, equilíbrio de comportamento e interesse pelas conquistas éticas que exornam (ornamentam) o processo de evolução da Humanidade. …

Jesus, o Educador por excelência permanece como o maior didata da Humanidade, por haver demonstrado ser a educação o mais seguro processo de desenvolvimento dos valores adormecidos na criatura”.

Tudo no Universo tem uma razão de ser, mas, na maior parte das vezes, desconhecemos. Assim é o processo da gênese, crescimento e desenvolvimento do corpo físico. Por que, em cada reencarnação, temos que passar por esse complexo mecanismo? A questão 383 de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, elucida de forma bastante simples e objetiva:

“Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pelo estado de infância?

O Espírito se encarnando para se aperfeiçoar, é mais acessível, durante esse período, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir aqueles que estão encarregados da sua educação”.

O célebre pensador francês, Léon Denis, ressaltou o papel fundamental da Educação Holística na evolução do Espírito, bem como o papel a cumprir e a enorme responsabilidade atribuída pela Espiritualidade Superior aos Educadores:

“Os preceptores (mestres) da Humanidade têm, pois, um dever imediato a cumprir. É o de repor o Espiritualismo na base da educação, trabalhando para refazer o homem interior e a saúde moral.

É necessário despertar a alma humana adormecida por uma retórica funesta (discurso maléfico); mostrar-lhe seus poderes ocultos, obriga-la a ter consciência de si mesma, a realizar seus gloriosos destinos…

Instruamos a juventude, esclareçamos sua inteligência, mas, antes de tudo, falemos ao seu coração. Tende como templo o Universo; como altar a consciência; como lei a caridade; por imagem Deus; por religião o amor”.

Como encerramento do artigo, apresento uma parte da resposta dos Espíritos da Codificação, na questão 917 de “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec:

 “…Só se obterá a cura dos males causados pelo egoísmo se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação; não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhece a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigí-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas”.

Portanto, não existem milagres nem interferências superiores que fujam às Leis Naturais do Universo. Temos total livre-arbítrio, tanto para aprender o que devemos aprender, como para ensinar o que temos condição de ensinar. A única via da evolução é a Educação.

 

Semana 26

QUEM CONSTRÓI NOSSO DESTINO?

Edson Ramos de Siqueira

           A chave para uma aceleração substancial na evolução espiritual da Humanidade, que pressupõe profundas transformações morais e intelectuais, está no “conhece-te a ti mesmo e conhecerás os Deuses e o Universo”; aforismo inscrito no Templo de Apolo, em Delfos na Grécia, por muitos autores atribuído ao filósofo e matemático Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo do Ocidente.

Essa tarefa é árdua, pois o início do processo de autoconhecimento transcende a matéria, ou seja, não somos os corpos físicos que provisoriamente temos, e nossa história espiritual não teve início no dia em que nosso atual corpo material veio à luz.

Somos Espíritos eternos, e temos registrado no inconsciente toda trajetória de aprendizagem ao longo dos milênios incontáveis. Os períodos que se alternam entre os processos reencarnatórios e a erraticidade, nada mais são do que as fases de um projeto pedagógico espiritual, cujo objetivo central é nos alçar à perfeição moral e intelectual. 

Portanto, o sentido primário da Vida do Espírito é evoluir, estejamos encarnados ou desencarnados. Consequentemente, onde quer que estejamos, será sempre a Divina Escola da Vida; que tem como uma de suas características principais, a ausência de facilidades. Escolas fáceis não formam grandes seres humanos.

Mas, por ainda não termos despertado a consciência, sonhamos com um mar de rosas que não existe, nos encolhemos diante da menor dificuldade e rogamos ao Alto que o milagre aconteça e nossos problemas se resolvam de imediato, como se aqui estivéssemos para sermos servidos e não para servir.

O referido projeto pedagógico espiritual é perfeito em sua concepção por parte dos nossos Superiores Espirituais. Porém, sua execução cabe exclusivamente a nós.

O Universo, em todas as suas dimensões, é regido por um volumoso conjunto de Leis das mais distintas naturezas. No quesito de nossa aprendizagem espiritual, nessa linha de pensamento que estamos a abordar, há que se destacar duas leis essenciais:

Lei do Livre-arbítrio e Lei de Causa e Efeito, ou seja, as escolhas são totalmente nossas; mas, cada escolha terá uma consequência compatível. É simples!

Portanto, não esperemos que os nossos Superiores Espirituais façam por nós aquilo que cabe a nós fazermos. Nossos Mestres ensinam, quem estuda e faz as provas somos nós; alunos espirituais.

Então, quem constrói nosso destino?

Osvaldo Hely Moreira e colaboradores, na obra “Doenças ou transtornos Espirituais?”, fez a seguinte citação:

Dos estudos dos casos apresentados pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, ressalta-se o espírito como senhor de seu destino, construtor de sua história feliz ou infeliz, de acordo com o uso da liberdade ofertada pelo Criador, bem como o valor do Evangelho, prescrevendo o amor, a fé, o perdão, a esperança e a caridade como caminhos de cura da alma em seu movimento evolutivo de retorno à Casa do Pai”.

Em suma, não atribuamos a outrem, nem a Deus, responsabilidades exclusivamente nossas!

Na mesma linha de raciocínio, três pensamentos do Mestre Chico Xavier:

“Procure descobrir o seu caminho na vida. Ninguém é responsável por nosso destino, a não ser nós mesmos”.

“Ninguém quer saber o que fomos, o que possuímos, que cargo ocupávamos no mundo; o que conta é a luz que cada um já tenha conseguido fazer brilhar em si mesmo”.

“Nem Jesus, quando veio à Terra, se propôs resolver o problema particular de alguém. Ele se limitou a nos ensinar o caminho que necessitamos palmilhar por nós mesmos”.

Encerramos com um pensamento do escritor e psiquiatra Augusto Cury, que corrobora a essência desse artigo:

“O destino é uma questão de escolha”.



Semana 25

O que estamos a fazer nesse Planeta?

 

Edson Ramos de Siqueira

Partamos do princípio que a reencarnação é um processo incontestável. Sem essa certeza, que sentido teria a vida?

A partir dessa premissa, é essencial que nos identifiquemos como Espíritos antiquíssimos e eternos, passando mais uma fase de aprendizagem nessa dimensão materialmente e energeticamente densa, conhecida como Planeta Terra, acoplados em mais um corpo físico temporário, porém fundamental como instrumento pedagógico, que é sua única razão de ser.

Portanto, não estamos novamente reencarnados para meramente gozarmos a vida exclusivamente sob a ótica material. Aqueles que ainda não despertaram a consciência para a realidade iludem-se, e, consequentemente, perdem o preciosíssimo e efêmero tempo que representa cada processo reencarnatório.

Então, estaríamos aqui para sofrer? Não!!! Estamos reencarnados para continuarmos nosso projeto pedagógico espiritual; ou seja, para aprendermos, para desenvolvermos nossa inteligência e os princípios morais.

Para tanto, sempre teremos obstáculos, desafios e dificuldades a serem superados. Isso não significa sofrimento, o qual é relativo à percepção que cada um tenha das dificuldades e dores que enfrenta.

Para que gradativamente diminuamos a sensação do sofrimento é necessário que exercitemos a aceitação. Mas, para que aceitemos a realidade da vida é preciso que conheçamos as bases do funcionamento da Casa do Pai (Universo).

À medida que nos aprofundamos nos conhecimentos espirituais, sentimos que passamos a aceitar mais naturalmente as vicissitudes da vida, consequentemente, passamos da fé cega para a fé raciocinada, que é a real. Portanto, o nível de nossa fé encontra-se na dependência direta do nível de aceitação dos fatos que permeiam nossas existências.

Quando nos conscientizarmos dessa verdade, poderemos concordar com o conceito de felicidade do filósofo alemão Eric Fromm: “Felicidade é a aceitação corajosa da vida”.

Dessa forma entendamos que todas as catástrofes, de qualquer natureza, que afetam a Humanidade, não contêm nada de extraordinário; são decorrências das Leis Naturais do Universo. Portanto, devemos enfrenta-las com naturalidade, confiança e coragem, atentos para todos os ensinamentos que cada dificuldade encerra.

Para uma reflexão complementar transcrevi, a seguir, um trecho da obra “Jesus e o Evangelho da Psicologia Profunda”, de Joanna De Ângelis, psicografada por Divaldo Pereira Franco:        

“O mundo, examinado sob a ótica teológica à luz da Psicologia Profunda, é um educandário de desenvolvimento dos recursos espirituais do ser em trânsito para o Reino dos Céus.

Do ponto de vista teológico ancestral, é possuidor de um significado secundário e perturbador para o Espírito, que o deve desprezar e mesmo odiá-lo.

Essa visão originada no Cristianismo primitivo, encontrou, na ignorância medieval, o seu apogeu, estimulando os crentes a renunciá-lo, deixando o corpo consumir-se pelas enfermidades degenerativas e pelo abandono a que era relegado como passaporte para a glória celeste.

À medida que a sombra coletiva, no seu caráter universalista, começou a dissipar-se em razão dos avanços do conhecimento, a dicotomia em torno do mundo e do Reino deixou de ser separada por um imenso abismo, graças à ponte da lógica e da razão que foi colocada entre as duas bordas, facilitando a comunicação, o acesso de quem desejasse transferir-se de um para o outro lado.

Fosse o mundo apenas um vale de lágrimas, ou a região de dores infernais, defrontaríamos um absurdo ético, ao analisarmos a Divindade com todos os atributos da Perfeição, atirando criaturas psicologicamente infantis e desequipadas em uma experiência impossível de ser vivenciada com dignidade e elevação.

Quaisquer exceções que ocorressem se apresentariam como portadoras do transtorno masoquista, que haviam elegido a desdita e o infortúnio, a fim de alcançarem a glória como compensação pelas dores sofridas. Seria uma conquista difícil de ser conseguida pelo ser humano, constituindo um paradoxo na área da razão e do bom senso, em face do impositivo de que o sofrimento é o caminho único para facultar o equilíbrio e o júbilo.

Isso constituiria a morte do amor, o aniquilamento da esperança e a destruição da caridade.

Em nenhum momento, o Homem-Jesus anuiu com essa ideia ou fez algum pronunciamento que pudesse dar validade a esse conceito absurdo e cruel, desnaturando a magnanimidade de Deus.

O mundo tem as suas características e legislação, condutas e ética ainda imperfeitas, certamente, mas que se aprimoram à medida que o ser humano se aperfeiçoa e adquire equidade, enobrecimento….

Para que houvesse esse procedimento evolutivo e qualitativamente ocorressem transformações incessantes, Jesus veio viver nele, participar das suas conjunturas, abençoar as suas paisagens, ensinando como transformar os fatos constritores, limítrofes, em linhas direcionais para o Bem, ante a inevitabilidade do fenômeno da morte física.

A Sua é uma Doutrina toda alicerçada nas expressões imortalistas, na vida futura que a todos aguarda, propiciando a autotransformação, a elevação de propósitos, a eleição de metas significativas e profundas”(1).



Semana 24

Edson Ramos de Siqueira

        Nosso artigo desta semana será a transcrição, na íntegra, de um texto magnífico de Léon Denis, publicado por Claire Baumard em sua obra: “Léon Denis na Intimidade”.

            Claire Baumard foi secretária do grande escritor e um dos mais importantes divulgadores da obra de Allan Kardec.

            Assim ela escreveu em sua obra:

       “Eu conservo um certo número desses rascunhos a lápis que me agrada reler muitas vezes. Nenhum encerra tantos pensamentos profundos e primorosos como aquele que se refere à cena do diálogo entre o homem e o espírito, publicado pela Revista Espírita, em 1926”.

Leiamos e reflitamos sobre esse maravilhoso e profundo texto de Léon Denis.


DIÁLOGO

O homem: “O céu está negro sobre minha cabeça, a senda tortuosa que percorro é contornada de abismos; eu ando no nevoeiro em direção a um alvo desconhecido. Quem então guiará meus passos? Quem então clareará meu caminho? Consumi a taça dos prazeres materiais e, no fundo, só encontrei amargura. Honra, fortuna, renome, tudo se dissipou em fumaça! E agora minha barba embranqueceu, minha fronte se desnudou, minha visão está quase extinta; sinto que me aproximo de uma solução fatal. Qual será ela? A noite profunda, o silêncio eterno ou será uma aurora?

O espírito: Eleva teus pensamentos além da Terra. Este globo não é mais que um degrau para ir mais alto. Medita e ora! A prece ardente é uma luz, uma radiação da alma que dissipa as brumas, ilumina o caminho, mostra o objetivo. Medita e ora e, se tu sabes orar, obterás a visão, a compreensão da beleza do mundo, do esplendor do Universo; verás a estrada imensa de ascensão que conduz as almas de etapas em etapas para a sabedoria, a paz serena, a luz divina, e tu agradecerás a Deus!

Tudo que é material é precário e inconstante. Somente as coisas do espírito são duráveis. Durante o tempo que te resta para viver aqui neste mundo, trata de te libertar, pelo pensamento e pela vontade, do jugo da carne. Isso tornará mais rápido o desligamento da tua alma no momento da morte, mais fácil a sua entrada no mundo fluídico, nas grandes correntes de ondas que percorrem o espaço e o levarão para as esferas superiores onde tu desfrutarás, segundo os méritos adquiridos, das harmonias divinas até a hora da reencarnação, hora do retorno à Terra, e nela retomares a obra de evolução e de aperfeiçoamento que pareces ter negligenciado muito no decorrer da vida presente.

O homem: Tu me abres perspectivas que me deslumbram e me dão vertigens. Retomar a tarefa após esta vida agitada, atormentada, penosa, com tantas inquietações! Renascer para lutar de novo? Eu preferiria o nada, o repouso do túmulo e o esquecimento.

O espírito: O nada é somente uma palavra vazia de sentido. Nada do que é pode deixar de ser. O princípio da vida que nos anima é um dinamismo poderoso que simplesmente muda de ambiente no fenômeno a que chamais morte. Minha presença aqui é a prova demonstrativa do que falei. Estuda a obra de Deus em ti, em tua alma, aí reconhecerás os germes de maravilhosas riquezas destinadas a crescer e a se desenvolverem, de vidas em vidas, pelo teu trabalho, por teus esforços, até que tenhas chegado à plenitude do ser na perfeição, na posse do gênio e do amor. E quando tiveres chegado a essa plenitude, e que tenhas ajudado aqueles que tu amas a também se elevarem, então empregarás teus poderes de ação para elevar, por sua vez, todos aqueles que lutam e sofrem nos mundos inferiores. Então tu compreenderas toda a grandeza do plano divino, o objetivo sublime que Deus determinou para o homem, querendo que ele seja o artesão da sua felicidade e a conquiste ele mesmo, por suas obras.

O homem: A felicidade? Eu a procurei em vão sobre a Terra, não a encontrei em parte alguma.

O espírito: A felicidade, no entanto, existe neste mundo, porque Deus dispôs, em toda parte, as alternâncias da alegria e da dor, para o progresso e educação dos seres. Mas tu procuraste a felicidade onde ela não está, nos arrebatamentos efêmeros da paixão ardente, nos prazeres impetuosos e fugazes. A felicidade se oculta como todas as coisas sutis e delicadas. É em vão que se a procure nos prazeres terrestres que o sopro da morte arrebata. A felicidade está na aceitação alegre da lei do trabalho e do progresso. Na realização fiel da tarefa que a sorte nos impõe, de onde resulta a satisfação do dever cumprido na paz serena da consciência, único bem que podemos reencontrar no Além. A felicidade está nas alegrias puras da família e da amizade, está também nas alegrias que a Natureza e a arte oferecem, essas duas formas da beleza eterna e infinita. A grande desgraça da nossa época é que o homem não aprendeu a compreender, a sentir a ação providencial, a mensurar a extensão dos benefícios com que Deus a supriu. Ele se lamenta pelos males da vida, sem discernir que esses males são a herança do seu passado, a consequência dos seus procedimentos condenáveis anteriores que recaem sobre ele com todo o seu peso. Renascendo, muitas vezes o homem pede a dor como um meio supremo de depuração, de purificação, e, de volta à Terra, desde que a dor se apresente, ele a renega! A noção de uma vida única é que obscureceu tudo. Tornou insolúveis todos os problemas da existência. Daí a confusão dos pensamentos, a dúvida, o ceticismo e, para muitos, o materialismo. Quantas existências se passam, hoje em dia, estéreis, improdutivas, sem proveito para o ser, por não se ver claramente, não se compreender o objetivo da vida e a grande lei de evolução. Não se tem mais fé no futuro, certeza do amanhã e, como resultado, menos coragem na provação, menos honestidade nos atos, nenhuma fé em Deus, em sua obra magnífica. Dedica-te, portanto, a reagir contra essas causas de desordem moral, a destruí-las em ti mesmo e, assim, a purificar a tua alma e a te preparar um destino melhor.

O homem: Tua voz me despertou como de um longo sonho, ele abriu ao meu pensamento perspectivas infinitas. Depois da sombra, entrevejo a claridade no meio da minha noite, é um raio de luz vindo do céu. Que tua mão protetora me guie na beira dos abismos. Por que demoraste tanto tempo para me instruir, para me trazer em lugar da dúvida, do pessimismo, a confiança e a alegria de viver? Porém, já que o futuro é sem limites, desde agora eu quero orientar meu pensamento, minha vontade e meus atos para o objetivo grandioso que tu me mostraste! Já que a evolução é a regra soberana da vida universal, então, que essa lei augusta se cumpra e que o santo nome de Deus seja abençoado!” 



Semana 23

Reflexões sobre a desencarnação

Edson Ramos de Siqueira


            “O medo é um dos nossos companheiros mais presentes e inoportunos na viagem que fazemos pela vida. Ele chega de repente, sem avisar, instala-se e dá trabalho para ir embora.

            Ou você controla o seu medo ou ele controla você” (Agnaldo Cardoso).

            “O medo da “morte” é quase sempre aprendido dentro da cultura em que vivemos. As pessoas não gostam de falar sobre ela; é ainda um tabu” (Agnaldo Cardoso).

            “O medo da morte é uma herança ancestral, pelo fato de que o Velho Testamento fala em um Deus vingativo e punitivo, e isso causa uma visão distorcida do que acontece quando desencarnamos; como por exemplo, o recebimento de prêmios celestiais ou punições eternas e infernais, prometidos ou ameaçados pelas religiões tradicionais” (Joanna de Ângelis).

            “Então, o que nós espíritas vamos fazer com o medo da morte?

Estudar, em vez de evitar até mesmo a pensar nela” (AgnaldoCardoso).

            “Para nós, sob o aspecto filosófico do Espiritismo, a morte não significa a interrupção da vida. É a interrupção do fenômeno biológico, já que a vida de nós, espíritos, é uma jornada incessante, ininterrupta, seja no corpo físico ou fora dele” (Divaldo Pereira Franco).

            O Livro dos Espíritos, questão 154: “É dolorosa a separação da alma e do corpo?

            Não; o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o fim do seu exílio.

            Na morte natural, a que sobrevem pelo esgotamento dos órgãos, em consequência da idade, o homem deixa a vida sem perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de energia”.

            Q. 155: “Como se opera a separação da alma e do corpo?

            Rompidos os laços que a retinham, ela se desprende”.

            Q. 155ª: “A separação se dá instantaneamente por brusca transição?

            Não; a alma se desprende gradualmente”.

            Q. 156: “A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica?

            Na agonia, a alma, muitas vezes, já deixou o corpo; nada mais há que vida orgânica. O homem não tem mais consciência de si mesmo e, no entanto, ainda lhe resta um sopro de vida”.

            Q. 157: “No momento da morte, a alma tem, algumas vezes, uma aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o mundo onde vai entrar novamente?

            Muitas vezes a alma sente que se vão romper os laços que a prendem ao corpo; emprega então, todos os esforços para desfazê-los inteiramente.

            Já, em parte, desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito”.

            Q. 164: Todos os Espíritos experimentam, no mesmo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação que se segue à separação da alma e do corpo?

            Não; depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado se reconhece quase imediatamente, porque se libertou da matéria durante a vida do corpo, ao passo que o homem carnal, aquele cuja consciência não é pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria”.

            Q. 165: “O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração, mais ou menos longa, da perturbação?

            Influência muito grande, visto que o Espírito já compreendia de antemão a sua situação. Mas, a prática do bem e a confiança pura exercem maior influência.

            A duração da perturbação que se segue à morte é muito variável. Pode ser de algumas horas, como de vários meses e até de muitos anos.

            É menos longa naqueles que, desde a vida terrena, se identificaram com o seu estado futuro, pois esses compreendem imediatamente a posição em que se encontram.

            A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem: é calma e em tudo semelhante àquela que acompanha um despertar tranquilo.

Para aquele cuja consciência não está pura, a perturbação é cheia de ansiedade e de angústias, que aumentam à medida que ele reconhece a sua nova situação.

Nas pessoas desequilibradas e apegadas à matéria, o desligamento dos laços fluídicos que unem o espírito ao corpo também é imediato à morte física, porém, seu períspirito permanece carregado de energias densas por um tempo maior.

As pessoas cruéis experimentam muito sofrimento, podendo ficar ligadas ao seu corpo físico, vivenciando todo o processo de decomposição. Também passam por perturbação bastante acentuada.

Porém, esse sofrimento não é físico, é uma espécie de repercussão moral que transmite ao espírito o que está acontecendo com o corpo, pois a separação desse do períspirito não é completa”.

O mesmo acontece com o suicida:

O Livro dos Espíritos, trecho da questão 257: “…Um suicida nos disse: Não, não estou morto – e ajuntou – entretanto, sinto os vermes que me roem. Ora, seguramente, os vermes não roíam o períspirito, e muito menos o Espírito; roíam apenas o corpo….a visão do que se passava no corpo, ligado ainda ao seu períspirito, produzia nele uma ilusão, a qual tomava por uma realidade”.

“As consequências espirituais para a pessoa que praticou o suicídio são, normalmente, trágicas! Mas, isso não decorre de nenhuma condenação divina!

Quem chega a tirar a própria vida, na maioria das vezes, está muito desequilibrado emocionalmente, sem esperanças.

Dessa forma, sua mente em desequilíbrio a levará, naturalmente, a zonas escuras e, muitas vezes, a locais onde já se concentram outros suicidas, que se atraem sem querer, inconscientemente, por mera afinidade de pensamentos e emoções.

O suicida não é levado a esses lugares! Ele vai sozinho, sendo atraído como que por um imã, devido ao seu estado interior.

O suicídio é uma porta falsa de escape dos problemas. É, na verdade, um portal para dores maiores” (Luiz Roberto Mattos).

A amnésia reencarnatória.

Orientação de Lísias a André Luiz, na obra Nosso Lar, psicografada por Chico Xavier:

“Recordemos o antigo ensinamento que se refere a muitos os chamados e poucos os escolhidos na Terra.

…Com raras exceções, a massa humana prefere aceitar a outro gênero de convites. Gasta-se as possibilidades nos desvios do bem, agrava-se o capricho de cada um, elimina-se o corpo físico a golpes de irreflexão.

Resultado: milhares de criaturas retiram-se diariamente da esfera da carne em doloroso estado de incompreensão.

Multidões erram em todas as direções nos círculos imediatos à crosta planetária, constituídas de loucos, doentes e ignorantes.

Acreditaria, porventura, que a morte do corpo físico nos conduziria a planos de milagres?”

            Sobre a morte – Léon Denis

“A morte é uma simples mudança de estado, a destruição de uma forma frágil que já não proporciona à vida as condições necessárias ao seu funcionamento e à sua evolução.

Para além da campa, abre-se uma nova fase de existência. O Espírito, debaixo da sua forma fluídica, imponderável, prepara-se para novas reencarnações; acha no seu estado mental os frutos da existência que findou…

Muitas pessoas temem a morte por causa dos sofrimentos físicos que a acompanham.

Sofremos, é verdade, na doença que acaba pela morte, mas sofremos também nas doenças de que nos curamos. No instante da morte, dizem-nos os Espíritos, quase nunca há dor; morre-se como se adormece.

Esta opinião é confirmada por todos aqueles a quem a profissão e o dever chamam frequentes vezes para a cabeceira dos moribundos”.

Trecho de comunicação de Léon Denis, psicografada pela médium Renée, em Tours - França, no dia 8/7/1927, quase 3 meses após seu desencarne:

“Minha prezada senhora Renée, a impressão que tivestes, pessoalmente, entre 8h00 e 9h15, na noite de 12/4 é, naturalmente, em decorrência do êxtase, do desdobramento, da alegria, do deslumbramento e da luminosa vertigem que eu mesmo senti, trocando de mundo.

Da vida terrestre, com seu movimento orgânico, à vida do espaço, com sua sensação radiosa, há, forçosamente, na mudança das situações, um ponto morto que fica em suspensão, em maior ou menor tempo, conforme a evolução, estado da alma e a observação do indivíduo.

Após o momento em que pararam os órgãos que animavam meu pensamento humano, no minuto em que despertei para a luz do Além, tive uma espécie de sonolência, de sono hipnótico.

Sentia-me como que entorpecido por condensações de vapor, que formavam em torno de mim algo como um casulo fluídico.

Meus queridos e bons guias trabalhavam; depois, minha respiração deixou meu envoltório carnal e, como um débil fio, desligou-se sem choque.

Senti, então, todo o meu ser dilatado, vaporoso, atraído por mãos invisíveis, que não eram senão os pensamentos de meus guias.

Esses pensamentos se concretizavam e tocavam meu espírito sob a forma de emanações luminosas, refletidas pelo períspirito de meus entes queridos desencarnados.

 Eu flutuava em derredor deles como o pássaro que sai do ovo, mas que é frágil e dá seus primeiros passos em vossa Terra.

Havia deixado minha casa carnal, e ensaiava as primeiras evoluções no Mundo da Luz, domínio maravilhoso criado por Deus.

Mais do que nunca, meus amigos, sei agora que todo ser humano rompe sua carcaça física com maior ou menor dificuldade, de acordo com a sua evolução e conforme o grau de fé e de confiança que tenha na bondade e na justiça de Deus” (Revista Espírita, outubro de 1927).

Considerações de Humberto de Campos, pela psicografia de Chico Xavier, acerca da nossa conduta para um desencarne sem traumas:

            “A religião, até certo ponto, permanece ligada ao superficialismo do sacerdócio, sem tocar a profundeza da alma.

            Preliminarmente, admito deva referir-me aos nossos antigos maus hábitos. A cristalização deles, aqui, é uma praga tiranizante.

            Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua, gradativamente, a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento depois da grande transição…

            Os excitantes, largamente ingeridos, constituem outra perigosa obsessão. Tenho visto muitas almas, de origem aparentemente primorosa, dispostas a trocar o próprio “Céu” pelo uísque aristocrático ou pela cachaça brasileira.

            Evite os abusos do fumo. Causa pena a angústia dos desencarnados amantes da nicotina.

            Não se renda à tentação dos narcóticos;… suas vítimas demoram-se largo tempo na cela escura da inércia.

            E o sexo? Guarde muito cuidado na preservação do seu equilíbrio emotivo. Temos aqui muita gente boa carregando consigo o inferno rotulado de “amor”.

            Quanto às posses terrenas:

            Grandes homens, que admirávamos no mundo pela habilidade e poder com que concretizavam importantes negócios, aparecem juntos de nós, em muitas ocasiões, à maneira de crianças desesperadas por não mais conseguirem manobrar os talões de cheques.

            Ame seus familiares, sem apego.

            Se você possui o tesouro de uma fé religiosa, viva de acordo com os preceitos que abraça. É horrível a responsabilidade moral de quem já conhece o caminho, sem equilibrar-se dentro dele.

            Faça o bem que puder, sem a preocupação de satisfazer a todos.

            Em qualquer circunstância, conserve o seu nobre sorriso. Trabalhe sempre, trabalhe sem cessar.

            Ajude-se, através do leal cumprimento de seus deveres”.



Semana 22

Allan Kardec e a Educação

Edson Ramos de Siqueira

           

Só existe uma razão para que estejamos reencarnados nesse Planeta: continuarmos o longuíssimo processo de evolução espiritual, que se encerrará quando atingirmos a plenitude da perfeição moral e intelectual; condição inimaginavelmente distante.

Para que evoluamos é fundamental que aprendamos a amar (evolução moral) e que compreendamos todas as Leis Naturais que explicam a dinâmica holística do Universo (evolução intelectual).

À medida que, lenta e gradativamente, aprendemos e integramos todos os fatores que compõem o Universo, passaremos a nos conhecer também, já que somos um dos componentes da Casa do Pai; consequentemente, começamos a preencher o nosso vazio existencial. É o momento em que iniciamos a emersão das profundezas escuras e geladas do oceano das ilusões e passamos a enxergar a Luz, cuja intensidade aumenta, conforme subimos na direção da superfície.

A Humanidade vive em busca da felicidade, mas, por desconhecer a realidade do Universo e da Vida, sequer sabe o que realmente seja!

Na questão 967 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec perguntou ao Espíritos da Codificação a respeito da felicidade:  

“Em que consiste a felicidade dos bons espíritos?

Em conhecerem todas as coisas; em não sentirem ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a desgraça dos homens. O amor que os une lhes é fonte de suprema felicidade. Não experimentam as necessidades, nem os sofrimentos, nem as angústias da vida material. São felizes pelo bem que fazem. Ademais, a felicidade dos Espíritos é diretamente proporcional à elevação de cada um”....

Depreende-se pelo exposto, que não existem fórmulas mágicas para a transformação do Espírito e para a consequente descoberta da verdadeira felicidade. Apenas a Educação Integral poderá fazer com que atinjamos patamares mais elevados da escala evolutiva.

Esse é o objetivo traçado por Allan Kardec (Educador por excelência), ao ter organizado as obras básicas da Doutrina Espírita, às quais foram e continuarão a ser acrescidos novos conhecimentos, já que a Ciência e a Filosofia compõem, juntamente com os Princípios Morais Evangélicos de Jesus, o esteio que sustenta o Espiritismo.

Então, como poderíamos definir Educação? Conforme a Pedagoga Espírita Dora Incontri:

“Educação é toda influência exercida por um Espírito sobre o outro, no sentido de despertar um processo de evolução. Essa influência leva o educando a promover, autonomamente, o seu aprendizado moral e intelectual. Trata-se de um processo sem qualquer forma de coação, pois o educador apela para a vontade do educando e conquista-lhe a adesão voluntária para uma ação de aperfeiçoamento. Educar é, pois, elevar, estimular a busca da perfeição, despertar a consciência, facilitar o progresso integral do ser”.

Dora ressaltou a histórica conexão entre quatro grandes nomes que simbolizam o auge da sensibilidade e da profundidade dos conhecimentos da ciência essencial à humanidade, que é a Educação: Jan Amos Comenius (séc. XVII), Jean-Jacques Rousseau (séc. XVIII), Johann Heinrich Pestalozzi (séc. XVIII e XIX) e Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec , séc. XIX); todos enraizados na filosofia socrático – platônica.

E por nos referirmos aos Filósofos gregos, cabe analisarmos o significado de um profundo pensamento de Platão:

 “Podemos, facilmente, perdoar uma criança que tenha medo da escuridão; porém, a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”.

Relutar em aprender as consoladoras verdades da Vida é temer a Luz.

Com a missão de educar, na acepção da palavra, sob as óticas intelectual, moral e espiritual, reencarnou-se na cidade de Lyon, França, no dia 03/10/1804, Hippolyte Léon Denizard Rivail.

“Rivail, o célebre educador das crianças e adolescentes franceses; posteriormente, Allan Kardec, o magnânimo organizador do Espiritismo” (Dora Incontri).

Ele atrelou, às sábias informações oriundas dos Superiores Espirituais, sua profunda visão pedagógica, conferindo à nova Doutrina uma característica plenamente educacional.

Foi capaz de nos revelar a tão propalada verdade, bem como os subsídios necessários à real transformação da sociedade humana.

Da fé cega à fé raciocinada, do dogma à ciência livre, à liberdade de pensamento.

De família católica, foi aluno de Johann Heinrich Pestalozzi, entre 1814 e 1822, em Yverdon, Suiça.

Instituição de ensino de orientação protestante, aplicava o modelo liberal de educação, muito além do dogmatismo imperante naquela época.

Frases de Pestalozzi:

 “A intuição (percepção) é o fundamento da instrução”.

“A individualidade do aluno deve ser sagrada para o Educador”.

 “A época de ensinar não é a de julgar e criticar”.

“A educação não deve ser imposta; cabe ao Educador estimular o educando à auto construção”.

Kardec, aos 14 anos, já ensinava seus colegas menos adiantados. Com 20 anos, esboçou um plano para aperfeiçoamento do ensino público francês.

Oferecia cursos gratuitos de química, física, anatomia comparada, fisiologia, astronomia, matemática, francês, retórica. Além do francês, dominava o inglês, alemão, holandês, latim, grego e gaulês.

A educação em Yverdon forjou-lhe o caráter de livre pensador, pelo qual se distinguiu diante do mundo.

Em 1854 ele ouviu falar das mesas girantes pela primeira vez, através de seu amigo Fortier, não tendo dado muita atenção.

Em 1855 passou a frequentar reuniões das mesas girantes e da escrita mediúnica, e a se comunicar com o Plano Espiritual, com o seguinte perfil:

“Livre de ideias preconcebidas ou amarras intelectuais; pesquisador cético, positivista-racionalista e à luz do método científico-dedutivo-cartesiano” (Dora Incontri).

Em 30/4/1856, na residência do sr. Roustan, através da médium senhorita Japhet, recebeu a primeira revelação sobre a missão que deveria desempenhar.

Em 18/4/1857, Kardec publica “O Livro dos Espíritos”.

Em 1/1/1858 lançou a Revista Espírita, escrita por ele, mensalmente, durante 12 anos. Neste mesmo ano fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Publicou ainda:

“O que é o Espiritismo” - 1859.

“O Livro dos Médiuns”  -  1861.

“O Evangelho segundo o Espiritismo” – 1864.

“O Céu e o Inferno” – 1865.

“A Gênese” – 1868.

“Catálogo Racional para montar uma biblioteca Espírita”. Publicado um mês antes de sua desencarnação, como encarte da Revista Espírita.

Finalizaremos com o perfil de Allan Kardec, escrito por Anna Blackwell, tradutora de suas obras para o idioma inglês.

“Enérgico e perseverante, mas, de temperamento calmo, cauteloso.

Incrédulo, por natureza e por educação, pensador seguro e lógico e, eminentemente, prático no pensamento e na ação.

Era, igualmente, emancipado do misticismo e do entusiasmo.

Lento no falar, modesto nas maneiras.

Envolto por concreta dignidade, resultante da seriedade e da segurança mental, que eram traços distintos de seu caráter.

Não provocava nem evitava a discussão, mas, nunca fazia, voluntariamente, observações sobre o assunto a que havia devotado toda sua vida.

Recebia com delicadeza os inúmeros visitantes de todas as partes do mundo, que vinham conversar a respeito dos pontos de vista nos quais o reconheciam um expoente.

Respondia perguntas e objeções, explanando as dificuldades e dando informações a todos os investigadores sérios, com os quais falava com liberdade e animação.

Rosto, ocasionalmente, iluminado por um sorriso genial e agradável, conquanto tal fosse a sua habitual seriedade de conduta, que nunca se lhe ouvia uma gargalhada.

Era visitado por milhares de pessoas; dentre elas cientistas, artistas, filósofos, escritores, etc..

O imperador Napoleão III, cujo interesse pelo Espiritismo não era mistério para ninguém, procurou-o varias vezes, tendo recebido longas explicações a respeito da nova Doutrina”.

“É pela Educação, mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade” (Allan Kardec).

 

Semana 21

A Lucidez de Allan Kardec

Edson Ramos de Siqueira  

 

Escrevo esse artigo em 18/4/2020, dia em que o Espiritismo completa 163 anos de existência. Nessa data, em 1857, Allan Kardec lançou, na Livraria Dentu, então situada na Galérie d’Orléans, no Palais Royal em Paris, a primeira edição de “O Livro dos Espíritos”. Essa obra, que representa o marco inicial do Espiritismo, compõe-se de 501 perguntas e respostas; essas concedidas pela Equipe Espiritual da Codificação. Em 18/3/1860, Kardec lançou a segunda e definitiva edição, com 1019 perguntas e respostas.

O trabalho de Kardec foi árduo e criterioso. Tendo partido de 50 cadernos com comunicações diversas, sistematizou-as e preparou as perguntas que posteriormente encaminhou aos Espíritos da Codificação. Cada comunicação era analisada cuidadosamente.

Uma questão essencial que percebeu logo no início de seu magnífico trabalho, ele mesmo descreveu no livro “O que é o Espiritismo”:

“Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, sendo a alma dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber era limitado ao grau do seu adiantamento e que sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade, reconhecida desde o começo, evitou-me o grave erro de crer na sua infalibilidade e preservou-me de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só ou de alguns”.

Outro ponto importantíssimo do critério adotado por Allan Kardec é que, considerando-se que o Espiritismo também é Ciência, utilizou o método experimental. Ele assim escreveu sobre essa questão, no mesmo livro supra citado:

"Nunca formulei teorias preconcebidas; observava atentamente, comparava, deduzia as consequências; dos efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão".

 

            Impressiona, a quem quer que seja, a maneira de encarar a realidade, a objetividade, e, acima de tudo, a incansável, imparcial e intocável busca das verdades que permeiam o Universo, levadas a efeito por Allan Kardec em sua obra magistral.

Apenas as verdades consolam!!! E não tem como chegar a elas se não forem juntados, num só bloco, os Princípios Morais (por ser uma Doutrina Cristã, o Espiritismo tem por referência o Evangelho de Jesus), a Filosofia e a Ciência. Desconsiderar um destes três pilares significa desconfigurar totalmente o Espiritismo.

Em sua obra, “A Gênese”, publicada em 1868, Kardec nos deixa mais uma prova de seu elevado grau de evolução, de sua impressionante e rara lucidez, ao ter afirmado:

“O Espiritismo, marchando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará”.

Esse relato comprova o viés científico do Espiritismo. A Ciência é dinâmica; por isso desenvolve-se ininterruptamente. Essa é a proposta de Allan Kardec para o Espiritismo, comprovada pela citação acima.

Conforme Richard Feynman, físico e filósofo norte americano, Prêmio Nobel de Física em 1965, “a Ciência é a cultura da dúvida”.

O Prof. Marcos Eberlin, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirmou: “Jamais teremos certeza consensual em Ciência! É evidente que o acúmulo de muitos dados ao longo de vários anos de pesquisas pode certificar algumas hipóteses e derrubar outras, provisoriamente. Mas, a dúvida sempre persistirá. E é preciso que persista, a fim de que a própria Ciência avance e se aperfeiçoe”

Mais uma evidência da imensurável lucidez do organizador da Doutrina Espírita, encontra-se em sua última obra (“Catálogo Racional – Obras para se fundar uma Biblioteca Espírita”), publicada como encarte da Revista Espírita, em março de 1869, mês e ano em que desencarnou.

Observemos o índice desse livro, em que Kardec destacou os itens que deveriam constar de uma Biblioteca Espírita:

I – Obras Fundamentais da Doutrina Espírita (por Allan Kardec)...........21

Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos.................................23

II – Obras Diversas sobre o Espiritismo ou Complementares da Doutrina.............................................................................................................26

Poesia.....................................................................................................35

Música.....................................................................................................36

Desenhos................................................................................................37

III – Obras feitas fora do Espiritismo.......................................................39

Filosofia e História..................................................................................39

Romances..............................................................................................66

Teatro.....................................................................................................76

Ciências.................................................................................................78

Magnetismo...........................................................................................82

Obras Contra o Espiritismo................................................................85

Esse último item é uma prova incontestável da grandiosidade desse Espírito que teve por missão organizar a Doutrina Espírita. Quem teria o discernimento e a coragem de propor que lêssemos uma obra contra o Espiritismo?    

No início desse último item (pág. 85), Kardec escreveu uma nota:

“Proibir um livro é sinal de que se o teme. O Espiritismo, longe de temer a divulgação dos escritos publicados contra si e proibir-lhes a leitura a seus adeptos, chama a atenção destes e do público para tais obras, a fim de que possam julgar por comparação”.

Que Espíritas e não Espíritas, dispostos a estudarem o Espiritismo, comecem por conhecer a profunda forma de pensar de Allan Kardec. A responsabilidade de conduzir e dar continuidade ao desenvolvimento da Doutrina, na atualidade, é de todos os seus adeptos encarnados. Precisamos tomar muito cuidado para não desviarmos dos princípios adotados por ele, sob o risco de descaracterizarmos essa magnífica obra.

Termino esse artigo, voltando ao assunto abordado na semana 20, que nos remete a refletir sobre a pandemia ora enfrentada pela Humanidade.

Para tanto, apenas me refiro a um trecho da comunicação de Santo Agostinho, constante de “O Evangelho segundo o Espiritismo”.     

“… Nesses mundos, os Espíritos têm de lutar ao mesmo tempo com a perversidade dos homens e contra a inclemência da Natureza, duplo e penoso trabalho, que desenvolve simultaneamente as qualidades do coração e as da inteligência”.



Semana 20

 

                                                                                 O Espiritismo e a cólera                                                                                  

                                                                            Edson Ramos de Siqueira

 

            A Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos (Revue Spirite – Journal d’ Études Psychologiques, título original francês), foi fundada por Allan Kardec, em Paris, no ano de 1858, e dirigida por ele até março de 1869, quando desencarnou. 

            Trata-se de uma preciosíssima coletânea de matérias, muito adequadas àqueles que desejam se aprofundar no estudo da Doutrina Espírita.

            Em tempos de mais uma pandemia, achei oportuno transcrever um trecho do artigo intitulado: “O Espiritismo e a Cólera”, publicado por Kardec na Revista Espírita de novembro de 1865.

            Sim; mais uma pandemia, dentre tantas outras pelas quais a Humanidade já passou ao longo de sua História, consequência das Leis Biológicas que regem essa e outras Moradas similares da Casa do Pai, com maior ou menor influência exercida por nós, enquanto Espíritos aqui reencarnados.

            Iniciarei por uma parte da carta recebida por Kardec, de um advogado de Constantinopla, na Turquia (hoje Istambul, desde 1930):

            “... Os jornais vos informaram do rigor com que o terrível flagelo acaba de assolar nossa cidade e seus arredores, posto atenuasse seus efeitos desastrosos. Algumas pessoas, que se dizem bem informadas, elevam o número de coléricos mortos a setenta mil, e outras a cerca de cem mil. A verdade é que fomos rudemente provados, e podeis imaginar as dores e o luto geral de nossas populações. É, principalmente, nestes tristes momentos dessa horrenda epidemia que a fé e a crença espíritas dão coragem; acabamos de dar a mais verídica das provas. Quem sabe se não devemos a essa calma da alma, a essa persuasão da imortalidade, a essa certeza das existências sucessivas, em que os seres são recompensados segundo seu mérito e seu grau de adiantamento; quem sabe, digo eu, se não é por essas crenças, bases de nossa bela doutrina, que nós todos, espíritas de Constantinopla que, como sabeis, somos bastante numerosos, devemos ter sido preservados do flagelo que se espalhou e ainda se espalha à nossa volta? Digo isso tanto mais quanto foi constatado, aqui e alhures, que o medo é o prenuncio mais perigoso da cólera, como a ignorância infelizmente se torna uma fonte de contágio...”    

            Assim respondeu Allan Kardec:

            Certamente seria absurdo acreditar que a fé espírita fosse um diploma de garantia contra a cólera. Mas, como está cientificamente reconhecido, o medo, ao mesmo tempo enfraquecendo o moral e o físico, torna as pessoas mais impressionáveis e mais susceptíveis de serem acometidas pelas doenças infecciosas; evidente, assim, que toda causa tendente a fortalecer o moral é um preservativo. Isto hoje é tão bem compreendido que se evita, tanto quanto possível, quer nos relatórios, quer nas disposições materiais, aquilo que possa ferir a imaginação por seu aspecto lúgubre (sinistro).

            Sem dúvida, os espíritas podem morrer de cólera, como todo o mundo, porque seu corpo não é mais imortal que o dos outros e porque, quando chegar a hora, é preciso partir, seja por esta ou por outra causa. A cólera é uma das causas que não tem como particularidade senão levar maior número de pessoas ao mesmo tempo, o que produz mais sensação. Parte-se em massa, em vez de individualmente – eis toda a diferença. Mas, a certeza que tem do futuro e, sobretudo, o conhecimento desse futuro, que corresponde a todas as aspirações e satisfaz a razão, fazem que absolutamente não lamentem a Terra, onde se consideram em exílio passageiro. Enquanto em presença da morte o incrédulo só vê o nada, ou pergunta o que vai ser de si, o espírita sabe que, se morrer, apenas será despojado de um invólucro material sujeito aos sofrimentos e às vicissitudes da vida; mas será sempre ele, com um corpo etéreo, inacessível à dor; que gozará de percepções novas e de maiores faculdades; que vai encontrar aqueles a quem amou e que o esperam no limiar da verdadeira vida, da vida imperecível. Quanto aos bens materiais, sabe que deles não mais necessitará, e que os prazeres que proporcionam serão substituídos por outros mais puros e mais invejáveis, que não deixam em seu rasto nem amarguras nem pesares. Assim, abandona-os sem dificuldade e com alegria, lamentando os que, ficando na Terra, ainda precisarão deles. É como aquele que, tornando-se rico, abandona seus trajes velhos aos infelizes. Por isso, ao deixar os amigos, lhes diz: não me lastimeis; não choreis minha morte; antes me felicitai, por estar livre das preocupações da vida e por entrar num mundo radioso, de onde vos esperarei.

            Quem quer que tenha lido e meditado nossa obra “O Céu e o Inferno segundo o Espiritismo” e, sobretudo, o capítulo sobre o temor da morte, compreenderá a força moral que os espíritas haurem em sua crença, diante do flagelo que dizima as populações.

            Segue-se daí que devam negligenciar as precauções necessárias em casos semelhantes e baixar a cabeça ante o perigo? De modo algum: tomarão todas as cautelas exigidas pela prudência e uma higiene racional, porque não são fatalistas e porque, se não temem a morte, sabem que não devem procurá-la. Ora, não levar em conta as medidas sanitárias que os podem preservar seria verdadeiro suicídio, cujas consequências conhecem muito bem para a elas se exporem. Consideram como um dever velar pela saúde do corpo, porque a saúde é necessária para a realização dos deveres sociais. Se buscam prolongar a vida corporal, não é por apego à Terra, mas para ter mais tempo para progredir, melhorar-se, depurar-se, despojar-se do velho homem e adquirir mais soma de méritos para a vida espiritual. Mas, se a despeito de todos os cuidados, devem sucumbir, tomam o seu partido sem queixa, sabendo que todo progresso traz os seus frutos, que nada do que se adquire em moralidade e em inteligência fica perdido”....

            A leitura desse pequeno trecho, do qual constam uma carta enviada a Kardec por espíritas turcos, seguida pelos comentários do organizador da Doutrina Espírita, nos leva a concluir que o Espiritismo encara com naturalidade as ações empreendidas pelas Leis Divinas que regem o Universo. A ação de qualquer agente patogênico, como o vírus que ora enfrentamos, segue as Leis Biológicas; nada há de extraordinário nisso. Se Deus criou o Universo, todas as Leis Naturais que o permeiam são Divinas.

Portanto, nos cabe aceitar, ao mesmo tempo que empreendemos todas as ações possíveis para a mitigação do mal. A responsabilidade pelos nossos destinos é exclusivamente nossa!!!

Somos Espíritos em evolução, e só se evolui através de um processo educacional holístico (integral). Este processo encerra todas as ferramentas pedagógicas, teóricas e práticas, disponíveis na Escola do Pai. Ao enfrentarmos qualquer tipo de dificuldade exercitamos a inteligência e os princípios morais. É muito simples! Por que complicamos tanto? Por que continuamos a criar tantas fantasias? Só a verdade consola!!! Procuremos estudar com mais afinco o conjunto indissociável: Ciência, Filosofia e Preceitos Morais Evangélicos, conhecido como Espiritismo; independentemente da religião que sigamos, ou mesmo que não a tenhamos.

Enquanto não compreendermos a realidade da Vida Eterna do Espírito que somos, sofreremos desnecessariamente. Mas, não nos iludamos; é muito difícil e demorada essa conscientização. Portanto, não tardemos em começar.

Essa é a nossa maneira de entender a Vida. Você tem o livre-arbítrio para tirar suas próprias conclusões. Afinal, o Espiritismo é a Doutrina do livre pensamento.


07/02/2019


Reflexões sobre a Vida do Espírito

Autor: Edson Ramos de Siqueira

Semanalmente publicaremos um trecho desse artigo, visando contribuir com o nosso processo reflexivo espiritual.



Semana 1

Prezados amigos: não esperemos que 2019 seja melhor que 2018; mas, trabalhemos incansavelmente para sermos melhores a cada dia!
Semanalmente, em princípio, publicarei um pequeno texto para embasar reflexões a respeito de nossa existência. 
Uma das características principais dos seres humanos é vivermos mergulhados no Oceano das Ilusões, em cujas águas, escuras e gélidas, o TER sobrepõe-se ao SER. A priorização das questões materiais às espirituais, alimenta os sentimentos egóicos, certamente capitaneados pelo egoísmo e pela vaidade. 
Quando Jesus disse: "vós sois Deuses", Ele nos ensinou que cada Espírito é uma Centelha Divina, cujo destino é a perfeição. Então, por que temos tanta dificuldade em debelar o mal de nossos corações? 
Por desconhecermos as verdades da Vida Espiritual, e a nós próprios. 
"Conhece-te a ti mesmo" (aforismo grego atribuído a Tales de Mileto). 
Como exercício para a mente, passarei quatro questões (aparentemente simples), sobre as quais deveremos refletir ao longo do tempo: 
Quem somos nós?
De onde viemos? 
O que fazemos aqui, na crosta terrena? 
Para onde iremos? 
As respostas a essas perguntas facilitarão: a substituição do egoísmo pelo altruísmo, da vaidade pela humildade, o perdão, a eliminação das mágoas, o respeito ao próximo, a caridade, a mitigação dos conflitos de todas as naturezas, o preenchimento do vazio existencial.....
Ótima semana a todos!


Semana 2

As duas últimas palavras do texto número 1 foram: “…..vazio existencial”. Ressalto que, se não conseguirmos respostas às quatro questões apresentadas na semana passada, será praticamente impossível o preenchimento do vazio; causa precípua de todos os males sentimentais e emocionais.

Como frear o crescimento impressionante da incidência de depressão, por exemplo, que acomete 400 milhões de seres humanos; bem como de outros transtornos da mente? A OMS prevê, que até 2020, será a enfermidade mais incapacitante no mundo.

Precisamos nos localizar no Universo infinito, encontrar nossa identidade eterna e, espiritualmente lúcidos, iniciar um longo processo de autoanálise e, de posse do diagnóstico, começar a árdua jornada da reforma íntima.

Quando encontrarmos as respostas às quatro perguntas iniciais, tudo será mais fácil. A reforma interior poderá ser feita em paz, objetivamente; teremos despertado a consciência. Quando isso acontece, é possível ser feliz, mesmo que ainda imperfeitos, pois conheceremos a dinâmica do processo evolutivo e nos esforçaremos para superarmos, gradativamente, o mal de nossos corações.

Todas as informações que necessitamos ao processo de transformação estão em nosso interior. Basta que sejamos estimulados a buscar as verdades.

Para encerrar essa 2ª publicação, algumas frases de pensadores conhecidos, que nos auxiliarão a reflexão.

“Nada pode ser ensinado a um homem; você pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo” (Galileu Galilei).

“A mente que se abre a uma nova ideia, jamais voltará ao seu tamanho original” (Albert Einstein).

“A causa real da maioria de nossos grandes problemas está entre a ignorância e a negligência” (Goethe).

“Nós, geralmente, descobrimos o que fazer, percebendo aquilo que não devemos fazer. E, provavelmente, aquele que nunca cometeu um erro, nunca fez uma descoberta” (Samuel Smiles).



Semana 3

O filósofo grego Platão elaborou uma metáfora bastante didática, denominada “O Mito da Caverna”, que ajuda bastante a refletir sobre o nosso atual estágio de evolução espiritual.

A seguir, um simples resumo dela: “Seres humanos que, acorrentados no interior de uma caverna desde sua infância, apenas podem contemplar as sombras que são projetadas na parede, tendo como realidade somente aquela visão.

Entretanto, um deles consegue se libertar, seguindo o caminho que leva para fora da caverna.

Contempla, então, a realidade, as ideias puras.

Retorna para o interior da caverna, a fim de mostrar aos outros que as sombras não são tudo o que existe.

No entanto, os demais, acostumados às sombras, e acreditando que elas são toda a realidade, não dão ouvidos a ele.

Mais do que isso: acabam por maltratá-lo”.

Vamos transpor, como exemplo, essa metáfora à realidade?

Jesus adentrou a escuridão de nossos corações e mentes e nos chamou à luz das verdades da Vida Espiritual. Imaginemos Ele nos chamando: -Venham, vos ensinarei o Segredo Universal da Felicidade: o Amor. E não Lhe demos ouvidos; mais do que isso, O condenamos à cruz!

A filósofa Simone Nardi, assim comentou o “mito da caverna”:

“Essa metáfora demonstra a condição humana perante o mundo, em termos de conhecimento, ética, política e desejo de vencer a nossa própria ignorância; a fuga do senso comum para uma visão mais organizada, lógica e verdadeira do Universo que nos cerca…

Não vemos nada além daquilo que nos obrigaram a ver, não repetimos nada além daquilo que nos ensinaram a repetir, não mudamos nada em nós porque não desejamos ser como o prisioneiro que fugiu da caverna e que foi desacreditado.

Queremos ser iguais, acreditar no que todos acreditam, viver como todos vivem.

É muito difícil nos libertarmos da corrente que nos mantem no interior da caverna, representada pelo comodismo e pela alienação, que prendem a mente e a vontade de conhecer a realidade”.

Pois bem, meus queridos amigos. Tentemos dar o primeiro passo para sair da caverna: trabalhemos, persistentemente, para despertar a consciência e aumentar a velocidade da evolução espiritual!

Reflitamos, com muita serenidade.


Semana 4

Libertar-se da corrente que nos mantem no interior da caverna significa ter coragem para nadar contra a correnteza da mesmice, da inércia espiritual, da alienação normótica.

Normose, a patologia da normalidade, ou seja, aquilo que a grande maioria da população entende como normal, mas que é tremendamente pernicioso sob a ótica da evolução espiritual. Invistamos persistentemente na cura dessa patologia comportamental e alcemos o voo ao espaço da liberdade, da paz interior, da felicidade real, da Verdade Maior.

“A verdade e a mentira são construções que decorrem da vida no rebanho. O homem do rebanho chama de verdade aquilo que o conserva no rebanho, e de mentira aquilo que o exclui” (Nietzsche). Esse pensamento do conhecido filósofo alemão é bastante elucidativo, levando a crer que a imaturidade espiritual da Humanidade a distancia dos valores morais, como dignidade, honra, amor próprio.

“Após tantos séculos de escuridão, a grande maioria das pessoas ainda sente medo de mudar.

Elas sentem medo do novo e optam por ignorar a palavra daquele que presenciou a realidade, preferindo enxergar somente o que existe nas sombras de suas paredes mentais” (Simone Nardi).

Encerro essa reflexão com um maravilhoso pensamento do Educador, Teólogo e Escritor Rubem Alves, que certamente nos remeterá a um profundo exercício mental:

“Somos assim.

Sonhamos o voo, mas tememos as alturas.

Para voar, é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece.

O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas.

Mas, é isto que tememos: o não ter certezas.

Por isso, trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram”.

Ótima atividade de autoanálise e preparação para a aceleração da reforma íntima.


Semana 5

Há muitíssimo tempo a Humanidade tem acesso aos princípios morais que norteiam nossas transformações, ensinados, ao longo da História, por uma plêiade de Mestres Superiores.

Está na hora de nos conscientizarmos e assumirmos o leme de nossa vida espiritual. Superemos o egoísmo, o egocentrismo, a vaidade e busquemos ser mais altruístas, verdadeiramente caridosos, em todas as nuances contidas na palavra caridade. O mal não existe; o que existe é a ausência do bem, já dizia Albert Einstein. É inconcebível pensarmos  que Deus o tenha criado. Portanto, se o mal é a ausência do bem, preenchamos nosso abismo existencial com amor, e, desta forma, o mal será gradativamente extinto.

Precisamos curar a normose e sair da mesmice. A prioridade de nossa existência é EVOLUIR ESPIRITUALMENTE. Transcrevo a seguir, um texto do escritor Fernando Sepe, que descreveu com profunda realidade a questão da evolução do Espírito.

“O desenvolvimento da linha espiritual é acompanhado por maior desenvolvimento da compaixão e da noção de moralidade.

A espiritualidade é de fundamental importância e seu desenvolvimento pode promover impactos profundos no ser.

É preciso descongelar a linha da inteligência espiritual da Humanidade e dar os primeiros passos em direção a uma espiritualidade que está além da religião e da religiosidade, que pode e deve ser desenvolvida explorando todos os recursos que temos hoje, integrada com outras áreas do saber e atuar do homem, como a arte, a ciência e a moralidade.

Uma espiritualidade que não renegue o material, mas que o funda com o espiritual.

Uma espiritualidade não religiosa, nem anti-religiosa, mas trans-religiosa, aproveitando o que de melhor existe em cada tradição, respeitando os limites e diferenças de cada uma.

Uma espiritualidade de aprofundamento do Espírito e ampliação dos horizontes.

Uma espiritualidade ainda não construída, que não será dada por iniciação ou mestre, nem mesmo por uma escritura sagrada, mas sim pela busca interna do ser humano em se transformar e, consequentemente, transformar o mundo”.



Semana 6

Bom dia queridos irmãos: na semana 4 a palavra normose foi citada em nosso texto. Por ser um termo relativamente novo, porém, muito importante e elucidativo à compreensão do comportamento humano, hoje faremos algumas considerações sobre ele.

O conceito de normose foi desenvolvido pelos estudiosos: Pierre Weil – doutor em psicologia pela Universidade de Paris, Roberto Crema – psicólogo e antropólogo do Colégio Internacional de Terapeutas e Jean-Yves Leloup – doutor em psicologia, filosofia e teologia.

“Normose é o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir, aprovados por um consenso ou pela maioria das pessoas de uma determinada sociedade, que levam a sofrimentos, doenças e mortes” (Pierre Weil).

“Tudo indica, esta é a nossa hipótese, que o conceito de normose, com seu aprofundamento e desenvolvimento, provoca um importante questionamento a respeito do que se considera normalidade.

A tomada de consciência desta realidade poderá facilitar uma profunda mudança na visão e consideração de certas opiniões, hábitos e atitudes comportamentais, considerados normais e naturais pelas mentes mais desatentas e adormecidas” (Pierre Weil).

Tendo estudado as doutrinas orientais, Weil se aprofundou no conceito de maia (ilusão em sânscrito), tendo constatado que a maneira de enxergar a vida e a matéria que nos envolve é uma fantasia, que ele denominou de fantasia da separatividade.

“Quando criamos a Universidade Holística, ao fazer o estudo da gênese da destruição da vida no planeta, descobrimos que a sua raiz está em que consideramos a ilusão como normal. É um conceito provido de consenso social, que pode levar ao suicídio da humanidade. A isso se acrescentou, então, a noção de consenso: uma crença partilhada por uma maioria.

Então, surgiu a ideia de que a normalidade pode ser patológica e patogênica.

O que é normal, afinal? A criação do conceito de normose nos força a buscar definir o que não o é.

Pouco a pouco me dei conta, entretanto, que esse é um conceito fundamental em psicologia, sociologia, antropologia, educação e nas demais disciplinas e áreas de atuação humanas.

Mais ainda: evidencia um processo psicossociológico que ameaça a humanidade e as outras espécies vivas na Terra. Uma verdadeira fonte de sofrimentos e tragédias.

A normose tem caráter inconsciente, e utilizamos o termo “espírito de rebanho”; ou seja, grande parte da população, por comodismo ou preguiça, segue o exemplo da maioria. Quem pertence à minoria sente-se vulnerável, exposto à crítica. Em vista disto, adere-se a uma ideologia, religião, partido político ou a qualquer hábito, porque está na moda. A normose é uma forma de alienação” (Pierre Weil).

Aí está nosso grande desafio evolutivo: libertarmo-nos da alienação, angariarmos coragem para seguirmos a própria consciência, nos aprofundarmos nos conhecimentos relativos à moral e à ética, bem como à compreensão das leis que regem a natureza espiritual no Universo.

Reflitamos, num ambiente de paz interior e serenidade. Busquemos sempre a verdade consoladora. Estejamos prontos à mudança de paradigmas e iniciemos uma faxina na mente, eliminando preconceitos, conceitos ultrapassados e todo o lixo decorrente do processo de lavagem cerebral a que sempre fomos submetidos. Para evoluir espiritualmente, é preciso muita coragem! Fé na missão!

 



Semana 7

Na semana passada (6) abordamos, resumidamente, o conceito de normose, termo fundamental para que compreendamos o porquê da dificuldade de sedimentarem-se os valores morais e espirituais no âmago da civilização humana. Tendemos sempre seguir a “onda”, ou seja, a maioria, não importa para onde esteja nos levando. Repito: a cura da normose exige muita coragem?

Analisemos mais alguns aspectos dessa “enfermidade espiritual”.

Em sua obra: “Normose, a Patologia da Normalidade”, Pierre Weil descreveu um exemplo. “Nas religiões o normótico é, muitas vezes, um excelente praticante de rituais e leis, mas permanece cego e não sabe o que faz...Tomar consciência da normose e de suas causas constitui a verdadeira terapia para a crise contemporânea. Trata-se do encontro com a liberdade. Quando aprendemos a escutar a voz interior, da verdadeira sabedoria, tornamo-nos livres”.

“Da mesma forma que a neurose e a psicose, a normose representa sofrimento, nos impedindo de sermos o que realmente somos. Um dos sintomas da normose é quando o consenso e a conformidade impedem a orientação do desejo no interior de nós mesmos. É a estagnação do desejo, aquilo que impede o fluxo evolutivo. Quando somos chamados a despertar do nosso sono, existe alguma coisa em nosso interior que resiste. Esta força é o que chamamos normose” (Jean-Yves Leloup).

“A normose surge quando o sistema se encontra dominantemente desequilibrado e mórbido. Então, ser normal passa a ser ajustar-se à patologia reinante, mantendo, assim, o status quo. Neste contexto, a pessoa realmente saudável é a dotada da capacidade de um desajustamento justo, de uma indignação lúcida, de um desespero sóbrio” (Roberto Crema).

“Cada vez mais intenso se observa o esforço do mundo espiritual para o despertamento dos encarnados, enquanto boa parte da humanidade prefere a hipnose alienante” (Lucius/ André Luiz Ruiz).

Sabemos que a Humanidade está em importante fase de transição espiritual.

Qual é a nossa escolha? Galgarmos os degraus da escada evolutiva, ou permanecermos estagnados, normóticos, envoltos pelo manto das ilusões?

Adquirirmos a lucidez espiritual, ou permanecermos sujeitos à lavagem cerebral alienante?

Temos total liberdade de escolha; afinal, o livre-arbítrio é uma Lei Divina e Leis Divinas são indiscutíveis, imutáveis e não sujeitas às exceções!

Paz, luz e serenidade a todos os queridos amigos!


Semana 8

A morosidade de nossa evolução espiritual, decorrente da dificuldade que temos em eliminar as imperfeições morais, é uma realidade.

Para que alteremos esse quadro maléfico, precisamos nos aprofundar nos conhecimentos espirituais, usufruindo de toda a instrumentação pedagógica disponibilizada pela Espiritualidade Superior, desde o princípio da história da Humanidade. Ou seja, sempre tivemos, no seio da civilização humana, Mestres encarregados de, gradativamente, nos ensinar a amar; essência do crescimento espiritual.

Na introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, publicado em 1863, em Paris, Allan Kardec trata, no item IV, do papel dos filósofos gregos na edificação do Cristianismo. Transcreverei um trecho bastante elucidativo, que nos leva a pensar: por que demoramos tanto para despertar?

“….As grandes ideias não aparecem nunca de súbito. As que tem a verdade por base contam sempre com precursores, que lhes preparam parcialmente o caminho. Depois, quando o tempo é chegado, Deus envia um homem com a missão de resumir, coordenar e completar os elementos esparsos, com ele formando um corpo de doutrina. Dessa maneira, não tendo surgido bruscamente, a doutrina encontra, ao aparecer, espíritos inteiramente preparados para a aceitar. Assim aconteceu com as ideias cristãs, que foram pressentidas muitos séculos antes de Jesus e dos Essênios, e das quais foram Sócrates e Platão os principais precursores.

Sócrates, como o Cristo, nada escreveu, ou pelo menos nada deixou escrito. Como ele, morreu a morte dos criminosos, vítima do fanatismo, por haver atacado as crenças tradicionais e colocado a verdadeira virtude acima da hipocrisia e da ilusão dos formalismos, ou seja: por haver combatido os preconceitos religiosos. Assim como Jesus foi acusado pelos Fariseus de corromper o povo com os seus ensinos, ele também foi acusado pelos Fariseus do seu tempo…., de corromper a juventude, ao proclamar o dogma da unicidade de Deus, da imortalidade da alma e da existência da vida futura. Da mesma maneira porque hoje não conhecemos a doutrina de Jesus senão pelos escritos dos seus discípulos, também não conhecemos a de Sócrates, senão pelos escritos de seu discípulo Platão….”.


Semana 9

Conforme prometido na semana passada, transcreverei o texto do filósofo grego Aristóteles (discípulo de  Platão), intitulado “Revolução da Alma”, escrito no ano 360 antes de Cristo. Observem como as questões por ele abordadas são atuais. Por que? Pensemos!

Vamos ao texto:

“Ninguém é dono de sua felicidade, por isso: não entregue sua alegria, sua paz e sua vida nas mãos de ninguém, absolutamente ninguém!

Somos livres, não pertencemos a ninguém e não podemos querer ser donos dos desejos, das vontades ou dos sonhos de quem quer que seja.

A razão da sua vida é você mesmo.

A sua paz interior é a sua meta de vida.

Quando sentir um vazio na alma, quando acreditar que ainda está faltando algo, mesmo tendo tudo, remeta seu pensamento para os seus desejos mais íntimos e busque a divindade que existe em você.

Pare de colocar sua felicidade cada dia mais distante de você. Não coloque objetivos longe demais de suas mãos, abrace os que estão ao seu alcance hoje.

Se anda desesperado por problemas financeiros, amorosos ou de relacionamentos familiares, busque em seu interior a resposta para acalmar-se.

Você é reflexo do que pensa diariamente.

Sorrir significa aprovar, aceitar, felicitar. Então, abra um sorriso para aprovar o mundo que quer oferecer a você o melhor.

Com um sorriso no rosto as pessoas terão as melhores impressões de você, e você estará afirmando para você mesmo, que está “pronto” para ser feliz.

Trabalhe, trabalhe muito a seu favor. Pare de esperar a felicidade sem esforços. Pare de exigir das pessoas aquilo que nem você conquistou ainda.

Critique menos, trabalhe mais.

E, não se esqueça nunca de agradecer.

Agradeça tudo que está em sua vida nesse momento, inclusive a dor. Nossa compreensão do Universo ainda é muito pequena para julgar o que quer que seja na nossa vida.

A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las.

Se você anda repetindo muito: “eu preciso tanto de você”, ou, “você é a razão da minha vida” – cuide-se.

Egoísmo não é amor a si mesmo, mas sim, uma desvairada paixão por nós próprios.

O homem sábio não busca o prazer, mas a libertação das preocupações e sofrimentos.

Ser feliz é ser auto suficiente... Seja senhor de sua vontade e escravo da sua consciência”.

Leiamos e releiamos cada frase, com muita calma e atenção. Certamente, veremos que contêm subsídios fundamentais para nossa reforma íntima.

Abraço fraterno a todos! Ótima semana!


Semana 10

Prezados amigos: da reflexão anterior quero destacar uma frase de Aristóteles: “A razão da sua vida é você mesmo”. É essencial que assumamos isso, ou estaremos perdendo preciosos momentos dessa existência. Quando despertamos a consciência para essa realidade, importantes questões colocam-se à frente: aceitar os desafios, obstáculos, problemas e dores; o que não é fácil, mas, necessário. Como base ao nosso estudo, transcrevo um texto de Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, cujo título é: “Aceitação”

“Aceitação “construtiva” será sempre, talvez mais da metade dos ingredientes de solução a qualquer dos problemas que, por ventura, te aflijam...

E dizemos “construtiva” porque não se trata de calma inoperante, mas sim de paciência, capaz de improvisar o bem e criar condições para que ele se faça cada vez mais amplo para quantos nos partilham a vida.

Reflitas nisso e não recuses as dificuldades e provas que não possas afastar ou remediar.

Antes de recolher-nos ao berço terrestre, na Vida Maior, escolhemos ou somos induzidos a escolher o tipo de experiências das quais temos necessidade para nos melhorarmos ou nos promovermos a planos mais elevados.

Diante disso, busca os recursos precisos à harmonização de tudo o que te interessa à paz e ao bom ânimo para o desempenho das tarefas que a vida te atribui, mas não te proponhas a destruir os meios de que careces para que sintas mais eficiente na construção geral.

Se trazes algum órgão doente, procura recursos para tratá-lo convenientemente, como se torna indispensável, mas, se a moléstia é irreversível, admite-a com paciência, nos domínios do próprio corpo, consciente de que ela terá função específica na preservação de tua paz.

Tenta recuperar determinados bens que perdeste, em virtude da invigilância de amigos nos quais confiaste; no entanto, se teus devedores estão insolvíveis, esquece os prejuízos sofridos e segue adiante.

Protege o próprio lar contra a perturbação e a desarmonia, mas, se a tua ação não surte efeito, aceita a casa em que vives por tua escola de regeneração e amor.

Educa o parente difícil como puderes, entretanto, se esse mesmo familiar prossegue difícil, abraça-o tal qual é, para que aprendas tolerância e humildade.

Rebeldia complica os melhores planos da vida. Revolta é atraso lastimável em qualquer organização.

Acolhe as tuas dificuldades quando não consigas extingui-las, sanando-as, pouco a pouco, sob o esforço de tua energia serena.

Não fujas à luta que a vida te propõe, na intimidade de ti mesmo e, atendendo ao trabalho do dia a dia, a fim de superá-la, conserva a certeza de que é pelas tuas próprias prestações de serviço ao bem comum que a benção da vitória te marcará”.

Que esse exercício nos propicie aceitar com um pouquinho mais de naturalidade as vicissitudes da vida e, ao longo do tempo, que aprendamos o significado de resignação.

Ótima semana!


Semana 11

Resignação: elemento essencial para aproveitarmos com mais eficácia a grandiosa oportunidade da reencarnação.

Uma das mais lastimáveis constatações do Espírito, após o término de um período reencarnatório, é o tempo perdido com tantas futilidades e conflitos, levando-o à conclusão que não priorizou a única razão do processo de permanência na carne: evoluir.

Resignar-se, ou seja, aceitar e enfrentar com muita fé, serenidade, segurança e esperança as dificuldades e dores que frequentemente nos assolam é fundamental para que aprendamos e superemos deficiências e imperfeições enraizadas na mente há muitíssimo tempo. Tempo esse, que transcende os limites de várias encarnações.

Normalmente, o ser humano se sente infeliz diante das vicissitudes da vida, mas, se despertasse a consciência, interpretaria a felicidade sob outro prisma.

Analisemos o pensamento de Erich Fromm: “A felicidade é a aceitação corajosa da vida.

Essa frase é extremamente profunda! Todavia, só pode ser compreendida por aqueles que entendem o que é a vida e quais os objetivos da pluralidade das existências e da reencarnação, que Allan Kardec nos ensinou tão bem.

É um grande desafio sentir-se feliz, enfrentando dores atrozes. Entretanto, comecemos a exercitar a aceitação a partir das pequenas coisas. Evolução é assim, lenta e gradativa. Muitas etapas devem ser transpostas, pacientemente e com muita força de vontade.

“Não existe nenhuma fórmula para o sucesso, exceto, talvez, pela aceitação incondicional da vida e do que ela traz” (Arthur Rubinstein).

Qual o verdadeiro sucesso? Concluir, ao desencarnarmos, que aproveitamos, com alto grau de eficácia, a maravilhosa oportunidade da reencarnação para galgarmos alguns degraus na longa escala evolutiva do Espírito. Mas, alto grau de eficácia da evolução espiritual em planetas de provas e expiações é raríssimo. Por que? Pelo desconhecimento de grande parte dos seres humanos a respeito das leis que regem o Universo sob a ótica espiritual. Pensemos nisso!



Semana 12

Seguindo a discussão do tema “Aceitação”, já abordado nas semanas 10 e 11, leiamos mais um pensamento a respeito:

A aceitação, muitas vezes, é como um remédio ruim de se tomar, mas quando tomamos, sabemos que vai sarar o mal em nós” (Belkis Braz).

Precisamos nos aprofundar nas reflexões sobre a DOR, de qualquer natureza. Enquanto não houver a conscientização de que ela é o principal elemento no processo de drenagem das energias negativas que armazenamos no períspirito ao longo de muitíssimas encarnações, realmente será difícil sairmos da mesmice, da estagnação espiritual. São estas energias as causadoras de todos os males que nos acometem, da grande maioria das doenças físicas e emocionais (90%, segundo Bezerra de Menezes).

Então, aprender a ACEITAR, com paciência, serenidade, resignação e fé raciocinada, todas as dificuldades que surgem em nosso caminho, representa acelerar a higienização perispiritual das impurezas magnéticas acumuladas ao longo de muitos séculos de armazenamento de mágoas, raiva, rancor, ódio e prática de atos totalmente contrários aos ensinamentos morais evangélicos. Mesmo que aprendamos a aceitar, a paciência é essencial, pois a drenagem é muito demorada; afinal por quanto tempo procedemos ao armazenamento desse agente causal magnético?

Não haveria uma maneira de acelerar mais ainda a eliminação desta nefasta energia? Sim: a prática da caridade, da forma mais intensa possível. “Fora da caridade não há salvação” (Allan Kardec), que significa que sem o exercício da caridade a evolução espiritual não acontece.

Grande abraço a todos os amigos! Ótima semana de trabalho, de convivência fraterna, de lazer, e de reflexões cada vez mais profundas a respeito das verdades que envolvem nossas vidas.


Semana 13

Continuamos a abordar o tema ACEITAÇÃO, por ser essencial ao bom aproveitamento da maravilhosa oportunidade do processo reencarnatório, já que é certo que nosso desempenho ainda é pífio. E isso acontece pela deficiência que temos em compreender o que é a Vida, e o seu porquê. Priorizamos o que não deveria ser priorizado e nos esquecemos da essência, que é a evolução espiritual; é sempre importante repetir. A seguir, mais um pensamento sobre a aceitação.

“A aceitação da dor é o primeiro passo para suportá-la, caso contrário, o pessimismo, a impaciência e a intolerância, poderão transformá-la num fardo além de suas forças” (Ivan Teoriland).

Ou seja, as dores, independentemente de seus efeitos e natureza, são difíceis de serem enfrentadas; pungentes, angustiantes. Entretanto, a não aceitação, faz com que sejam potencializadas, piorando significativamente a situação. Precisamos nos alertar em relação a isso e nos vigiarmos para não esmorecermos diante dos infortúnios, fato que levaria a um estado profundamente deprimente, que apenas contribuiria para o agravamento da dor.

“A aceitação é uma benção, que dissipa as inseguranças, extingue os medos e nos abastece de esperanças” (Angela G. A. Beirão).

As inseguranças e os medos dominam corações e mentes da grande maioria da Humanidade. Decorrem, basicamente, do fato de apenas aceitarmos o que julgamos melhor para nós; ou seja, aquilo que atende nossos sentimentos egóicos. Então, aceitar significa confiar nas Leis Naturais Superiores; ter convicção de que somos responsáveis por tudo aquilo que acontece em nossas vidas; que não existe o castigo Divino. Aceitar é estar munido da fé raciocinada, a fé que nos faz sair do mundo das ilusões, das fantasias, das crenças cegas. A consequência desse processo é a definitiva eliminação das inseguranças e dos medos; é abraçar a felicidade, outrora utópica, quando ainda embasada mais pelas questões materiais que espirituais.

Boa semana, ótimas reflexões! Grande abraço a todos os amigos!


Semana 14

Encerrando nossa análise sobre a ACEITAÇÃO das dificuldades que permeiam nossas vidas, apresento o pensamento de Brahma Kumaris:

“Aceitar que somos eternamente diferentes é o primeiro passo para construir a unidade. Harmonia entre iguais é tarefa fácil, entre opostos, um desafio. Opiniões diferentes podem criar discórdia ou enriquecer o produto final; depende da visão e do nível de altruísmo. Sustentar a unidade é apreciar o valor do conjunto e a singular contribuição de cada um, permanecendo leal, não apenas uns com os outros, mas também à meta estabelecida”.

Somos seres sociais, sentimos necessidade de viver em sociedade, mas, esse comportamento, inerente a todos os animais, representa um grande desafio. Uma sociedade qualquer (desde a família até uma Nação) é um conjunto de diferentes; portanto, o risco de conflito se faz sempre presente. 

Não existe no Universo nenhum espírito igual ao outro. As diferenças são essenciais para que aprendamos a conviver harmonicamente, através do exercício constante da compreensão, paciência, tolerância, compaixão, resignação…

Precisamos entender que somos espíritos em processo de evolução moral; logo, estamos muitíssimo distantes da perfeição. Então, se não sou perfeito, por que exijo que o próximo seja?

Em sã consciência, concordaremos que essa reação normal de todo ser humano não tem nexo. Quando interiorizarmos essa realidade, certamente iniciaremos uma fase de minimização gradativa dos conflitos. Serenamente, pensaremos um pouco melhor antes de agir ou reagir diante dos comportamentos inadequados dos companheiros de jornada.

Aos poucos, aprenderemos a ACEITAR o próximo como ele ESTÁ. Escrevi ESTÁ porque ninguém É causador de conflitos. Todos nós SOMOS AMOR PLENO, mas ainda ESTAMOS, por livre-arbítrio, envoltos pelos sentimentos egóicos.

O mal não existe; o mal é a ausência do bem. Procuremos nos aceitar e a aceitar nossos irmãos. Que nossas intervenções possam sempre ser balizadas por um processo educacional que contribua para a transformação espiritual daqueles que convivem conosco, com muito amor, mesmo que a recíproca não seja verdadeira.

Paz e Luz aos queridos Irmãos! Excelente semana!


Semana 15

Em nossas publicações de números 10 a 14, ressaltamos a fundamental importância da ACEITAÇÃO dos reveses que frequentemente cruzam nosso caminho. A partir de hoje, veremos como a aceitação pode contribuir com a gradativa redução da carga carmica, entendendo que o carma nada mais é do que o estoque de energia negativa que armazenamos no períspirito ao longo das incontáveis encarnações e que precisa, logicamente, ser drenado; pelo amor e/ou pela dor. A essa drenagem damos o nome de evolução espiritual.

A morte do corpo físico não elimina o negativismo que acumulamos desde os mais remotos tempos, porque ele apenas sofre as consequências dos graves erros que cometemos, mas, as informações estarão gravadas no corpo perispiritual, até que decidamos eliminá-las pelo instrumento do amor ao próximo e a nós mesmos.

Faremos então, sob esse prisma, uma análise da origem das doenças que nos acometem, iniciando por um pensamento do médico e físico alemão (desencarnado) Joseph Gleber:

“Qualquer estado de desarmonia interior abre campo para energias desequilibradas. A aura reflete intensamente os conteúdos emocionais, causando perda sensível de fluido vital”.

A falta de equilíbrio e harmonia interiores, em diferentes graus de intensidade, é uma constante na realidade cotidiana dos seres humanos. Cada pensamento, palavra ou obra, antagônicos ao amor, somam-se ao já imensurável estoque de energia negativa do períspirito.

Entendamos que somos espíritos imortais, originados simples e ignorantes, dotados de um períspirito também imortal, que se sutiliza à medida que evoluímos. Por isso, ele é capaz de absorver e manter as energias, boas ou ruins, que produzimos na mente ao longo do tempo infinito. Como estamos ainda numa fase bastante incipiente do processo evolutivo, geramos muito mais lixo mental do que energias de amor.

Esse lixo é então devidamente acondicionado no corpo astral (períspirito), repercutindo negativamente no Ser como um todo. Essa repercussão, quando considerado o corpo físico, se dá na forma de enfermidades.

O médico espiritual Bezerra de Menezes assegura que 90% das doenças que acometem a Humanidade são de origem espiritual. (Continua na próxima semana).

Excelente semana a todos!


Semana 16

Todo efeito tem uma causa. Quando a enfermidade se manifesta temos o efeito, sobre o qual se debruça a medicina e áreas correlatas, no sentido de debelar o mal. O avanço científico nas áreas da saúde tem propiciado elevada eficácia na recuperação dos enfermos.

Mas, considerando-se que a causa, na grande maioria dos casos, é espiritual, conforme afirmou Bezerra de Menezes, as enfermidades físicas e emocionais tendem a instalar-se novamente.

A criação da Associação Médico-Espírita, em 1995, congregando os profissionais da saúde também estudiosos do pilar científico do Espiritismo, propiciou um avanço no entendimento da influência espiritual na gênese das enfermidades físicas e emocionais.

Apresentarei a seguir, palavras do médico cirurgião Paulo Cesar Fructuoso, constantes de sua obra “A Face Oculta da Medicina”. Desde 1978 ele estuda os fenômenos mediúnicos, no Grupo Kardecista Lar de Frei Luiz, no Rio de Janeiro.

“Muitas doenças que acometem o ser humano teriam sua origem no períspirito. Seriam o resultado de condutas equivocadas, conscientemente praticadas em vidas pregressas e que, de algum modo, acabam por provocar desarranjos na delicada trama fluídica perispiritual, alcançando, por meio desta, o corpo físico.

Nesse raciocínio, o conjunto de genes responsáveis pela estruturação das proteínas que compõem nosso organismo, captaria essas informações desarmônicas incrustradas no períspirito, extravasando-as ao nosso corpo sob a forma de doenças genéticas congênitas ou adquiridas.

Essas enfermidades são determinadas pela produção de proteínas defeituosas geradas por genes anômalos.

Até agora, a Ciência só aceita as alterações gênicas (mutações cromossomiais) como ocorrências espontâneas casuais ou ocasionadas por fatores extrínsecos, como radiações ionizantes, produtos químicos do tabaco, viroses, etc…

Algumas correntes admitem ainda fatores intrínsecos, como o estresse emocional, capaz de deprimir nosso sistema imunológico.

A filosofia e a ciência espíritas vêm apontar outro fator: as anomalias perispirituais alocadas nesse envoltório fluídico por nossas ações, pensamentos e palavras com potencial maléfico, seja nas existências passadas, seja na atual”. Continuaremos na próxima semana.

Bom estudo e ótima semana a todos os amigos!


Semana 17

Em continuação à questão da origem espiritual das enfermidades que acometem os seres humanos, abordada na semana 16, prosseguiremos a transcrição do relato do médico espírita Paulo Cesar Fructuoso (sugerimos que leiam o texto da semana passada).

“Por esse prisma podemos considerar toda a Humanidade enferma e a Terra, um imenso hospital.

Seríamos todos nós doentes mais ou menos graves, trazendo enfermidades com manifestações clínicas evidentes, ou sub clínicas e assintomáticas, geradas por nós próprios, já existentes como germes nos subterrâneos do nosso ser, no revestimento altamente energético dos espíritos, e prontos para danificar a tenuíssima fita de DNA de nossas células materiais, fazendo aflorar no corpo físico as mais diversas doenças.

É no genoma que repercutem as mazelas acumuladas há milênios em nossos períspiritos, e cada enfermidade, genética ou não, é o resultado fiel do mal que semeamos no próximo ou em nós próprios quando adotamos comportamentos viciosos e desrespeitosos com nosso corpo físico, o Templo do Espírito.

Sendo o períspirito, o foco primordial de muitas enfermidades, se fosse possível reequilibra-lo, muitos males do espírito poderiam ser aliviados sem, no entanto, ter-se a certeza da cura material completa do organismo.

Esta pode ou não acontecer, entrando em jogo inúmeros fatores a serem equacionados, como o tempo de curso da enfermidade física, a forma como aceitamos a prova da doença, a quantidade de fluídos residuais do períspirito a serem ainda drenados para o corpo físico e, acima de tudo, o nosso merecimento.

“A cura real e definitiva de qualquer enfermidade só se concretizará depois da completa limpeza dos venenos acumulados na veste perispiritual, ou quando o ser humano se entregar definitivamente à observância cotidiana dos princípios terapêuticos estabelecidos pelo Médico Divino, Jesus” (Ramatis).

À medida que formos nos despojando de tudo aquilo que nos aprisiona à matéria, como o orgulho, a vaidade, o egoísmo e a avareza, de maneira simultânea vamos aperfeiçoando o envoltório perispiritual e despertando suas propriedades intrínsecas capazes de evitar as sutis deformações desencadeadoras das inúmeras enfermidades que eclodem no corpo carnal”.

Ótima semana a todos!


Semana 18

Verificamos na publicação da semana passada, por intermédio das palavras do médico Paulo Cesar Fructuoso, que a maioria das enfermidades são frutos de nossos pensamentos, palavras e obras que fujam dos princípios morais evangélicos. Ou seja, Deus não criou o mal, de qualquer natureza; ele é uma opção nossa, já que o livre-arbítrio é uma realidade incontestável, sem exceções à regra.

Todas as adversidades que enfrentamos na vida são instrumentos pedagógicos para que despertemos e busquemos a diminuição gradativa dos sentimentos de desamor, a fórmula natural para que se verifique a evolução espiritual.

 Precisamos assumir a responsabilidade pelos erros praticados, nessa e em encarnações passadas, aceitando os desafios, os obstáculos e as dores; deixando com isso de considerar o inexistente castigo Divino. O Universo é um Todo, regido por leis naturais. Não existem castigos nem privilégios, a ninguém, absolutamente ninguém.

O baixo grau de evolução espiritual da Humanidade terrena pressupõe que nossas mentes produzam elevadíssima quantidade de lixo mental, com as mais variadas composições, que se transforma imediatamente em energia negativa, absorvida e armazenada no perispírito.

O perispírito, também conhecido por corpo espiritual, corpo astral ou modelo organizador biológico, dentre outras denominações, acompanha o Espírito desde sua origem, detendo todas as informações, experiências, sentimentos, emoções, ao longo de toda nossa vida espiritual, estejamos encarnados ou desencarnados. Afinal, somos, verdadeiramente, espíritos eternos.

A energia negativa precisa ser drenada, e essa drenagem pode ocorrer de duas formas: pelo amor ao próximo (caridade), e/ou pelas dores de todas as naturezas, dentre elas, as doenças físicas e emocionais.

Portanto, a completa eliminação das enfermidades que nos acometem, passa por uma profunda reforma intima. O grande desafio é aprender a amar, tendo o comportamento de Jesus, e de tantos outros Mestres, como nossas referências.

Muita paz e luz; sempre! Excelente semana!


Semana 19

Em continuação às abordagens sobre a origem das enfermidades, transcreverei a seguir, parte da entrevista do médico espírita Ricardo Di Bernardi, à Revista Internacional de Espiritismo (março-2016, página 78).


1 – As aberrações físicas são decorrentes de problemas genéticos ou espirituais?

O mecanismo hereditário está intimamente ligado à reencarnação e vice-versa, não podem ser estudados como conhecimentos paralelos.

Toda a genética que está em nível bioquímico está sujeita às leis da dimensão energética, ou seja, astral.

Toda característica e problema físicos são determinados por genes, que são moléculas de DNA, altamente especializadas, energeticamente diferenciadas, que estabelecem a ponte natural de intercâmbio com as energias do Espírito.

As aberrações físicas, portanto, são produzidas por genes que exteriorizam anomalias da estrutura do períspirito.

2 – Qual o mecanismo de exteriorização de um problema espiritual para o corpo biológico?

A entidade espiritual portadora de graves deformidades no seu períspirito, ao ser preparada para reencarnar, é conectada por mentores espirituais ao campo energético da futura mãe.

A presença deste campo energético ocasiona, automaticamente, a liberação de um óvulo cujos genes têm a vibração correspondente ao problema do períspirito.

Posteriormente, no momento da fecundação, o Espírito, inconscientemente ligado ao óvulo, atrai magneticamente um espermatozoide cujo padrão genético é compatível com sua situação.

3 – O que pensar da aberração física como uma punição ou castigo divino?

Seria demonstrar falta de conhecimento da Lei de Causa e Efeito. Essa concepção de um Deus punitivo não cabe no dicionário do estudioso espírita.

Agindo livremente, colhemos hoje o que plantamos ontem; assim, não se trata de punição, mas de consequência natural.

4 – Qual a finalidade ou proveito que tem um Espírito ao reencarnar em um corpo com graves deformações?

Drenagem de energias, oportunidade de cura, libertação das lesões ou dos campos energéticos desestruturados do períspirito.

5 – De que maneira a persistência de pensamentos de baixo teor vibratório determinam alterações anatômicas no períspirito?

O pensamento gera energias que permanecem com quem as produz. O períspirito é composto de moléculas que poderíamos, por analogia, comparar com os gases, portanto, são facilmente moldáveis.

Assim, a mobilização constante de energias mentais de baixo teor vibratório movimentam as moléculas do períspirito que passam a se estruturar de maneira desorganizada, deformando a sua aparência”.

Pudemos observar, pelas explicações acima que, realmente, somos os únicos responsáveis por nossas colheitas. Lembro, uma vez mais, que nossos problemas decorrem da energia negativa produzida pela mente desviada dos preceitos morais evangélicos. Essa energia nociva é acumulada no períspirito ao longo de nossas existências. Portanto, colhemos hoje aquilo que semeamos nessa e em encarnações passadas. Não nos esqueçamos, que além das enfermidades de todas as naturezas, a prática da caridade (amor ao próximo) é a outra opção para a drenagem das energias geradas pelos sentimentos egóicos.

Finalizarei com um pensamento de Joseph Gleber: 

 “O futuro pertence ao espírito, e as diversas terapias que proliferam neste início de milênio e de uma nova era, serão irrigadas com o sopro renovador dos imortais que tudo dirigem, objetivando levar o homem a descobrir seu verdadeiro papel na Humanidade e integrá-lo ao conhecimento de si, para a sua plenificação como filho de Deus”.